sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Rappa volta aos palcos depois de pausa de dois anos e ensaia disco novo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O Rappa anunciou a volta aos palcos, depois de um recesso de quase dois anos. O grupo, formado por Marcelo Falcão (voz), Xandão Menezes (guitarra), Lauro Farias (baixo) e Marcelo Lobato (teclados e baterias), está ensaiando para uma turnê de sete shows entre outubro e fevereiro de 2012. A banda pretende excursionar com o show do disco Rappa - Ao Vivo, que lançou no ano passado, e as apresentações servirão de aquecimento para a gravação do próximo álbum, que deve sair somente em 2012.

Falcão e companhia anunciaram a pausa em dezembro de 2009, alegando que não interromperiam os trabalhos com a música e que a pausa seria para o corpo, não para a mente. Neste período, os membros do grupo tocaram seus projetos paralelos: Falcão com os Loucomotivos, Lobato com o ÁfrikaGumbe, Xandão com o Caroçu e Lauro com os Mens.

Meio que para compensar a ausência no cenário da música brasileira, O Rappa lançou em junho do ano passado o DVD O Rappa - Ao Vivo, gravado na Rocinha, no Rio de Janeiro, no dia 23 de agosto de 2009. O registro, que saiu também em formato CD, tem 25 músicas de toda a carreira da banda, incluindo canções do primeiro disco de 1994 até o álbum Sete Vezes, que saiu em 2008.

Em entrevista ao Virgula Música, a banda explica melhor o que rolou de verdade para que fosse planejada essa parada na carreira da banda, como estão os preparativos para o próximo disco e mais. Leia abaixo.

Virgula Música - Vocês anunciaram a pausa nas atividades há quase dois anos. Qual foi o motivo dessa parada?

Falcão: A ideia era que estávamos fazendo a turnê do Sete Vezes e quando já estávamos para completar um ano na estrada, resolvemos fazer o DVD do show na Favela da Rocinha. Mas depois disso, já estávamos cansados. Com todos os discos conseguimos aceitar legal a pressão de cair na estrada. Só que o acúmulo de todas essas experiências juntas acabaria dando uma colisão, um cansaço, um momento de fragilidade. Nossa relação com o empresário na época não estava muito legal e isso desgastou os quatro membros do grupo, tanto que mudamos de representante. Uma vez que fosse feito o DVD da Rocinha, ele ficaria ali para nos representar enquanto déssemos essa parada para respirar. E em 2010, estávamos cheios de coisas para resolver, então nada mais justo do que parar de acelerar. Eu dei um toque no pessoal. "Galera, faltam quatro meses para terminar o ano, vamos marcar show até dia 30 de dezembro e depois cada um vai cuidar da sua parada pessoal e dar um alívio na cara de cada um". Por mais que eu tivesse sonhado a vida toda fazer shows, os últimos estavam bem cansativos e desgastantes. Mas acho que tudo conspirava para que fosse legal essa pausa, esse descanso.

Virgula Música - De onde surgiu a ideia de fazer o DVD na Favela da Rocinha?

Falcão: Teve todo um esquema com a prefeitura pra poder ir pra lá. O lugar era um depósito de ônibus antigo que agora se transformou em duas pistas para a comunidade. Daí a comunidade pediu esse show e agendamos e fizemos. Estávamos exaustos, mas tiramos forças de onde não tinha e fizemos um belo DVD, deixamos esse registro para avisar a essa comunidade que eles seriam conhecidos no mundo. Serviu também para esse pessoal que ainda tem esse 'medo do Rio de Janeiro' ter a oportunidade de ir dentro da Rocinha de uma maneira diferente, com o Rappa junto. Hoje tenho dois lugares maravilhosos para curtir no Rio, que é a Lapa – que está uma multidão fervente de quarta a sábado – e a Rocinha. Só que a Lapa é plana, então poucos tem coragem de curar a ressaca na ladeira da Rocinha (risos).

Virgula Música - Durante essa parada, você também intensificou suas ligações com São Paulo, certo?

Falcão: São Paulo era um lugar a ser conquistado, isso aconteceu e eu sou muito grato por isso. Hoje em dia eu moro em São Paulo e Rio. Quando o calor do Rio tá me enjoando, pergunto se está frio em São Paulo e venho pra cá (risos).

Virgula Música - O que você fez durante esses seis meses que O Rappa deu esse descanso?

Falcão: Fiquei um tempo no estúdio fazendo umas coisas, estou com uma enxurrada de músicas. O Laurinho [Lauro, baixista] ouviu. Tô com um caminhão de material. Estou muito feliz de ter me permitido fazer isso. Sou um cara meio 'síndrome de Jô Soares', só vou dormir às 5 da manhã, não tem jeito. E eu fiz minha vida bem produtiva no estúdio, tô com bastante coisa. Essa retomada é um presente a quem nos aguardou com tanto respeito e amor. Mas ao mesmo tempo teve gente que não tinha muita noção que tínhamos parado. Às vezes me encontravam em vôo entre Rio e São Paulo e perguntavam "onde foi o show ontem?" e eu respondia "não, não teve show ontem não" (risos). Eu até brinco um pouco com o pessoal que foi algo meio de premonição, porque eu acho que se a gente insistisse um pouco mais naquele final de turnê, com aquela pressão de querer saber ser melhor na internet e não saber como e essa história de empresário nos fez bem e mal. Tudo que tenho na vida eu devo ao Rappa, mas tenho meus projetos paralelos. Tenho um disco solo quase pronto, mas na minha cabeça eu penso como o Herbert Vianna falava do Paralamas do Sucesso: posso fazer meu disco solo, mas nunca vou sair do Paralamas. Acho isso bem bacana. Então a ideia é a gente fazer um disco novo, arrebentar com ele e depois eu fazer a minha parada. Fiz músicas pensando no Rappa e fiz coisas para mim também.

Virgula Música - E como você fez essa triagem para o trabalho d'O Rappa e o solo?

Falcão: Ah cara, acho que tem alguma coisa dentro do meu coração que surge e diz "isso aqui eu quero mostrar para todo mundo e isso aqui eu ainda tenho que dar uma melhorada". É o meu próprio senso crítico. Mas eu tenho uns 9 monstros dos quais estou muito orgulhoso de fazer. Eu aproveitei para viver muita coisa, já fui pra Cuba, fui ver festivais em Amsterdã, fui pra Inglaterra, Portugal... Fiquei viajando esse ano todo tocando com o Locomotiva, Bino, Liminha e BNegão, conhecendo e mostrando muita coisa para outras pessoas fora d'O Rappa. Nesse esquema cheguei a mostrar algumas coisas que gravei para outras pessoas, como o Liminha, mas sem falar que fui eu que fiz e recebi elogios. Pessoal perguntava o que era e eu só falava: "ah isso aí é uma música de uma banda muito doida" (risos). E pensava: que legal, imagina mostrar isso para os outros três d'O Rappa depois. Daí, vou brincando assim porque acho que vai dando um termômetro mais verdadeiro.

Virgula Música - E o material pr'O Rappa, em que pé está? Vocês já tem uma lista de músicas definida para um novo disco?

Falcão: Tem coisas que tenho só letras, outras tenho músicas, e outras música e letra. O Lobato está com bastante coisa e eu também, então sei que precisamos de um tempo para ouvir tudo. Acho que esse caminho de parar foi bom, porque tem uma porrada de coisas que eu começava a fazer na segunda e na terça mas na quarta tinha que viajar pra fazer show. Com a parada, fiquei de janeiro a março viajando e fui me enchendo de informação e coisas maneiras e comecei a abrir a torneira da criatividade. Acho legal a gente ter feito isso para poder ter essa postura de não imaginar como o disco vai ser, apesar de já termos uma espinha dorsal do trabalho, ela é só um pedaço do que os outros vão mostrar. Isso dá garantia pra gente.

Xandão: Temos apenas embriões mas que com certeza vamos usar. Mesmo que sejam de baixa qualidade de gravação.

Falcão: Tem coisas que estão gravadas comigo que eu quero que seja aquela sujeira ali. Se der uma limpezinha eu já vou falar "porra, não era isso" (risos).

Xandão: Mas nesses 18 anos cada um conseguiu ter o seu estudiozinho para gravar. Talvez até nos próximos discos a gente traga o disco já pronto pra gravadora. Pela história da época que viemos, era muito difícil gravar em casa e ter bons recursos. Hoje em dia é muito fácil. A qualidade é uma coisa muito relativa; eu digo isso como produtor. Agora a gente percebe muitas pessoas procurando aquele sonzinho feio, que era uma coisa que a gente já fazia tempos atrás, mas porque não tinha equipamento. Pra gente sempre foi uma refência que chamamos de cariri, de sarará, as coisas de baixa tecnologia e baixa qualidade. Isso sempre foi uma marca nossa. Tenho quase certeza que quando chegarmos no estúdio vai ser aquela coisa do "tem um chiado", mas é isso que é bom. "Isso é feio". Não, é bom! (risos). O que importa é a nossa verdade.

Virgula Música – A banda então não tem uma data específica para entrar em estúdio? A gravadora não pressiona por um novo disco?

Xandão: Não, temos nosso ritmo e a gravadora sabe que temos uma melhor ideia de trabalhar isso tudo. Não é só simplesmente agendar estúdio e começar a gravar. Queremos primeiro fazer esses shows, talvez até podemos tocar uma coisa ou outra do material novo. Só não queremos nos sentir repetindo o que a gente já fez no estúdio.

Falcão: Quando você não ousa, não arrisca muito. Eu acho que em todo disco sempre buscamos colocar uma coisa diferente do anterior. Mas de uma forma que o disco tenha uma unidade, mesmo que precise demorar um tempo mais pra fazer pra ele ficar bom. Essa é uma tranquilidade que temos com a gravadora, porque no passado tivemos pressão sobre isso, do tipo “data tal tem que ter o disco” e falamos “não, não vai ter”, tem que fazer show e fazer disco. Aí ficávamos over, com aquela coisa de gravação, show, beber, viajar... Com o tempo você percebe que se você não se preservar, não vai rolar.

