terça-feira, 19 de junho de 2012

Down, Sleep, Saint Vitus, Church of Misery, Witch Mountain e Atlas Moth no Scion Rock Fest, em Tampa

*Matéria originalmente publicada no site Tenho Mais Discos Que Amigos.


Imagine um festival de metal com 26 bandas espalhadas entre quatro casas de shows a poucos quarteirões de distância. Agora, adicione mais um importante detalhe: totalmente gratuito. Esse foi o Scion Rock Fest 2012, que aconteceu no dia 2 de junho, em Tampa (Flórida). Uma iniciativa da Scion Audio/Visual – um dos braços da esperta divisão de marketing da multinacional automobilística Toyota Motor Corporation – , a quarta edição do festival reuniu grandes nomes da cena metálica como Down, Exodus, Repulsion, Origin, Suffocation, bandas influentes como Sleep e Saint Vitus e mais novas que têm chamado atenção, como Atlas Moth, Witch Mountain e All Pigs Must Die.

Como não seria possível conferir todas as atrações espalhadas pelos quatro palcos, preferi dar prioridade às bandas que tocariam no Ritz Ybor: Atlas Moth, Witch Mountain, Church of Misery, Saint Vitus, Sleep e Down – todas geralmente associadas aos rótulos sludge, stoner e doom. Considerando a massa de pessoas acumulada na porta antes da abertura da casa, não dava pra pensar duas vezes e o melhor era pegar seu lugar na fila sem pestanejar. Apesar do frenesi acerca do início do festival, a entrada no Ritz Ybor foi tranquila e sem problemas com seguranças.


Atlas Moth


O Atlas Moth subiu no palco com a complicada tarefa de iniciar os trabalhos do dia. A banda sofreu um pouco com um som mal equalizado; os vocais de Stavros Giannopoulos e os teclados ocasionais do guitarrista Andrew Ragin ficaram em segundo plano no começo do show, provavelmente por conta do peso do ataque de três guitarras (sendo uma delas barítono). Mas, ao longo da performance, os problemas foram sanados e o Atlas Moth pôde mostrar um peso suingado em "Perpetual Generations" e os detalhes melódicos de "Your Calm Waters" com perfeição.


Witch Mountain


O Witch Mountain veio em seguida, capitaneado pela carismática e afinada vocalista Uta Plotkin. O guitarrista Rob Wrong fazia jus à sua tatuagem de Jimi Hendrix no braço esquerdo, destilando solos que alternavam modulações psicodélicas em seu pedal wah-wah com o peso característico do doom metal. O baixista Neal Munson também desempenhava suas funções com maestria, mantendo as bases nas linhas de baixo enquanto Wrong tinha seus momentos de virtuose.

O elo mais fraco da banda parecia ser o baterista Nate Carson, que optava por ritmos simples e se mostrava um pouco perdido em músicas com andamento mais acelerado. Ainda assim, sua técnica limitada não comprometeu petardos como "Beekeeper" e "Wing of the Lord", e o Witch Mountain saiu ovacionado do palco.



Church Of Misery


Envoltos por uma atmosfera setentista, os japoneses do Church of Misery apareceram para fazer uma zoeira dos diabos. O vocalista Hideki Fukasawa e o guitarrista Tom Sutton pareciam ter saído de uma banda tributo ao Led Zeppelin, vestidos com calças boca de sino e investindo numa presença de palco que mesclava aparência hippie com gritos guturais narrando temas sobre serial killers. A multidão respondia às doses cavalares de riffs pesados com um fluxo constante de pogos e crowd surfing.

Com um cenário desses, não demorou muito para que Hideki se jogasse na plateia. Como um verdadeiro showman, o vocalista incitou a reação cada vez mais violenta do público, caiu várias vezes do palco, mas continuou cantando como se nada tivesse acontecido. Enquanto isso, o baixista Tatsu Mikami se mantinha à esquerda do palco com seu baixo Rickenbacker na altura dos joelhos, solando com um wah wah na tradição sabbathiana de Geezer Butler no clássico "N.I.B.".



Saint Vitus


Parecia difícil para os veteranos do Saint Vitus superar a anarquia empreendida pelo Church of Misery. A banda do guitarrista Dave Chandler e do baixista Mark Adams não possui um grau alto de primor técnico; seu som básico, arrastado e repetitivo poderia ser facilmente comparado a um Ramones tocando Black Sabbath.

