quarta-feira, 30 de março de 2011

Beady Eye: coletânea de déjà-vus sonoros

*Resenha originalmente publicada no Urbanaque.


Até mesmo o fã mais xiita deve ter consciência que o Oasis nunca fez um trabalho que pudesse ser isento de qualquer comparação com outras bandas. Em seus álbuns, o quinteto inglês sempre promoveu uma amálgama de sons que emulavam os grupos preferidos de seus integrantes. Se era assim com uma das bandas mais influentes do britpop dos anos 90, com o Beady Eye – uma ramificação do Oasis, contando com os guitarristas Gem Archer e Andy Bell, o baterista Chris Sharrock e o vocalista Liam Gallagher – não poderia ser diferente.

Em seu primeiro disco, Different Gear, Still Speeding, a banda abusa dos déjà-vus sonoros. Em "The Roller", por exemplo, a cadência dos versos puxados por piano e violão que acompanham a voz de Liam, carregada de eco de retorno, aponta uma semelhança gritante com “Instant Karma!” de John Lennon. “Wind Up Dream” tem guitarras com slide que pagam tributo ao que os Rolling Stones fazem desde “Gimme Shelter”, com direito até uma participação discreta de uma gaita aqui e ali. O teclado hipnótico “Kill for a Dream” remete descaradamente ao mesmo timbre utilizado pelo Pink Floyd em “Chapter 24”, e como se não bastasse, “Beatles And Stones” também chega a lembrar algo de “My Generation” do The Who.

Desconsiderando estas, hã, ‘homenagens’, o retrato que sobressai na primeira parte do disco é o de um grupo com energia renovada, apresentando rocks competentes calcados no mesmo leque de influências da banda anterior. A sequência inicial de Different Gear é matadora: “Four Letter Word” começa o álbum de maneira pesada, mostrando quase o mesmo frescor que o Oasis tinha em Definitely Maybe. Esta e a já mencionada “Beatles And Stones” são de longe as faixas mais roqueiras que Liam Gallagher já gravou.”Millionaire” segue um ritmo sem pressa, permeada por riffs com slide. E o primeiro single “Bring the Light” mostra algo que o ausente Noel Gallagher nunca explorou no Oasis: um rock sacolejante calcado em um piano frenético.

O problema é que justamente depois dessa sequência o ritmo do disco vai caindo. “For Anyone” tem uma letra bobinha, parece uma canção do Sixpence None The Richer. Seria perfeita com uma voz feminina açucarada, mas com a interpretação de Liam transparece uma ironia quase cínica. A partir disso, o álbum revela faixas com durações exageradas que acabam dispersando a atenção. “Wigwam”, “Three Ring Circus” e “The Morning Son” não passam de composições medianas esticadas além do limite do suportável, puros fillers (músicas que estão ali apenas para preencher a obra). O disco só volta a melhorar durante a balada beatlemaníaca “The Beat Goes On”, mas o tedioso estrago já foi feito.

Se a banda se mostra enérgica nas faixas esporrentas, em contrapartida deixa transparecer a falta que Noel Gallagher faz nas composições mais lentas. O forte de Noel sempre foi compor belas baladas, e quando o Beady Eye tenta escrever composições mais melódicas, acaba testando a paciência do ouvinte. Se em uma entrevista Liam Gallagher afirmou, no alto de sua petulância, que “o Beady Eye tem o melhor vocalista, o melhor guitarrista, o melhor baixista e o melhor baterista”, fica evidente que o grupo ainda precisa achar o melhor compositor.


NOTA: 2 Urbs.