Virgula Música - Nesses dois anos em que O Rappa deu uma estacionada, mudou muita coisa no panorama da música nacional, principalmente por conta da internet. Como vocês enxergam tudo isso?

Falcão: O que o pop rock era, mudou. O que era o pop rock há quatro ou cinco anos é o que é o sertanejo agora. A força que a galera do rock tinha é mais ou menos o que o sertanejo é hoje. O que eu vejo no pop rock mundial é que quando falta criatividade, busca-se ficar mais próximo do que está dando certo lá fora. Quando isso não é verdadeiro, não adianta imitar o Rappa, o Charlie Brown Jr, o Paralamas, que o cara vai ser reconhecido ali mas logo depois vai ser comparado. A galera tiraria mais vantagem se ousasse mais, e isso que vai dar longevidade ao pop rock ou a qualquer outro estilo musical. Se o cara se apegou a uma história, hoje ele deve estar meio preocupado, tipo "o que eu vou fazer?". Ficar só naquela de rock'n'roll puro, reggae puro, eletrônico puro, vai colidir com o gosto do pessoal que procura coisas diferentes. Vai ter aquele público que vai perceber que ali tem um chocalho a mais, um cowbell, um rock com eletrônico.

Virgula Música - O que está inspirando O Rappa na parte de letras?

Falcão: O Brasil me deixa muito inspirado. Ainda temos aquela história do 'somos o melhor país do mundo'. Somos mesmo. Em outros países temos essa coisa das bombas, das guerras, etc. Aqui temos isso em alguns lugares, mas em uma escala interna. Falam bastante do Rio de Janeiro, que dá motivo, mas também temos isso em São Paulo, em Recife. Criam situações que fazem com que eu queira passar uma mensagem para uma galera que talvez não tenha discernimento nessa questão. Mas também temos um outro tipo de guerra que é a que vai sedando a gente. Os 400 caras sentados no senado estão ali minando a nossa força. Temos que acreditar que os que virão depois serão melhores, que nem todos que estão ali são ruins. Vivemos em um país onde matam uma juíza, cara. E isso não podemos permitir, então parte do que fazemos com ações sociais vem de uma tentativa de mudar o que está errado e alertar os outros, mas sem levantar uma bandeira.

Virgula Música - Vocês tem esse cunho social nas letras. Como vocês acham que vai ser a receptividade a isso nessa nova era de redes sociais, na qual tem mais informação do que conscientização?

Falcão: Nós queremos fazer de uma forma que desperte as opiniões das pessoas que escutam o nosso som. A ideia é justamente essa, explorar esse mecanismo que a rede tem de colocar ali na mão, nos dedos das pessoas pra escrever sobre aquilo e promover o debate.

Xandão: E isso não serve só para o debate social; agora serve pra música. Imagina, é até melhor porque você pode escrever exatamente pro teu público. Não é aquela coisa de você lançar uma música e o teu disco ser resenhado por um crítico de uns 60 anos que nunca viveu aquilo que você está escrevendo e vem falar mal.

Falcão: Eu acho que tem é que aparecer mais gente com coragem para criticar esse tipo de coisa que fazem com o nosso País.

Virgula Música - Não seria um tipo de ativismo? Ou vocês estão querendo fazer a sua parte?

Xandão: Não, passa muito longe de ativismo. É simplesmente você perceber essas coisas que estão acontecendo e botar isso pra fora. Você vê aí governo censurando imprensa como aconteceu na época da ditadura, e o mais estranho é que isso acontece por um governo que se dizia de esquerda. Pra você ver a que ponto as coisas estão...

Falcão: Quando aparecem críticas ao governo, mesmo aquelas que são de sacanagem e bem-humoradas, eu me vejo ali. Eu enxergo uma pontinha do que eu queria falar pra essas pessoas que botam o País pra baixo. Então eu acho isso muito importante, valorizo até essas ‘pontadinhas’ humorísticas. A pessoa não deixa de fazer sua parte.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vocalista do Fresno de olho em carreira internacional com projeto Beeshop

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Lucas Silveira, vocalista e guitarrista da Fresno, é um workaholic; não completamente satisfeito com sua rotina de shows com sua banda principal, o músico divide seu tempo com outros projetos. Tanto é que mal saiu de um show com a Fresno no Rio de Janeiro, Lucas rumou no dia seguinte para os Estados Unidos tocar o início de uma carreira internacional com seu projeto solo com músicas em inglês, o Beeshop.

O músico marcou três datas - dia 25 em Nova York, 26 em Filadélfia e 27 em Oneonta – com a banda Anberlin, fazendo uma participação no show do grupo e atuando como atração de abertura nos outros dias. Como os concertos foram agendados sem planejamento prévio e devido ao alto custo das passagens, Lucas apresentará o repertório de The Rise And Fall of Beeshop (lançado em 2010) sozinho, acompanhado somente por violão e piano.

O Beeshop surgiu em meados de 2007, somente como uma forma de expressar canções que não cabiam na Fresno. Gravando as músicas de forma caseira e divulgando pelo MySpace, a coisa foi ficando séria: em 2007, veio o clipe de Mr. Confusion e, no ano passado, foi lançado pela Universal Music o primeiro álbum. Com o desenvolvimento do projeto, Lucas montou uma banda com 13 músicos, batizada The Little Dog Feet Orchestra, para um show especial no final de agosto em São Paulo. A apresentação foi gravada para um DVD, que deve ser lançado até o final do ano.



Mas o Beeshop não é a única 'escapadela' de Lucas em relação ao Fresno: este ano, o músico anunciou o projeto eletrônico SIRsir e também o ainda obscuro Visconde, que deve ganhar mais espaço na atribulada agenda a partir de 2012. Em entrevista ao Virgula Música, Lucas contou mais sobre seus trabalhos paralelos, os shows solo nos Estados Unidos, como é ser uma banda independente no mainstream, o preconceito enfrentado pela onda emo - e que agora é dirigido ao Happy Rock do Restart - e mais. Acompanhe abaixo.

Virgula Música – Como surgiu a oportunidade de fazer estes shows nos Estados Unidos? Por que com o Beeshop e não o Fresno?

Fiquei amigo dos caras do Anberlin depois que eles tocaram aqui no Brasil. Um mês atrás fui para os Estados Unidos e voltamos a entrar em contato, surgiu a oportunidade de vê-los tocando em Nova York e me convidaram pra participar do show. Daí, conversando com eles, já transformei essa pequena participação em alguns shows de abertura da turnê deles. E isso rolou com o Beeshop porque tem mais a ver com o som deles, são músicas em inglês e vou fazer como rolava no começo do projeto: só violão e piano. O pessoal do Multishow vai registrar isso também, vão me acompanhar nessa odisséia para filmar um reality show.

Virgula Música – Então desta vez você vai realmente como artista solo, com a cara e a coragem e sem banda de apoio?

Isso, vou tocar sozinho porque foi combinado um pouco em cima da hora e não rolava de tentar mudar o esquema de shows dos caras por minha causa. Além disso, levar uma banda completa teria um custo muito alto com o qual ainda não posso arcar. Mas encaro como um começo, estou levando meu disco pra lá e algumas coisas do DVD que já estão prontas. É uma oportunidade de expandir um pouco o Beeshop fora do País por uma iniciativa minha. E isso pode se estender não só ao Beeshop, mas também para as outras coisas que eu faço, como o SIRsir.

Virgula Música – Sobre o SIRsir, você já gravou um EP e discotecou em alguns lugares, mas qual a sua intenção com ele? Pensa em levar uma carreira séria ou é só diversão?

O SIRsir é um projeto de música eletrônica pelo qual fiz um EP promocional que estou distribuindo nos lugares que eu toco e fiz um clipe que estreou recentemente. Não costumo brincar muito sobre isso, sempre que estou fazendo um projeto, eu divulgo para levá-lo bem a sério, fazer a coisa acontecer. Mas por enquanto é independente, não tem coisa a ver com gravadora. Tenho outro EP que estou fazendo e devo lançar alguma música pela internet logo mais. Mas agora penso em lançar por um selo gringo, o BugEyed Records.



Virgula Música – Além do Beeshop e do SIRsir, você tem um outro projeto, o Visconde. Até hoje, você lançou algumas músicas no Soundcloud e não está fazendo muito alarde sobre ele. Quais os planos para o Visconde? Você pensa em fazer shows e lançar disco por ele também?

O Visconde é o projeto mais recente, foram músicas que eu lancei este ano. Comecei com umas duas e quando percebi estava rolando um conceito em torno disso. Era um monte de músicas que tinham temáticas parecidas e eu estava vivendo um momento que inspirava esse tipo de som. Em um mês eu gravei tudo em casa, lancei na internet e acabou rolando uma identificação muito grande com o público da Fresno, do Beeshop, e acabei quase que forçado pelo público a fazer isso virar alguma coisa. Mas por enquanto eu estou mais focado no Beeshop. O Visconde está mais 'na manha' porque tenho muita coisa para fazer... Não parei pra fazer um trabalho a fundo, com clipe e shows porque senão minha cabeça não aguenta! Mas o disco já está masterizado e devo lançar no próximo ano, depois fazer shows. Mas isso tudo só em 2012, porque não tenho como me dedicar de verdade a isso agora.

Virgula Música – E agora com três projetos paralelos, como fica a Fresno nessa história?

Os projetos paralelos são coisas pra dar refresco na minha maratona de shows da Fresno e na minha história com a banda. Então, prefiro tocar com outras pessoas e explorar outras coisas de vez em quando. Não descarto a possibilidade de chamar alguém da Fresno para participar destes projetos. Mas se eu chamar alguém, acho que vai parecer que estamos debandando da Fresno, e não é isso. A Fresno sempre será a prioridade.

Virgula Música – Mas como que você escolhe o material que vai para a Fresno, Beeshop e Visconde? Não seria mais fácil incluir tudo isso em uma única banda?