Mas isso conferiu um forte status cult ao grupo, sendo creditado como um dos precursores do Doom Metal. Apesar de ter iniciado seu show de maneira tímida – contrastando diretamente com os excessos mostrados pela banda anterior – o Saint Vitus garantiu a empolgação dos membros do Down nos cantos do palco, que cantavam as canções a plenos pulmões, contagiando a plateia. Passando por alguns problemas técnicos com sua guitarra, Chandler ficou visivelmente nervoso, e se isso seria motivo para estragar o show, mas o efeito foi justamente o inverso.

O guitarrista ficou cada vez mais possesso durante as execuções das músicas e o jogo virou para o Saint Vitus, com "Look Behind You" e "Windowpaine" ganhando versões aceleradas próprias para o mosh pit. O vocalista Scott Weinrich permanecia quase impassível a tudo isso e limitava-se a fazer cara de durão e cantar, escorado no pedestal do microfone no centro do palco. Mas Chandler dava um show à parte; no final de "Born Too Late", o guitarrista desceu do palco e foi até o público, colocando a guitarra à disposição de quem quisesse fazer barulho.



Sleep


Logo após o fim do show do Saint Vitus, uma grande massa de pessoas começou a tomar o Ritz Ybor para ver o show do Sleep. Considerado um dos grandes nomes do chamado stoner metal, o trio é formado atualmente por Al Cisneros (baixo e vocal), Matt Pike (guitarra) e Jason Roeder (bateria). Quando Pike apareceu no palco explorando as reverberações de sua guitarra distorcida, o público assistia a tudo de boca aberta. Assim que os riffs de "Dopesmoker" começaram a ser dedilhados, focos de fumaça brotavam de vários cantos da plateia.

Quando Cisneros e Roeder se juntaram ao guitarrista na execução do épico stoner de quase uma hora de duração, a multidão passou a responder com crowd surfings cada vez mais intensos, dando ainda mais trabalho aos seguranças da casa que o show do Church of Misery. Os três músicos mal olhavam para o que acontecia fora do palco, perdidos entre a combinação de notas graves sustentadas até o limite do suportável por Pike (que mais parecia um chefe índio no palco, iluminado pela luz vermelha intensa), amparada por um baixo pulsante e uma bateria lenta e quebrada.

Quem não estava preocupado em pogar com o restante da plateia, estava em transe com as reverberações que emanavam dos amplificadores Orange. No fim do show, Phil Anselmo (vocalista do Down) saiu de seu esconderijo ao lado da bateria e apareceu no palco com um bolo de aniversário, fazendo o público cantar parabéns para Matt Pike.



Down


Escalados para fechar a noite, o Down já sairia ovacionado do Ritz Ybor até mesmo se resolvesse focar seu set list em um repertório duvidoso como pagodes clássicos dos anos 90. Egressos de grandes bandas metaleiras como Pantera, Crowbar, Corrosion of Conformity e EyeHateGod, Phil Anselmo, Pepper Keenan, Kirk Windstein, Pat Bruders e Jimmy Bower surgiram no palco apresentados por Dave Chandler (Saint Vitus) emendando uma introdução barulhenta com "Lysergik Funeral Procession".

Alternando momentos de puro peso com conversas descompromissadas e recheadas de palavrões com o público, Anselmo parecia seguir à risca os dizeres 'Classic, not classy', estampado nas costas de sua camiseta surrada, que também trazia o logo de sua gravadora independente (Housecore Records). O set list não foi muito diferente do apresentado no show do SWU em Paulínia, no ano passado: grande parte do repertório era de faixas do célebre primeiro disco, NOLA, com exceção de algumas canções do segundo álbum, A Bustle in Your Hedgerow, e uma composição ainda inédita: "The Misfortune Teller", devidamente bem-recebida pelos fãs durante o bis.


Se o bolo-surpresa no fim do set do Sleep entregava o clima de camaradagem entre as bandas, ele foi escancarado durante o final da apresentação do Down. Enquanto finalizava "Bury Me in Smoke", Anselmo e companhia convidaram os membros e roadies das bandas que assistiam ao concerto dos bastidores para assumir os instrumentos, trocando de posições aos poucos e sem deixar a música parar. À medida que a canção era esticada para além de dez minutos, era possível ver membros do Down, Atlas Moth, Origin, Saint Vitus, Church of Misery e Sleep confraternizando no palco, envoltos em puro barulho. Um belo desfecho porrada para um festival caracterizado pela celebração do som pesado.



Mais vídeos do Scion Rock Fest aqui.

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