quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

PJ Harvey mostra faceta politizada em Let England Shake

*Resenha originalmente publicada no Urbanaque.



Em seu novo álbum, PJ Harvey segue a mesma linha desnorteadora de seus últimos registros, marcada por não sequenciar a essência de um trabalho ao outro. Depois de Stories From the City, Stories From the Sea (2002), a cantora parece ter buscado sons cada vez mais introspectivos. Uh Huh Her (2004), por exemplo, apresentava poucas canções radiofônicas e já não seguia as características de seu antecessor agraciado por público e crítica. Esse direcionamento (ou a falta de) culminou em White Chalk (2009), seu trabalho mais inusitado até então, quando a imagem de femme fatale do rock alternativo deu lugar a uma musa recatada, com ares vitorianos fantasmagóricos apresentando arranjos melancólicos com pianos e harpas.

Com seu oitavo álbum, Harvey mais uma vez surpreende com uma obra distinta, a começar pelos seus recursos. Metade das canções de Let England Shake foi composta em uma auto-harpa (um instrumento de corda parecido com uma cítara) e Polly Jean buscou cantar em tons mais altos, deixando para trás as comparações vocais com Patti Smith que surgiram na época de seus primeiros discos. Além disso, a cantora passou dois anos maturando as letras , que resultou em temas mais políticos e menos direcionadas a experiências autobiográficas.

Grande parte do conteúdo é baseado na história da Inglaterra, abordando em pelo menos três canções a Campanha de Galípoli, guerra que dizimou a maioria dos exércitos da Austrália e Nova Zelândia. O trabalho foi gravado quase que inteiramente ao vivo em uma igreja do século XIX de Dorset, sudoeste da Inglaterra, e talvez por isso seja permeado por uma atmosfera carregada de reverberações e timbres incomuns.

A faixa-título foi originalmente baseada na música "Istambul (Not Constantinople)", do Four Lads – um quarteto de cantores dos anos 50. A interpretação de PJ adiciona pitadas de caos à canção original, com as estrofes apontando a tônica do disco: letras fortes que dissertam sobre aspectos da guerra, mas equilibradas pelas melodias e instrumentos. Para se ter uma ideia, "Written On The Forehead" contém versos sobre uma paisagem destroçada pelas tropas, mas a harmonia da guitarra chega a flertar com nuances leves do reggae. A gravação ainda contém um sampler discreto de "Blood & Fire" do produtor e cantor jamaicano Niney The Observer e seus timbres são os mais caprichados do álbum.

"The Last Living Rose", "The Words That Maketh Murder" são as canções que podem ser assimiladas na primeira audição, por serem mais simples e diretas. Logo no início de "Rose" Polly Jean exclama "malditos europeus", marcando o verso com uma guitarra abafada que periga culminar em um arranjo mais roqueiro, mas que dá lugar à participação de um saxofone. Já "Words That Maketh Murder" mantém uma melodia que acaba grudando na cabeça, justificando a escolha como primeiro single do álbum.

Com frases como "nossa terra é arada por tanques e pés marchando", "e o que é o fruto de nossa terra? Seu fruto são crianças deformadas", "The Glorious Land" pega pesado, para depois entoar ironicamente o refrão "Oh America, Oh Inglaterra", mostrando que a bronca de Harvey não fica restrita à sua terra natal. Segundo a própria cantora, "o disco lida com muitas coisas que estão acontecendo no mundo agora – conflitos, mudanças no poder, na sociedade e nas relações entre os países".

Alguns momentos do disco são mais tortuosos, como "England, uma canção de não-amor ao país, e a soturna "Hanging In The Wire", que não acrescenta muito ao conjunto. "All And Everyone" já inicia com uma guitarra arrastada, carregada de eco e acompanhada por um órgão sinistro, dando um tom fúnebre. Por outro lado, "In The Dark Places" e "Bitter Branches" chegam a lembrar a simplicidade de Uh Huh Her.

Com Let England Shake, PJ Harvey demonstra que é possível realizar uma obra politizada sem abusar de cabecismos apelativos e mensagens de paz repetitivas. E não importa quantas vezes ainda possa mudar, ela não precisa recorrer ao tradicional esquema de guitarra, baixo e bateria para compor músicas impactantes.


NOTA: 4 Urbs

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Iniciando os trabalhos

Por pura e simples preguiça resolvi não fazer um texto introdutório para o blog desta vez. Resolvi apelar para um registro de uma noite que vai ficar para sempre gravada na minha lembrança como uma das coisas mais fodas que já realizei na minha vida.



PS: Sim, o "CARALHO!" ali é meu.