Eu não consigo dosar tudo que eu sei e gosto em uma banda só. Fresno é uma coisa que eu comecei aos 15 anos que já sofreu muitas mutações. É uma banda na qual as quatro pessoas tem o seus votos, então é diferente. Apesar de eu ser o vocalista ou como chamam, o líder da banda, é um coletivo. Por ser uma banda que tem mais tempo e muito mais público, ela acaba meio que 'andando sozinha', porque hoje temos uma estrutura muito grande para fechar shows, programas de TV. E eu uso o meu tempo livre para fazer as outras coisas. Como o CD da Fresno saiu ano passado e estamos naquela entressafra, eu tenho tempo livre para me dedicar a outros projetos e continuar com os shows da Fresno. Todo final de semana tem show, a agenda nunca para. Por isso que esses outros shows que eu faço pelo Beeshop ou discotecagem pelo SIRsir são no meio da semana. São os dias que sobram pra mim, porque a Fresno tem sempre a preferência na agenda e é o que faz o dinheiro para a coisa toda acontecer. É o meu trabalho principal, é o que eu faço.

Virgula Música – Com essa agenda complicada, como é o seu cotidiano?

Eu procuro acordar depois de meio-dia, porque eu durmo muito tarde. Sempre vou deitar às 4 ou 5 horas da manhã. Então geralmente acordo na hora do almoço, e agora que estou em uma fase frenética, saio da cama, tenho reunião para acertar algo da Fresno, ensaio à tarde, de noite tem uma balada durante a semana ou eu fico em casa no computador. E tô sempre no iPhone, twittando, no Facebook, monitorando tudo que diz respeito a todas as coisas que eu faço. Fico nessa função e é sempre difícil desligar de tudo. Esse ano eu consegui a façanha de ficar uma semana sem entrar na internet, perto do ano-novo, e isso é muito bom. Mas querendo ou não, a gente acaba sentindo falta e começa a querer saber o que está acontecendo. Eu aproveito essa fase da minha vida na qual eu realmente tenho o que fazer e que tô com vontade de procurar novas coisas para fazer. Talvez um dia eu fique de saco cheio e queira só curtir tudo que eu fiz nesses anos em que eu tava doido (risos).

Virgula Música – E o DVD pela Fresno, quando sai?

O DVD da Fresno que pretendemos gravar ainda este ano é um negócio que ainda não decidimos o lançamento de verdade, se vai ser por uma gravadora ou se vai ser independente. Eu acho que deve ser uma coisa independente, porque não estamos em uma gravadora e já temos uma popularidade, não tem porque precisar de um trabalho de marketing de uma gravadora, já temos o nosso. Provavelmente esse é o futuro das bandas. Atualmente as gravadoras são distribuidoras e não estão mais investindo em artistas simplesmente por não ter muito dinheiro para isso. Elas estão se livrando de todo mundo. A maioria dos artistas que são das gravadoras tem um contrato de distribuição, porque os caras não vão investir um milhão para lançar alguém; eles vão lançar um artista sertanejo que já tem um milhão na conta e eles só repassam para as lojas. Essa é a atual dinâmica do mercado e dos selos menores.

Virgula Música – E como foi para a Fresno, que veio do meio independente, estourar na grande mídia?

Nós já tinhamos um estouro underground muito grande, quando ele se convergiu com a internet. Assinamos com uma gravadora, mas já éramos uma banda que conseguia colocar 2 mil pessoas em uma casa de shows em Porto Alegre, em São Paulo, em Recife. Então já tínhamos uma popularidade grande. Mas a gravadora acaba por esticar isso e colocar tua música até para o cara que não quer te conhecer. O que é bom e ruim, porque por exemplo, se você tá bombado na internet ou na MTV em tal programa segmentado, tudo bem. Mas a partir que você aparece em uma matéria no Fantástico, você é exposto para quem gosta ou não, para quem tá afim de ouvir ou não, pra gente de 8 ou 80 anos. Isso é uma coisa que só as gravadoras tem: os contatos, a estrutura e a 'máfia' de te colocar nesse momento. Do tipo que qualquer um te vê na rua e sabe quem é, esse estouro. E isso aconteceu conosco há uns quatro anos, somente.

Virgula Música – E agora que vocês voltaram a ser independentes, como vocês enxergam o esquema das gravadoras?

O trabalho da gravadora acabou ficando sem propósito. Ainda faria sentido se comprassem discos, porque é disso que as gravadoras vivem. Hoje em dia muitas são empresas de eventos para que possam dar uma mordida no cachê das bandas, porque com o CD não dá mais. É só pensar que nenhum CD da Fresno vendeu mais que 60 mil cópias, e qualquer banda que estourava mais ou menos nos anos 90 vendia 300 mil, uma banda que estourava de verdade vendia 1 milhão, dois milhões. Hoje em dia quem faz isso é só o Padre Fábio de Mello.

Virgula Música – A mídia explorou muito o lance do estouro do emo no mainstream e colocou bandas como o Fresno e o NX Zero o tempo todo no ar. Agora isso passou por conta do Happy Rock. O que você acha disso?

Eu acho bom, porque param de encher o nosso saco (risos). Acho que sempre vai acontecer esse conflito de gerações. Eu já fui em um estúdio de tatuagem e o cara tava ouvindo hardcore melódico dizendo "nossa, isso que era som", sendo que quando eu ouvia isso era muito zoado porque não ouvia punk rock ou hardcore de Nova York, que eram os estilos de 'pessoas legais'. Essa coisa muda. Hoje em dia tem muito fã de Fresno que faz o bullying em cima do fã do Restart, mas isso é só um reprocessamento do bullying que ele sofreu da galera que era fã do Charlie Brown Jr., por exemplo. A galera vai repassando esse comportamento babaca. Na época dos emos, tinha os eminhos de fotolog, que foram os caras que queimaram o filme do lance emo, que era a galera que não sabia nada da música, mas pintava o olho, o cabelo, e fazia coisas ridículas dizendo "ah, porque eu sou emo". Quando eu falava que a Fresno era uma banda que fazia um som emo, eu usava bermuda de surf! Nem pensava na roupa que usaria ou no cabelo que teria. Eu pirava em umas bandas que nem de longe lembravam Simple Plan ou aquelas outras coisas que eram as responsáveis pela 'queimação de filme' do emo no Brasil, principalmente.

Virgula Música – Hoje em dia você pode dizer que a Fresno é emo?

Hoje em dia não digo porque nem é mais, assimilamos outros sons, mas era uma coisa que eu me identificava muito na época. Eu gostava das bandas que eram emo e às vezes uma pessoa desinformada qualquer podia me rotular assim. Mas eu, que pesquisei, li e vi, sei quais bandas são, tem a ver, tem uma parcela nessa história e que foram chamadas de emo lá atrás, quando não era uma coisa chocante, pejorativa e horrível. Era só uma subdivisão do rock.

Virgula Música – Sim, porque o emo mesmo começou com bandas como o Sunny Day Real Estate, Sense Field...

Pois é, era isso aí que eu ouvia bastante. Mas depois do estouro, o pessoal citava o Simple Plan, que não tinha nada a ver com isso. Eu até ouvia muito Sunny Day, já curti muito e até hoje me pego ouvindo. E dizem que tem as três ondas do emo, que teve essas bandas iniciais e a segunda que é o Jimmy Eat World e Get Up Kids, que já é algo que tem muito mais a ver com o Fresno, na minha opinião. Depois disso começou a vir essa coisa do visual extremo, oco e que qualquer cara que não tem 'cabelo de soldado' é taxado como moderno, emo. Dizem que o nosso País é livre, mas é intolerante e preconceituoso para caramba. Qualquer coisa que é um pouco diferente já é um absurdo. Ninguém tem liberdade pra porra nenhuma sem ser julgado aqui. E olha que isso que eu tô falando é só sobre cabelo, roupa, nem do cara ser gay ou não, porque aí sim vai estar ferrado aqui no Brasil. Temos muito essa coisa do 'nossa, esse cara é diferente, que horror'... Muitas vezes demos entrevistas e vinham perguntar 'e então, o que vocês querem dizer com essas roupas?', e a gente respondia 'eu quero dizer que eu tô vestido, não quer dizer nada'. Fico imaginando o que aconteceria se uma pessoa tipo a Lady Gaga surgisse no Brasil. Ela ficaria fazendo show lá no Glória [casa noturna GLS de São Paulo] até hoje porque a intolerância é muito absurda. Aqui ainda é muito conservador e preconceituoso. Achamos que não, mas é.

Virgula Música – Como você enxerga esse pessoal que se intitula 'Happy Rock'?

Ah, querendo ou não, a maioria é 'filho' da gente, não tem como negar. Não posso julgá-los, me abstenho de falar, porque eu apoio bandas que saibam tocar, e eles sabem. Não é 'culpa' deles o sucesso; se uma banda horrível está fazendo sucesso, a culpa é das pessoas que ouvem. Se tem o povo que reclama do que está tocando no rádio, só tá tocando porque as pessoas estão pedindo. Realmente pedem mais Akon do que Charlie Brown, Pitty. Toda banda, por pior que seja, é uma expressão da pessoa e do público. E a maioria dessas do estilo colorido eram meninos que iam em shows nossos e nos conhecem, são fãs, se antenaram em bandas dos Estados Unidos que eram desses grupos do hardcore e do rock alternativo e que começaram a fazer uma coisa meio engraçada, meio feliz e festiva e misturaram com música eletrônica. Mas muita banda acabou se viciando nessa coisa do 'nosso som é feliz', e isso acabou se transformando isso em uma caricatura, fazendo letras quase como axé.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Red Hot Chili Peppers ignora falhas técnicas e justifica prestígio em São Paulo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O Red Hot Chili Peppers começou seu retorno ao Brasil nesta quarta-feira (21), com um show na Arena Anhembi em São Paulo. Trazendo a tiracolo os ingleses do Foals como atração de abertura, Anthony Kiedis (vocal), Flea (baixo), Chad Smith (bateria) e o recém-chegado guitarrista Josh Klinghoffer conseguiram fazer um show memorável para a plateia paulistana sem precisar de muito esforço.

Logicamente, um show marcado para começar às 19h30 de uma quarta-feira na conturbada capital paulista estava predestinado a atrasar. Quando o Foals iniciou seu set com Blue Blood às 20h30, ainda havia fila de pessoas para entrar do lado de fora da Arena Anhembi.

