sexta-feira, 28 de junho de 2013

Gilberto Gil, Aquele Abraço

Músico e político baiano completa 71 Anos neste sábado

*Matéria originalmente publicada no Yahoo! Celebridades.


"Há várias formas de se fazer música brasileira: Gil prefere todas". A frase de Torquato Neto citada no livro Noites Tropicais de Nelson Motta sintetiza em poucas palavras a obra de Gilberto Gil, músico baiano que completa 71 anos no dia 29 de junho. Como um dos compositores mais reverenciados e regravados da MPB (Música Popular Brasileira), Gil contabiliza mais de 50 álbuns lançados desde 1967, mas sua importância não se limita apenas à música. Gilberto Gil também participa de movimentos sociais e políticos para fomentar a cultura, além de sempre se manter antenado com as novas possibilidades da interação digital.

Nascido no bairro do Tororó, em Salvador, Gilberto Passos Gil Moreira começou na música tocando acordeon na academia do colégio Maristas, influenciado pela música de Luiz Gonzaga . Ao ganhar um violão da mãe Claudina, Gil também passou a se interessar pelo trabalho de João Gilberto . Mal saberia ele que, anos depois, o próprio João Gilberto gravaria uma música sua ("Eu Vim Da Bahia").

Durante o curso de Administração de Empresas na faculdade, Gil fez novas amizades que mostraram importância decisiva em sua vida musical (e também na do Brasil): Caetano Veloso , Maria Bethânia , Gal Costa e Tom Zé . Com os amigos, o compositor realizou sua primeira apresentação, na inauguração do Teatro Vila Velha, em junho de 1964. O contato com parceiros igualmente talentosos fez com que Gil investisse em sua faceta musical, misturando ritmos brasileiros como samba, baião e xaxado com elementos de música africana, norte-americana e reggae jamaicano.

Em 1965, Gilberto Gil fez sua primeira apresentação em São Paulo, cantando a música "Iemanjá", no V Festival da Balança, evento universitário promovido pelo diretório acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie. Mas somente após participar do programa de televisão "O Fino da Bossa" (comandado por Elis Regina), Gil alcançou o sucesso e deixou seu emprego na empresa Gessy Lever. De contrato assinado com a Philips, lançou seu primeiro LP, "Louvação", em 1967. No mesmo ano, o compositor também causou alvoroço ao apresentar a canção "Domingo no Parque" ao lado d'Os Mutantes no III Festival de Música da Record; estava ali representada na TV a semente do Tropicalismo.

Junto com Caetano Veloso, Torquato Neto, Tom Zé, Rogério Duprat e outros, Gil participou do manifesto tropicalista, movimento que assimilou a cultura pop aos gêneros nacionais. Profundamente crítico nos níveis políticos e morais, o Tropicalismo abriu portas para uma nova etapa na música popular do país, mas também causou polêmica. Em 1969, Gil e Caetano foram taxados de "subversivos" pelo regime militar que se iniciou no Brasil em 1964. Depois de serem presos pela polícia, partiram para o exílio na Inglaterra.

Enquanto morou em Londres, Gil lançou um álbum em inglês e saiu em turnê pelos Estados Unidos. Neste período, Gil foi também o único latino a participar do Festival da Ilha de Wight, em 1970, representando a Tropicália, ao lado dos maiores astros do rock mundial da época, como The Who, Jimi Hendrix, Emerson, Lake and Palmer e The Doors. Ao retornar ao Brasil em 1975, Gil formou com Caetano, Bethânia e Gal o grupo Doces Bárbaros , promovendo uma fusão da cultura hippie com brasilidade e o regionalismo baiano. O disco ao vivo do grupo é considerado uma obra-prima da MPB.

Nos anos 80, Gil continuou engajado: participou no coro da versão brasileira de "We Are the World" - o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa - e marcou presença em Nordeste Já - projeto que abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes em um compacto simples com as canções "Chega de Mágoa" e "Seca d'Água". O músico ainda lançou uma versão em português do reggae "No Woman, No Cry" ("Não Chores Mais") clássico de Bob Marley.


Multitarefa contemporâneo

Em 1989, Gil elegeu-se vereador em Salvador pelo PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Mais tarde, em março de 1990, filiou-se ao PV (Partido Verde), como membro da Comissão Nacional Executiva. Mas sua face política ganhou mais destaque em 2003, quando o então presidente Luís Inácio Lula da Silva nomeou-o para o cargo de ministro da Cultura. Gil permaneceu no cargo de ministro por cinco anos e meio, mas deixou o ministério em julho de 2008 para voltar a dedicar-se com maior exclusividade à vida artística.

Além de sua extensa discografia e de compor para diversos artistas - como Elis Regina, Simone, Gal Costa e Cazuza - a carreira de Gil rendeu frutos internacionalmente reconhecidos, como um Grammy na categoria Melhor Disco de World Music em 1998 e três Grammy Latino (um em 2003 e dois em 2010).

Mesmo com uma obra consolidada, o cantor não se fechou às tendências contemporâneas: durante seu mandato como Ministro da Cultura, Gil foi um grande divulgador do Creative Commons (organização americana não governamental sem fins lucrativos voltada a expandir a quantidade de obras criativas através de licenças que permitem a cópia e compartilhamento sem restrições). Além disso, o artista disponibilizou um aplicativo gratuito para iPhone e iPad com uma espécie de versão pocket de seu site oficial, permitindo o streaming de todas as faixas de sua discografia, acesso a fotos, letras das músicas e vídeos.

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