domingo, 22 de julho de 2012

'Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge' costura trilogia no cinema

Excesso de personagens compromete narrativa, mas Christopher Nolan se despede da franquia com méritos.


*Resenha originalmente publicada no Yahoo! OMG!.

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises) é sem dúvida um dos filmes mais esperados do ano. Com estreia prevista no Brasil nesta sexta-feira (27), o último capítulo da saga do herói dos quadrinhos tem direção de Christopher Nolan e desperta ansiedade não somente por ser o desfecho da trama, mas também pela inevitável pergunta: é possível superar o filme anterior, o aclamado O Cavaleiro das Trevas?

Antes de responder a essa questão, é preciso entender o fascínio que os últimos filmes do homem-morcego exercem sobre o público. Nolan assumiu a responsabilidade de dirigir o herói no cinema com Batman Begins (2005), apresentando as origens do mascarado de forma sombria e melancólica, varrendo para baixo do tapete as adaptações anteriores assinadas por Tim Burton e Joel Schumacher, consideradas exageradas (tanto pelo público quanto pela crítica). Em O Cavaleiro das Trevas (2008), a nova franquia alcançou seu auge com um Coringa carismático retratado por Heath Ledger - interpretação que lhe rendeu um Oscar póstumo de Melhor Ator Coadjuvante em 2008.

O trabalho de Ledger como o palhaço psicopata conquistou ainda mais admiradores para a saga de Batman e inspirou reações violentas: em uma pré-estreia de O Cavaleiro das Trevas Ressurge no Colorado, nos Estados Unidos, um atirador matou 12 pessoas e feriu outras 59, afirmando ser o Coringa. Além da tragédia, a repercussão do novo filme fez com que críticos de sites como o Rotten Tomatoes recebessem ameaças de morte - mesmo que o site tenha apontado 87% de aprovação para o filme. Segundo notícia da Folha de São Paulo, assim que opiniões desfavoráveis foram postadas no portal, quase 500 respostas como "morra queimado" e "queria colocá-lo em coma ao bater em você com uma mangueira de borracha" inundaram a página, fazendo com que o editor-chefe do site, Matt Atchity, retirasse a opção de comentários sobre o filme.


Com tantas expectativas pesando em suas costas, Nolan tentou costurar a conclusão da história buscando referências das obras anteriores e com um roteiro abarrotado de personagens: um Batman/Bruce Wayne (Christian Bale) que se manteve recluso em sua mansão por oito anos após os eventos do filme anterior, o vilão musculoso Bane (Tom Hardy), que ameaça a polícia de Gotham City com o discurso revolucionário de entregar o poder às mãos do povo, a ladra profissional Selina Kyle (Anne Hathaway) e o obstinado policial John Blake (Joseph Gordon-Levitt), além da presença do sempre ótimo Michael Cane como Alfred, o eterno apoio de Bruce Wayne.

Indo na contramão de outros blockbusters inspirados em heróis dos quadrinhos, Nolan deixa as cenas de ação em segundo plano, favorecendo os dramas e superações pessoais dos coadjuvantes (não apenas do próprio Batman). Assim, o diretor acaba testando o limite da atenção do público com uma narrativa arrastada e tensa, que se estende por quase três horas.

Bane propositalmente não é um inimigo carismático como o Coringa. Brutal e astuto, o vilão usa uma máscara que faz sua voz soar assustadora e por vezes pouco compreensível, o que causa incômodo e dificulta ainda mais a conexão com o público no início. A Selina Kyle de Anne Hathaway é menos fetichista que a Mulher Gato de Michelle Pfeiffer em Batman - O Retorno (1992), porém, é claro que Nolan não se esqueceu de incluir ângulos de câmera com visões certeiras dos glúteos da atriz - mesma técnica utilizada com Scarlett Johansson em Avengers. De todas as novas personagens, Selina é a que menos ganha espaço para explicação de suas origens e motivos, sendo simplesmente colocada como uma ladra esperta com talentos marciais. Entretanto, nas cenas de ação ela supre - e muito bem - a ausência de um Robin e acaba revelando-se uma peça importante para o desfecho do filme.

Mesmo com o excesso de subtramas que podem não favorecer o ritmo do filme para alguns espectadores, O Cavaleiro das Trevas Ressurge já valeria a pena pelas características tradicionais das obras de Christopher Nolan: a bela fotografia, realçada pela trilha sonora usada em momentos-chave, além de reviravoltas desconcertantes (e outras quase previsíveis) na história. Ainda que o derradeiro capítulo da franquia do morcego não supere o requinte do segundo filme, com certeza não faltarão legiões de fãs para prestigiá-lo.