Como os ingleses optaram por um repertório que crescia aos poucos, a plateia se limitou a ficar parada olhando com cara de 'o que é isso?' durante os números iniciais. Ao meu lado, ouvi duas garotas com camisetas dos Chili Peppers conversando. "O que é isso?", perguntou a que parecia ser a mais nova. A outra respondeu prontamente "isso é indie, não tá vendo? As músicas são todas iguais".

Porém, quando a banda puxou Cassius e Balloons, o Foals engrenou na parte mais dançante de seu show. Com isso, os membros mais musicalmente sociáveis do público ficaram empolgados e começaram a dançar. No final, vários batiam palmas de acordo com a cadência de Spanish Sahara, e o vocalista e guitarrista Yannis Philippakis chegou a descer com guitarra e pedestal de microfone até o fosso entre o palco e a grade para terminar o show ali, sentindo a energia da galera do gargarejo.

Passada a prova de fogo do Foals, chegou a vez do Chili Peppers. O grupo subiu ao palco às 21h50, apostando na barulheira de Monarchy of Roses, faixa de abertura de I'm With You. Ao emendar os hits Can't Stop, Tell Me Baby e Scar Tissue com a plateia cantando em uníssono, ficou claro que o Red Hot já tinha o público ganho e não precisaria suar a camisa para fazer um grande show.

Mas problemas técnicos ameaçaram tirar o brilho da apresentação. Josh Klinghoffer penou com vários 'apagões' na sua guitarra em pelo menos seis músicas, prejudicando sua performance - que estava sempre sob olhares atentos dos fãs de seu antecessor, John Frusciante, que largou o grupo para seguir carreira solo.

Definitivamente não deve ser legal estar na pele de Klinghoffer no recente momento de transição da banda, pois o guitarrista sempre será alvo de comparações com Frusciante. E justamente na introdução de Under The Bridge a guitarra falhou e o expôs em uma situação constrangedora, alimentando comentários maldosos da plateia.

Ao final de Higher Ground, mais uma vez o instrumento o deixou na mão, e para que os técnicos enfim resolvessem os problemas, Flea puxou sozinho no baixo uma pérola esquecida: a vinheta Pea, cantada por ele no álbum One Hot Minute, de 1995, que também foi ovacionada pelo público. Mas depois destas mancadas técnicas, é preciso reconsiderar se o roadie responsável por seu equipamento é realmente merecedor do emprego.

A volta por cima veio com os hits Californication e By The Way, e a banda retirou-se rapidamente do palco. O bis veio com uma jam com forte participação do percussionista brasileiro Mauro Refosco (que participou das gravações de I'm With You e está na turnê como músico de apoio), incluindo instrumentos como berimbau e zabumba, para depois dar lugar a Dance Dance Dance.

Depois da improvável inclusão da arrastada canção Don't Forget Me, chegou a hora do adeus com o clássico Give It Away, seguida por mais um improviso apoteótico do grupo. A banda desta vez se despediu definitivamente do público, que apesar das trapalhadas técnicas, com certeza gostaria de repetir a dose no show do Rock in Rio no próximo sábado, dia 24.

Set list Foals

01 - Blue Blood
02 - Olympic Airways
03 - Total Life Forever
04 - Cassius
05 - Balloons
06 - Miami
07 - Spanish Sahara
08 - Red Socks Pugie

Set list Red Hot Chili Peppers

01 - Monarchy of Roses
02 - Can't Stop
03 - Tell Me Baby
04 - Scar Tissue
05 - Look Around
06 - Otherside
07 - Factory of Faith
08 - Throw Away Your Television
09 - The Adventures of Rain Dance Maggie
10 - Me & My Friends
11 - Under The Bridge
12 - Did I Let You Know
13 - Higher Ground (cover de Stevie Wonder)
14 - Pea
15 - Californication
16 - By The Way

Bis
17 - Dance Dance Dance
18 - Don't Forget Me
19 - Give It Away

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Show de aniversário de 20 anos de Nevermind cheira a vergonha alheia

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Para comemorar o aniversário dos 20 anos do lançamento de Nevermind - disco essencial do Nirvana e do rock dos anos 90 - foi anunciado um show em Seattle, no qual o ex-baixista Krist Novoselic tocaria o álbum na íntegra com convidados. O concerto foi divulgado também como um evento beneficente para arrecadar fundos para o tratamento médico de Susie Tennant, figura da indústria musical da cidade, diagnosticada com câncer.

Encaixado como a série de eventos e novidades ao redor do relançamento de Nevermind em uma edição de luxo - que inclui quatro CDs e um DVD, faixas inéditas, raridades, lados-B, versões alternativas, gravações feitas pela BBC, etc -, o concerto tomou grandes proporções e foi exibido ao vivo via streaming pelo site http://www.livestream.com/nevermindlive. Toda essa badalação seria facilmente justificável pelo fato de que os ex-membros da banda nunca revisitaram o repertório do Nirvana nos palcos depois do suicídio do líder Kurt Cobain. Mas na verdade não foi bem isso que aconteceu...

O que se viu na noite desta terça-feira (20) foi uma sucessão de bandas mal-ensaiadas se apresentando no museu Experience Music Project (EMP) de Seattle. Novoselic subiu ao palco apenas para agradecer a presença de todos, pedir para a plateia fazer barulho em homenagem a Cobain e tocar apenas On A Plain com o Presidents of the USA. No final, o baixista reapareceu para encerrar a noite, novamente com o Presidents, mas desta vez ao som de Sliver.

Acompanhar o show até o final foi um tortuoso exercício de paciência, tanto para quem estava presente no evento quanto para quem acompanhava a transmissão pela internet. Não era à toa que muitas vezes o apresentador Ben London agradecia a paciência das pessoas e anunciava que "faltavam mais tantas bandas".

Não era de se esperar um concerto nos quilates de um Live 8, mas os grupos convidados poderiam ao menos ter se preparado para a apresentação. O Vaporland (formada por membros de bandas importantes do underground de Seattle, como Tad, Fluid e Love Battery) estava claramente se esforçando para terminar In Bloom, assim como o Valis tentou convencer de que tinha ensaiado Come As You Are anteriormente.

Alguns grupos compensaram a falta de profissionalismo dos outros: Ravenna Woods, Vendetta Red, The Long Winters e Stag fizeram apresentações empolgantes ou bem fiéis às versões originais. Mas a melhor interpretação talvez tenha sido do Campfire OK, tocando Polly com um um arranjo diferente que incluiu um banjo.

O 'desconfiômetro' estava tilintando ao ser anunciada a presença de um ex membro do Guns 'n' Roses (grupo desafeto do falecido frontman do Nirvana) no palco. Porém, Duff McKagan fez uma versão correta de Lithium com seu projeto Loaded.

Mas logo o Champagne Champagne foi convocado para assassinar Drain You. Os rappers bem que tentaram enrolar a letra no início, mas se perderam antes do chegar ao refrão e só contornaram um pouco o vexame quando começaram a improvisar nas rimas. Mas o estrago já estava feito: parte do público do EMP foi embora a partir desse ponto e de Endless Nameless, a faixa secreta de Nevermind, tocada pelo Crypts em uma versão eletrônica com teclados e efeitos monstruosos. O trio até tentou emular a balbúrdia que o Nirvana aprontava no palco e quebrou uma guitarra, mas a performance forçada somente serviu para atrair a inimizade da organização do concerto, contrariada com a molecagem que atrasou a preparação do palco para as próximas atrações.

Talvez percebendo que se tratava de uma furada, Dave Grohl não mudou sua agenda de shows com o Foo Fighters e limitou-se a participar do evento com uma mensagem gravada exibida no telão. No final das contas, o concerto-tributo con o intuito de homenagear o disco clássico do Nirvana e arrecadar fundos para salvar uma personalidade musical de Seattle cheirou a vergonha alheia.

Confira abaixo a lista de bandas e o repertório tocado:

Fastbacks – Smells Like Teen Spirit
Vaporland – In Bloom
Valis with Jack Endino – Come As You Are
Ravenna Woods – Breed
Duff's McKagan Loaded – Lithium
Campfire OK – Polly
Visqueen – Territorial Pissings
Champagne Champagne – Drain You
Tacocat – Lounge Act
Vendetta Red – Stay Away
The Presidents of the USA with Krist Novoselic – On A Plain
The Long Winters – Something In The Way
Crypts – Endless Nameless

BIS (quem pediu?)

Seacats – Frances Farmer Will Have Her Revenge On Seattle
Cali Giraffes – You Know You’re Right
Pigeonhed - Heart-Shaped Box
Tom Price – Negative Creep
Stag – Serve The Servants
Shelby Earl – All Apologies
Young Fresh Fellows – About A Girl
Cobirds Unite – Pennyroyal Tea
Tripwires - Been A Son
The Presidents of the USA with Krist Novoselic – Sliver

"Vamos tocar para público que não quer nos ouvir", diz baterista do Foals

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O Foals tem a difícil missão de ser a banda de abertura do show do Red Hot Chili Peppers esta noite na Arena Anhembi, em São Paulo. "Provavelmente tocaremos para a maioria do público que não vai querer nos ouvir", diz o baterista Jack Bevan, em entrevista ao Virgula Música. "Mas se algumas pessoas nos reconhecerem do outro show, será bom".

Essa não é a primeira vez que o Foals desembarca para tocar no Brasil; em 2008, a banda britânica foi uma das atrações do Festival Planeta Terra. Formado em Oxford, em 2005, por Bevan, Yannis Philippakis (vocais e guitarra), Jimmy Smith (guitarra), Edwin Congreave (teclados) e Walter Gervers (baixo), o som do grupo é uma mistura de indie rock com dance punk e os shows da banda resultam em momentos de catarse coletiva dançante - provavelmente daí vem o fator determinante para que Flea e cia fossem atrás deles para ato de abertura.

Em entrevista ao Virgula Música, o baterista Jack Bevan contou sobre os próximos planos da banda, o que mudou entre o disco de estreia e o mais recente, Total Live Forever, e as expectativas para os novos shows no Brasil. Leia abaixo.

Virgula Música - Vocês estão voltando para o Brasil para ser a banda de abertura do Red Hot Chili Peppers. Qual a relação do Foals com eles? Como surgiu o convite?

Na verdade eu não sei muito sobre isso, foi coisa de nosso empresário. Mas eu conheço o som dos caras e são ótimos músicos. Ouvi muito o Californication tempos atrás. Sei que o Chili Peppers é uma banda muito popular aí e provavelmente tocaremos para a maioria do público que não vai querer nos ouvir, mas se algumas pessoas nos reconhecerem do outro show, será bom (risos).

Virgula Música - É a segunda vez que vocês vêm ao nosso País. O que você lembra da primeira passagem por aqui?

Lembro que gostamos bastante do clima do festival e da reação do público. Era uma plateia bem receptiva e selvagem, e nós gostamos disso. Conseguimos uma folga para ficar alguns dias e passear de carro, então isso foi algo muito legal de se fazer. Geralmente não dá tempo de fazer muito turismo quando as datas são muito seguidas umas das outras.


Virgula Música - Neste novo disco e turnê, o Chili Peppers conta com a participação de um músico brasileiro. Vocês escutam música brasileira? O que você conhece de nossa música?

Eu tenho um amigo que escuta bastante música brasileira e sempre aparece com uns discos, de vez em quando ouvimos junto. Infelizmente não consigo dizer quais bandas seriam, mas já ouvi muita coisa com uns grooves interessantes.

Virgula Música - O álbum Total Life Forever tem músicas mais viajadas, em comparação ao disco anterior, Antidotes. O que ocasionou essa mudança?

Bom, primeiramente, nós envelhecemos. Quando gravamos Antidotes, foi em 2007. Éramos mais jovens, depois ouvimos mais coisas diferentes e colocando em nossa música. Gravamos o segundo disco dois anos depois, e muita coisa aconteceu nesse período, com turnês, shows e coisas assim. Viajamos o mundo também, tocamos em lugares diferentes. Então enxergo como um amadurecimento natural o segundo disco ter uma sonoridade diferente do primeiro. O próximo disco provavelmente deve ser diferente também.

Virgula Música - A performance da banda em 2008 no Festival Planeta Terra foi incrível, bem agressiva e acelerada. Com esta nova sonoridade, você acha que o show diminuiu de ritmo?

Um pouco, mas não totalmente. Não deixamos de tocar as coisas do primeiro disco!

Virgula Música - A banda já tem planos para um novo álbum? Já estão tocando novas canções ao vivo?

Temos algumas coisas em curso, mas ainda estamos concentrados na turnê. Não estamos planejando tocar nada novo em shows até que tudo esteja devidamente lapidado. Provavelmente devemos entrar em estúdio no ano que vem, assim que tivermos tempo para isso. Ainda é meio cedo para falar como o disco vai soar, mas com certeza deve ser uma extensão de nosso amadurecimento.


SERVIÇO
RED HOT CHILI PEPPERS E FOALS

21 de setembro – quarta-feira
Local: Arena Anhembi

Horário dos shows:
Foals – 19h30
Red Hot Chili Peppers: 21h30

Site: www.livepass.com.br
Call Center*: 4003-1527
Horário de funcionamento:
de segunda-feira a sábado – das 09h às 21h

Preços:
R$ 500,00 Pista Premium
R$ 200,00 Pista
Estudante e aposentado pagam meia-entrada

terça-feira, 20 de setembro de 2011

FourFest com The Pains of Being Pure at Heart, Ariel Pink's Haunted Graffiti e Some Community

*Matéria originalmente publicada no site Tenho Mais Discos Que Amigos.


Com a proposta de unir bandas de sonoridades distintas que despertam atenção no rock alternativo contemporâneo, a segunda edição do Fourfest teve o azar de acontecer em uma ingrata noite de quinta-feira. Por isso, já subentendem-se os entraves que poderiam estragar a noite: grande parte do público tinha idade média entre 20 e 35 anos e amargaria uma bela ressaca no trabalho durante o dia seguinte; a casa escolhida para sediar o evento, o Clash Club, não é exatamente de fácil acesso a transporte – em comparação às casas da badalada região do Baixo Augusta – e também volta e meia deixa transparecer problemas com sua aparelhagem, com caixas de som saturadas em diferentes momentos.

Os fatores descritos acima, combinados com os corriqueiros atrasos já esperados em qualquer evento de música, contribuíram para tirar o brilho do festival. Mas até aí, será que a música compensou? Em certos momentos, sim.

Com quase uma hora de atraso, os paulistas do Some Community subiram ao palco para mostrar seu repertório calcado no lado pop do indie rock com alguns toques de post-punk. Apresentando músicas melhores do que as que exibe em seu perfil no MySpace, a banda claramente evolui seu som ao vivo. Mas nem mesmo o carisma da vocalista Juliana Vacaro e o fato do baixista/guitarrista Fernando Fernandes conversar com o público algumas vezes quebrou o gelo daquele estágio inicial do festival. Talvez porque a muita gente estivesse mais preocupada em pegar suas cervejas para o que viria a seguir.

Pois bem: quando o compositor californiano Ariel Pink subiu ao palco com sua banda Haunted Graffiti, o jogo já estava ganho. Apesar da pequena enrolação para começar o show – de novo os problemas com o som da casa -, ficou claro que se a maioria do público presente no festival não estava ali para prestigiá-lo, provavelmente foi conquistado ao longo de seu set. Com seu freak folk misturando vocais agudos, riffs de guitarra, solos, teclados e nuances retrô dos anos 60 e toques góticos oitentistas, Ariel Pink fez a melhor apresentação da noite. Considerado um 'show de risco' por conta de seu comportamento excêntrico em gigs anteriores (ele chegou a abandonar uma apresentação no meio no Coachella, sem explicação), Ariel manteve-se o tempo todo com uma postura profissional durante sua performance. Mas ao perceber a comoção que causou na plateia ao tocar músicas do disco Before Today – especialmente "Bright Lit Blue Skies" e "Round and Round" – sua postura quase impassível se tornou tímida e Pink não conseguiu esconder alguns sorrisos.



Apesar de serem os headliners, a noite não estava muito favorável ao The Pains of Being Pure at Heart. Primeiramente, por conta do horário: a atração principal foi subir ao palco somente às 1h30, então muita gente foi embora antes do fim do show. Outro fator foi o som da banda, que ao vivo parece perder a potência. Analisando friamente, o tal 'noise pop' do Pains na verdade é um pastiche de várias guitar bands dos anos 90 com alguns toques de Smiths e The Cure. Por mais que a banda tenha iniciado com a pegada mezzo My Bloody Valentine mezzo Smashing Pumpkins de "Belong", no palco do Clash a banda soou inocente e limpinha demais nas músicas seguintes. Foi quase como se todos dos membros tivessem esquecido seus pedais Bigmuffs em casa. Resultado: os que não eram fãs ardorosos da banda (que estavam fielmente cantando música por música em frente ao palco), não resistiram esperar até o fim do show. Quando tocaram canções como "Heavens Gonna Happen Now", ela não passou de uma banda sem presença de palco tocando múltiplas versões fracas de "Star Sign" do Teenage Fanclub. Não foi surpresa a banda ter retornado para o bis para uma plateia bem reduzida.

Em suma, o Fourfest provou ser um festival modesto, mas que procura oferecer shows interessantes sem muito alarde. A organização do evento precisa apenas conciliar melhor o cronograma de suas atrações para evitar atrasos, além de primar pela qualidade do som.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

NX Zero fala sobre dez anos de carreira e o que acha da onda Happy Rock

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.




O NX Zero está completando dez anos de carreira e para comemorar, lançou em agosto o DVD Multishow Registro: DVD Nx Zero 10 anos, composto por seus maiores sucessos e mais duas canções inéditas.

Gravado em São Paulo, o show do DVD contou com as participações especiais de Emicida, Negra Li, Rincon Sapiência, Rappin' Hood, Tulio Dek, Eric Silver e o produtor e empresário Rick Bonadio.

Em entrevista ao Virgula Música, Di Ferrero (vocal), Gee Rocha (guitarra) Fi Ricardo (guitarra), Caco Grandino (baixo) e Dani Weksler (bateria) contaram mais sobre o lançamento do DVD, as roubadas que já enfrentaram durante a carreira, quais bandas fazem suas cabeças e o que pensam da onda dos coloridos do Happy Rock. Veja no bate-papo abaixo.

Virgula Música – Agora que vocês gravaram o DVD, qual é o próximo passo?

Gee: Vamos sair em turnê, fazer a turnê do DVD. O próximo passo vai ser um disco novo, mas isso ainda vai demorar um ano, um ano e meio. Por enquanto vamos mostrar o DVD ao Brasil. Fizemos um cenário especial para a gravação dele e queremos usar isso para os shows também, até para a galera que não pôde ir na gravação.


Virgula Música – E qual a expectativa para o show no Rock in Rio?

Dani: Cada vez que alguém pergunta isso do Rock in Rio a gente já fica ansioso. Se acontecesse isso uns 5 anos atrás, a gente cagava nas calças (risos), acho que agora veio em boa hora.

Caco: Nós não cagamos nas calças ainda porque não caiu a ficha (risos)!

Di: Não falamos sobre outra coisa. Já pensamos em um set list legal e como ensaiamos bem para gravar esse DVD, ele veio em uma hora boa. A ideia é dar uma resumida nesse set list para tocar no Rock in Rio e colocar mais algumas surpresas, coisas especiais para marcar o show, porque o festival pede algo especial. Ainda demos sorte de tocar no dia que a gente mais queria ver as outras bandas, como o Red Hot Chili Peppers. Vai ser animal cruzar com os caras lá e quem sabe dar um DVD nosso pra eles.

Gee: Se eles merecem, né? Se for bom o show ... (risos)


Virgula Música – O que vocês acharam do disco novo, I’m With You? Eles colocaram pra audição via streaming e já liberaram um clipe para o single The Adventures of Rain Dance Maggie.

Di: Achei a música nova e o clipe irados. Quando você curte as várias fases e vibes da banda, você sempre acaba entendendo o que eles querem fazer. Pra mim foi demais, gostei muito da música, da letra, do clipe. O vídeo é bem a cara deles, Califórnia total.

Dani: Eu tô triste que não tem o (John) Frusciante [guitarrista que saiu da banda em 2009], mas eu sou fã até o fim.

Di: Infelizmente ele não estará aqui, mas acho que o guitarrista novo já conhece os caras há um bom tempo...

Dani: É, ele tocou nos discos solo do Frusciante também.

Di: Sim, ele vai conseguir pegar a vibe dos caras.


Virgula Música – Vocês já tem novas composições para um novo trabalho?

Di: Nós acabamos de divulgar duas músicas novas nesse DVD. São Essa Eu Fiz Pra Esquecer e a Não é Normal, que é o novo single. Por enquanto vai ser isso, não pensamos em lançar nada novo, porque viemos em uma pegada meio maluca, com CD e DVD um atrás do outro. Então agora queremos mesmo é fazer os shows primeiro.

Dani: Já temos uns dez embriões de músicas. Uma coisa que nos motiva pra caramba é que o Gee sempre manda pra gente uma ideia gravada e pergunta ‘e aí, é legal? o que vocês acham?’ e a gente já começa a pirar, pensando o que dá pra fazer em cima com timbres e arranjos.


Virgula Música – E por esses embriões, vocês já tem ideia do que pode ser o novo disco?

Di: É muito cedo para falar como vai soar o próximo trabalho. São só embriões, não sabemos o que vai sair disso. Mas pode ter certeza que vai ser uma mistura de tudo que a gente já fez, inclusive o Projeto Paralelo.


Virgula Música – Falando no Projeto Paralelo, vocês pensam em fazer algo assim novamente?

Di: Se calhar, sim. Foi muito natural o jeito que ele saiu. Era pra ser um projeto paralelo fora do NX Zero, mas decidimos fazer todos juntos. Acho que agora com 10 anos de carreira teremos mais liberdade para fazer coisas diferentes, podemos tentar uma coisa ou outra. Não que não pudéssemos fazer antes, mas acho que ainda não tínhamos vivido tudo isso para ter vontade de tentar.

Dani: O Projeto Paralelo com certeza abriu portas e não quer dizer que foi só aquele disco e morreu ali. A gente sempre encontra os caras que gravaram com a gente. Depois dele, o Kamau chamou o Di para participar do disco dele. É uma parceria que ainda pode trazer mais coisas no futuro.

Di: Essa experiência nós vamos levar para sempre. Uma pessoa gravar no seu disco é quase como um pacto de sangue, de amizade. Você marca na história.

Gee: Entre os embriões já tem uma ideia com participação, então teremos mais coisa por aí.


Virgula Música – Ao longo desses dez anos, vocês com certeza já passaram por muita coisa boa e ruim. Qual foi a pior roubada que vocês já passaram na carreira?

Caco: Cara, várias. Uma das que eu lembro foi quando fizemos uma turnê com o Aditive e Sugar Kane, quando ainda éramos independentes. Eram três ou quatro bandas viajando juntas em um onibus fretado a praticamente lucro zero. Pagavam um cachê muito pequeno e o tal ônibus era muito, mas muito ruim. Estávamos na porta da casa de um amigo nosso, o Sonrisal, que na época tocava no Aditive e de repente deu o maior barulho de explosão e o ônibus tombou na hora. Era o pneu que tinha estourado. Ainda bem que aconteceu ali. Imagina se estivessemos na estrada e estourasse essa porra desse pneu? Já entrou árvore dentro do ônibus e nossas famílias não sabem dessas coisas (risos)... Mas não foi nada grave.

Fi: Passamos por uma viagem de 12 horas e quando paramos, o motorista enfiou a frente do ônibus na marquise do hotel e arrancou a frente.

Caco: Outra vez no Sul o motorista era um moleque novo, estávamos todos cansados depois de um show. Queríamos ir pra casa, tomar um banho. Ele deu ré e entrou um galho de árvore dentro do ônibus. Tivemos que arranjar outro pra continuar viajando.

Dani: Já aconteceu da gente ir para outra cidade tocar e não ter contratante. Uma vez a gente foi para Itu e descobrimos que o contratante era um moleque de 14 anos, que fugiu. Ele ficou com medo porque apareceu juizado de menores, etc. Daí fomos na casa dos pais para falar com o moleque, essas coisas.

Fi: Nos festivais independentes tinha vez que o contratante chegava... se bem que chamar de contratante é sacanagem com quem faz o trampo direito! O cara juntava um monte de banda que queria tocar com a gente, aí tinham trocentas bandas de moleques tocando desde meio-dia, todos felizes que iam tocar em um festival com o NX Zero e o Fresno, tinham que vender ingressos. Quando chegava pra tocar não tinha evento, tava a casa vazia e o organizador fugiu com a grana dos ingressos.

Teve também outro bem marcante que era uma feira de aventura, de esportes radicais e estávamos na maior expectativa porque o lugar era enorme e a previsão era de receber muita gente, umas 30 mil pessoas. Tinha uma grande estrutura, parque de diversões... Tinha que pegar uma van para ir do camarim até o palco, imagina. Mas choveu no dia e tava vazio, a gente tocou pra cem pessoas. Com isso o contratante cancelou parte do evento, já tinha pago nosso cachê, mas não a empresa que cuidava do som. Eles não tinham recebido e queriam desmontar tudo, ficaram lá esperando por oito horas pelo organizador que não apareceu e viram que a gente tava lá esperando pra tocar. Daí eles esperaram a gente subir no palco e fazer nosso show praquelas cem pessoas desmontaram tudo e foram embora.


Virgula Música – Qual a maior loucura que um fã já fez por vocês?

Di: Ah, já teve fã que se jogou na frente da van...

Dani: Isso NÃO é legal.

Di: É, não achamos isso legal, é muito perigoso. Tem gente que faz tattoo da banda. é legal, mas a gente fala pra galera pensar bem antes de fazer. Tem gente que faz o rosto que eu acho mais complicado.

Dani: É difícil rosto ficar bonito em tatuagem.

Di: Não que sejam ruins os nossos, mas qualquer rosto é difícil de ficar bom o resultado.

Caco: Ainda mais que se você engorda, o desenho da tatuagem engorda com você.

Dani: Mas de loucura mesmo eu soube que teve uma galera que ficou quase um mês na fila pro show de gravação do DVD, só revezando com os amigos pra entrar. Isso é loucura.

Gee: Se dormisse um dia na fila já seria bizarro.

Dani: É, cara, dormir na fila uma noite já seria muito louco, imagina ficar na fila quase um mês.


Virgula Música – Quais bandas vocês tem ouvido atualmente?

Dani: O Incubus novo a gente tá ouvindo bastante, o novo do Ben Harper achei massa.

Gee: O novo do Foo Fighters.

Caco: Limp Bizkit novo, o Golden Cobra, é incrível.

Di: Tem uma galera nacional também, como o Emicida, Kamau.

Dani: Ouvi uma banda que se chama Medula esses dias e achei muito boa. Vanguart também gosto bastante.

Caco: Uma nacional que eu já tinha ouvido falar e não conhecia e achei bem legal se chama Supercombo. A banda é muito boa.

Di: Daí a gente cai nas clássicas também, como Red Hot. Eu também escuto Hillsong...

Dani: Tem o Led Zeppelin, que pra mim, sempre volta a tocar no carro, não tem jeito...

Gee: AC/DC. A gente tá numa fase de Rolling Stones também. Acho que é por causa do livro.

Fi: Aerosmith.

Dani: U2, depois do show... Nirvana, que a gente fez uma versão pra um tributo em homenagem aos 20 anos do Nevermind.


Virgula Música – O DVD tem participação do Rick Bonadio, que também produziu vários discos do NX Zero. Qual a relação dele com a banda?

Di: O Rick é nosso parceiro, o cara que acreditou na gente no começo. Hoje em dia a relação é mais legal ainda, porque ele já tem a confiança na gente pra fazer coisas diferentes como o Projeto Paralelo. Ele gravou todos os pianos dos nossos discos, então nada melhor do que ele próprio para tocar estas partes no show.

Dani: O legal do Rick é que ele é um cara que muda o rumo da banda. Ele conseguiu encurtar o caminho para onde queriamos chegar, pela experiência de trampo que tem. Ele puxa o melhor de casa um. Foi legal que nós fizemos o Projeto Paralelo com ele, porque ele sempre curtiu hip-hop, mas nunca tinha participado de um disco assim.

Fi: Pra nós é legal dar esse presente pra ele também. Era estranho ele nunca ter feito um projeto assim com o tanto de referências que ele tem. Ele produzir e fazer as programações foi uma realização pessoal dele e proporcionarmos isso pra ele foi uma parceria legal.


Virgula Música – O que vocês acham dessa onda do Happy Rock? Tem muita gente que critica, e hoje parece que eles sofrem o bullying que os emos sofriam anos atrás, quando vocês estouraram. O que vocês acham disso?

Fi: Isso é meio normal, na época que os grunges apareceram eles eram criticados pelos metaleiros. A mídia só quer fazer mais uma prateleira pra enquadrar as coisas. Esse lance é mais como um teste para saber se você vai conseguir passar por isso e seguir em frente.

Di: Nunca teve uma explosão de verdade do emo. A mídia acabou com um negócio muito legal que existia, fez parecer uma coisa negativa. Era legal porque todas as bandas tocavam juntas, faziam shows em parceria, emprestavam os intrumentos e na hora que começou a chamar atenção da grande mídia, começou a ficar negativo.

Dani: Já vieram perguntar pra gente o que achamos da roupa do Restart... Eu não quero saber da roupa deles, se eles tocam pelados ou não. Quero saber é do som!

Gee: Já ouvi o disco do Restart. Acho que tem músicas boas pra caramba, enxergando como um compositor. Os caras só tem hits. Dentro da proposta de som deles, da idade deles, eles estão indo super bem. Já até falei pra eles: “o som de vocês não é nada colorido”. Colorido pra mim são bandas que eu vejo no VH1 às vezes, tipo o All Time Low e outras que fazem aquele lance digital dance com rock, que eu acho que soa mais pra isso. O Pe Lanza me deu o disco, ouvi e achei cheio de hits. Só que é aquilo: muita gente deixa de ouvir porque pensa “não vou ouvir esses coloridos não” igual faziam com a gente: “não vou ouvir esses emos não”.

Caco: O pessoal vive pegando no pé por essas coisas. Todo mundo vive falando de campanha contra preconceito, de bullying, mas na real chega a ser hipocrisia porque a própria mídia transforma uma coisa positiva em negativa. Quando vem gringo para o Brasil, a mídia vai lá atrás e faz o que for para chegar perto dos caras. Quando é para valorizar alguma coisa nova aqui no Brasil, colocam um aspecto negativo e caricato. Com o emocore foi assim, com o colorido foi assim, e vai ser assim com outras coisas. Quando ouvi o Restart pela primeira vez confesso que eu não gostei. Não curti a canção, não achei que estava bem produzida. Mas a segunda vez que eu ouvi Te Esperar, achei bem produzida, reparei na maturidade dos caras em relação ao que ouvi antes. Eles estão fazendo uma coisa legal.

Di: Não importa se gosta ou não, o legal é que eles estão levando uma molecada para os shows. Quando você passa por isso como aconteceu com a gente, aprende muita coisa também. É legal passar por isso de cabeça erguida. Tem muitos hoje vão ao nosso show e dizem que não gostavam da gente. Hoje tem muitos de diferentes estilos, gente que vai porque gostou do Projeto Paralelo, que vai pelas que tocam nos rádios ou pelas músicas pesadas como Só Rezo. Então é aquela coisa: você tem que passar por cima disso de cabeça erguida que passa. Tem que continuar sem ligar pra essas coisas. Moda é moda, música é outra coisa.

Gee: A gente agradece a galera ter esquecido a gente porque teve muitos que passaram a respeitar e ouvir o nosso som, que é o mais importante. Daí se ouviu e não gostou, tudo bem.

Caco: Esse lance de preconceito pra nós não existe porque já tocamos com Vitor e Léo, Armandinho, Pitty, Planta e Raiz. Isso é uma coisa que fortalece demais a musica nacional. Não tem porque ficar encanando com barreira.


Virgula Música – Pra terminar: o que ainda falta pro NX Zero conquistar? Pode ser um sonho de consumo.

Dani: Um estúdio casa na árvore, submarino, varanda no ônibus (risos)

Gee: Acho que se a gente ficar mais 40 anos juntos pra mim já vale.

Fi: Perguntaram isso pra gente já e pensamos em ter energia pra estar juntos pra mais 50 anos, enquanto ainda tiver gente querendo nos ouvir. E se um dia nao tiver, a gente vai tocar pra nós mesmos... no estúdio foguete (risos). Acho que outra coisa seria fazer uma tour internacional. Ia ser um bagulho legal de se fazer.

Dani: Hablar outras linguas, comer outras chicas (risos)!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Cantora Tiê brinca de cobaia em campanha publicitária

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


A cantora paulistana Tiê não tem muito tempo de carreira (o primeiro disco Sweet Jardim foi lançado em 2009), mas já arrebanhou um séquito considerável de fãs. Sua interpretação sem vocais exagerados, combinada com postura de palco que demonstra um misto de timidez e espontaneidade, cativam facilmente o público - seja nos momentos melancólicos do seu álbum de estreia ou nas canções que beiram a vivacidade folk e country de seu segundo disco, A Coruja e o Coração (2011).

Percebendo esse magnetismo que Tiê exerce, a Lacta resolveu convidá-la para participar da campanha 'Entregue-se'. A marca planejou uma série de ações que colocam a cantora em uma posição semelhante a uma 'cobaia de laboratório' com belas regalias, expondo-a a uma série de experiências que ela depois relata em seu blog dentro do site da Lacta.

Nessa brincadeira, Tiê já fez uma tatuagem, viajou sem saber o destino e compôs uma música com a participação de seus seguidores no Twitter. A letra de Entregue-se foi escrita coletivamente pela internet a partir de uma promoção envolvendo a hashtag #eumeentrego: foram mais de 4 mil sugestões de internautas, mas apenas 25 foram escolhidas para fazer parte da canção. Todos os autores das frases vencedoras ganharam ingressos para o show dela no Rock in Rio, CDs e DVDs.

Em entrevista ao Virgula Música, Tiê contou sobre como foi compor a música em parceria com internautas, sua participação nas experiências propostas pela campanha e os próximos passos da carreira. Acompanhe a entrevista abaixo.


Você está com um blog dentro do site da Lacta para relatar suas impressões sobre o que a marca te propõe a fazer. Como surgiu essa proposta?

Eles criaram essa campanha que se chama 'Entregue-se' com umas ações em shoppings e outros lugares. A minha parte envolve desde a criação de uma música até umas experiências pelas quais eu tenho que passar. E eles acharam que o meu perfil fazia sentido para o público que queriam atingir, pela minha idade – nova mas não tão nova, com filha e ao mesmo tempo trabalhando – e eles achavam que eu valia pra esse tipo de ação. E rolou uma entrevista minha pra revista Criativa que no final eu falava que meu mantra era "entregue-se" e quando leram isso pensaram "tem que ser a Tiê mesmo" e me contataram!

Como funciona isso? Você fica sabendo o que vai fazer somente no mesmo dia da atividade?

Exatamente, tem ações que eu fico sabendo de última hora! Teve essa última, chamada Primeiro Destino na qual eu viajei e não sabia para onde iria, era escolher o primeiro vôo da tela de embarque do aeroporto e ir. E é divertido, a Lacta tá me proporcionando coisas que eu não faria sozinha, então estou aceitando isso como um desafio. Eu tô animada, tenho me divertido muito! Mesmo a música foi uma ação superlegal porque fazer uma música com 25 tweets não é fácil e eu fiquei com uma pequena dificuldade para fazer, porque as frases não eram excelentes e muitas eram parecidas... Mas tinham outras bem legais e costurei tudo e fiz a música. Então foi uma experiência boa, eu gosto desses desafios mesmo... Acho que vale!



Até o momento, qual foi a melhor experiência? E a mais chatinha?

Nossa, com essa da viagem para Buenos Aires eu fiquei bastante ansiosa porque não sabia para onde iria! Esta eles me avisaram com um dia de antecedência porque eu tinha que arrumar malas, mas aí deixei pra fazer tudo em cima da hora. Foi difícil porque eu tinha de montar a mala sem saber se estaria frio ou calor, tive até insônia na noite anterior à viagem. Mas deu tudo certo, adoro Buenos Aires. Como foi tudo assim meio impulsivo, cheguei lá, peguei um mapa e fui fazendo um roteiro enquanto caminhava. Acho que até agora a ação menos desafiadora deve ter sido a do shopping, que eu fiquei vendada e tive que passar por umas sensações como massagens, cheiros, provar uns chocolates... Na verdade não é que foi chatinha, só achei a mais fácil!

Você teve que fazer uma tatuagem também. Você que escolheu o desenho, certo? Eles não te pediram pra tatuar o logo da Lacta?

Não (risos)! Eu falei que se fosse o logo eu teria que cobrar mais caro (risos)! Como esta não foi a primeira tatuagem que fiz, então não vi problema em fazer, até porque eu poderia escolher o desenho. Escolhi algo que foi importante pra mim, que é o passarinho da capa do meu primeiro disco. Foi uma maneira de me marcar ainda mais com esse álbum.

Em relação aos seus discos, no segundo você desenvolveu mais a faceta de intérprete. Você pretende gravar mais músicas de outros compositores no próximo disco?

Não descarto essa possibilidade. Quando eu estava fazendo o segundo disco, não vi problema em colocar três ou quatro músicas de outros compositores que são meus amigos e admiro porque são bons. Quando coloquei a versão de Você Não Vale Nada Mas Eu gosto de Você foi mais como uma brincadeira, nasceu quase como uma paródia, mas todos que ouviram gostaram e acabei incluindo no disco. Mas para o próximo ainda não sei qual caminho vou tomar, estou pensando mais nos shows atualmente. Eu tenho só comecinhos de músicas, ideias que não devo terminar enquanto ainda estiver em turnê. Gosto de parar um pouco pra fazer as coisas, não gosto de compor no meio dessa correria de agenda de shows.



Então é meio cedo para saber como vai soar o novo disco? Você pensa em fazer algo intimista como o primeiro ou vai ser com banda como no segundo, numa pegada mais 'alegre'?

Não tenho nada pronto ainda, mas acho que o terceiro disco deve misturar um pouco dos dois. Deve ter coisa com banda completa como no A Coruja e o Coração por conta dos arranjos, assim como pode ter músicas mais simples como no Sweet Jardim. Mas é difícil falar sobre o que vou fazer, porque meus trabalhos são autobiográficos e acho que ainda estou vivendo sobre o que vou escrever para o próximo disco.

No último disco você gravou uma música ("Perto e Distante") com participação do Jorge Drexler. Agora vai tocar no Rock in Rio no Palco Sunset com ele. Como vai ser isso?

Olha, na verdade quando ele participou do disco infelizmente a gente nem se encontrou pessoalmente! Outras pessoas sugeriram o contato, foi o pessoal da gravadora, e as assessorias intermediaram. Foi tudo eletrônico. Mas achei que era uma boa coisa e que encaixava bem na música, então não tive nenhum problema quanto a isso, pelo contrário. Agora por conta da apresentação no Rock in Rio que vamos nos encontrar de verdade pela primeira vez e acho que vai ser muito legal, tem tudo para ser um ótimo show.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Palco Sunset promove salada musical no Rock in Rio

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Apostando em encontros inusitados entre artistas de diferentes estilos, o Palco Sunset pretende roubar a cena na edição brasileira deste ano do Rock in Rio. São 24 shows preparados especialmente para o festival, misturando sons como rock, pop, punk, heavy metal, samba, MPB, entre outros.

Pela primeira vez no Brasil, o Palco Sunset já teve três edições (duas em Lisboa e uma em Madri) e oferece aos artistas liberdade para experimentar: podem interpretar o repertório uns dos outros, convidar mais nomes para subir ao palco e soltar a criatividade.

Para esta primeira edição nacional, o Sunset aposta em shows de Mike Patton (vocalista do Faith No More) com a Sinfônica de Heliópolis, Cidade Negra com Martinho da Vila e o rapper Emicida, a cantora Tiê com Jorge Drexler, Erasmo Carlos com Arnaldo Antunes, Ed Motta e Rui Veloso com Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura), Milton Nascimento com Esperanza Spalding, Matanza com BNegão e Mutantes com Tom Zé. Confira a programação completa na galeria acima.

O Vírgula Música entrevistou o cérebro por trás da curadoria do Palco Sunset: o músico Zé Ricardo. Ele nos contou como surgiu a ideia de fundir tantos artistas díspares em cima de um palco e como funciona o processo de seleção de bandas. Confira abaixo.

É a primeira vez que o Rock Palco Sunset chega ao Rock in Rio no Brasil. Como está a expectativa para esta edição?

Estamos naquela reta final e dá aquele frio na barriga. O festival está vindo pela primeira vez com o Palco Sunset no Brasil, mas já fiz ele em 2008 em Lisboa e em 2010 em Lisboa e Madri. É um prazer enorme, acredito que me enriquece muito como cantor e músico.

Como surgiu a ideia de juntar artistas tão diferentes no mesmo palco?

Criei isso em 2003, quando pensamos que aqui no Brasil seria legal os artistas se encontrarem para fazer uma jam session aberta para o público. Surgiu com um projeto menor, chamado Open Air, que fizemos no Rio de Janeiro e em São Paulo em 2003 e 2004. Em 2005 tivemos uma edição em Portugal. Isso chamou atenção do Roberto Medina [empresário e publicitário idealizador do Rock in Rio] e ele me convidou para fazer isso no Rock in Rio em 2008. Me convidaram porque queriam transformar o Sunset em um palco tão importante quanto o Palco Mundo. Então apresentei um conceito novo, promovendo somente encontros de artistas do mundo. Isso fez muito sucesso nas edições de Madri e Lisboa.

Como que você monta a programação do Palco Sunset?

Eu vou viajando nessas loucuras. Primeiro eu vejo as necessidades do palco, a diversidade que o Sunset precisa ter. A partir daí eu escalo os headliners que se encaixam para completar essa diversidade. Chego para um artista e pergunto 'com quem você gostaria de fazer?' e ele me dá uma sugestão. Às vezes eu pergunto 'o que você acha de fulano?' e de acordo com a resposta vamos atrás. Vai muito da conversa. Com o Mike Patton, eu passei cerca de seis meses tentando apresentar o projeto de Heliópolis, porque foi difícil o acesso a ele para apresentar a proposta. É um palco que não pode ser fechado somente através de assessoria ou empresários, o artista precisa se envolver. Tanto que, quando consegui conversar com ele, nós fechamos a participação na hora.

Na sua opinião, quais shows você acha que serão destaque no Palco Sunset este ano?

Este ano aposto que o Mike Patton com a orquestra de Heliópolis vai ser incrível. Milton Nascimento com a Esperanza Spalding acredito que vai ser histórico. O Jorge Drexler com a Tiê também vai ser bem emocionante, Arnaldo Antunes com Erasmo carlos vai ser muito especial... São muitos 'filhos', é difícil escolher só um!

Qual o show que você queria colocar no Palco Sunset mas ainda não conseguiu?

Queria convidar o [guitarrista mexicano] Santana para o palco. Não sei ainda com quem, mas queria trazê-lo para 2013!

Você tem um trabalho autoral como músico e acabou de lançar um novo álbum este ano, Vários em Um, que também é marcado por várias participações, como Armando Marçal, o maestro Laércio de Freitas e o cantor português Tim, da banda de rock Xutos & Pontapés. Como está o trabalho de divulgação dele?

Ele não tem nem um mês de vida, acabou de sair. Mal chegou nas lojas mas já está começando a ser bem recebido. Assim que acabar o Rock in Rio eu volto a fazer shows. Tenho um no dia 11 de novembro em Portugal e outro provavelmente dia 15 de novembro na Espanha. Depois volto para cá para fazer shows no Brasil. O Rock in Rio é a prioridade máxima agora, mas graças a ele meu trabalho como músico também está tendo uma boa visibilidade.

sábado, 3 de setembro de 2011

Luiza Possi fala sobre o novo DVD 'Seguir Cantando'

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Luiza Possi está completando 10 anos de carreira e não demonstra nenhum sinal de cansaço da labuta. Pelo contrário: como uma autêntica workaholic, a cantora sempre arranja espaço em sua rotina para um novo projeto. Tanto é que Luiza lança neste sábado (dia 3), o DVD e CD ao vivo Seguir Cantando, no Citibank Hall em São Paulo. Confira os detalhes do show no final da página.

Gravado em parceria com o Canal Brasil, o DVD conta com as participações especiais de Ivete Sangalo - nas faixas Circo Pega Fogo e Azul - e da mãe, Zizi Possi, cantando Cacos de Amor, marcando a estratégia de Luiza para romper barreira de preconceito contra gêneros e estilos e abraçar a música como um todo. Além disso, Seguir Cantando serve para reafirmar o caráter da cantora também como compositora: o registro incluiu oito de suas crias.

Em entrevista ao Virgula Música, Luiza conta como divide seu tempo entre sua carreira como cantora, os preparativos do DVD e a participação na TV aberta como jurada do programa Ídolos, da Rede Record. Veja a entrevista abaixo.

Esse já é o segundo DVD e CD ao vivo da sua carreira. Porque você resolveu lançá-lo agora? O que mudou em relação ao anterior, depois de A Vida É Mesmo Agora (2007)?

Muitas mudanças, muitas músicas novas, eu tenho um repertório novo. A relação com o público foi se desenvolvendo e crescendo, teve uma mudança de postura. Hoje, quando vejo meu primeiro DVD, eu ainda tenho muito orgulho dele, mas acho que precisava de alguma coisa que refletisse mais meu momento atual. Fora o fato de que no primeiro DVD acabou não entrando nenhuma música própria e neste novo a maioria das músicas são minhas.

Falando em trabalho próprio: você começou a compor cedo, na infância. A maneira como você escreve canções também mudou?

Demorou para virar um 'método de composição'. Para compor você precisa mais de tempo, não é um trabalho como outro qualquer, no qual você se propõe a fazer uma coisa das 3 às 4. Eu ensaio com a minha banda em estúdio, mas gravo e estudo sozinha em casa. Me programo para durante a semana ter algum momento para estudar. É uma coisa que precisa de paz, de calma e pontos de vista em cima de histórias. Não importa qual a história, mas sim qual o ponto de vista que você tem dela e a maneira poética de contar isso.

Como é a sua rotina? Você consegue dosar tempo para todos os seus projetos?

Minha rotina é uma loucura! Estou sempre trabalhando, fazendo show, respondendo coisas nas redes sociais, criando o que eu tenho que incluir no site, no Facebook... Eu que penso toda a coisa da internet e posiciono a equipe que faz as coisas pra mim. Tenho muitos amigos publicitários que me dão uma visão numérica, real e comercial do que acontece, de Google, YouTube e pesquisas desse mercado.

Faço uns 10 a 12 shows por mês, em média. Mas é puxado porque tem a viagem para o evento, o dia anterior, o dia depois, então fica tudo em função disso. Tenho também o Lado B, que é um subcanal dentro do meu canal no YouTube, no qual eu apresento versões de outros artistas... É uma coisa que me obriga muito a estudar, porque me faz aprender as letras das músicas novas, ficar em contato com os instrumentos, e é uma coisa bacana por esse lado também. Este ano ainda teve o Ídolos, com a três rotinas de gravações: a do programa, a do DVD e do reality show que fizemos para o DVD. Eu não paro um minuto!

Depois de terminar de divulgar o DVD, quais são os planos?

A promoção desse DVD vai durar muito porque ele acabou de sair. É um projeto com o Canal Brasil, então ele vai ficar na grade de programação por um tempo e tem um repertório muito grande: foram gravadas 25 músicas e dá para trabalhar muito tempo em cima dele. Mas isso não quer dizer que vou ficar parada nisso; meu show de estreia neste sábado vai ter o Paulinho Novaes, que é um dos compositores que também está no DVD, mas vai ter música nova. Eu tenho isso de uma rotatividade muito grande de músicas que eu vou descobrindo e não consigo deixar de colocar no palco. O próprio projeto Lado B também tem isso e com certeza vai ser tocado de maneira paralela ao longo disso.

Falando no Lado B, como você está tocando este projeto?

Para o Lado B estou pensando em um formato legal. É só uma diversão caseira na qual eu me permito tocar violão e piano sem compromisso. Também devo chamar uns amigos que não são necessariamente músicos profissionais para se aventurar, é uma coisa mais desencanada. Essa semana gravei um especial com três músicas do John Mayer com o Bruno Copini, que é o baixista da minha banda, como meu convidado porque ele também canta muito. Sempre tivemos uma parceria extra e desta vez tem ele tocando violão e eu piano em algumas músicas. Agora eu quero fazer algo dos anos 80: quero gravar Simply Red, Roxette e outras bandas que eu escuto em casa e que não fazem parte do meu trabalho.

O que você tem ouvido ultimamente e o que nunca sai das suas preferências?

Estou ouvindo bastante Sean Lennon, estou achando muito bom. Mas tive influência de muita coisa como Take 6, Barbara Streisand, Stevie Wonder, Ivete Sangalo e minha mãe. Sempre ouvi muito Maria Bethânia, Carly Simon e James Taylor, que eu gosto bastante. E também muito Lenine.

Você já tocou músicas de Jorge Drexler, que é uruguaio, e de Kevin Johansen, que é argentino. Você escuta muita música latina? Como você enxerga essa integração entre o Brasil e os outros países da América do Sul?

Sim, também escuto bastante muita música latina. Gosto muito do Pedro Aznar, Rosário Flores, Andrés Calamaro, persigo bastante essa galera. Acho que quanto menos fronteiras tiver, melhor. Infelizmente o Brasil absorve muito e mais rapidamente a cultura americana, mas eu acho que os nossos vizinhos mais próximos são muito ricos, a cultura latino-americana é muito rica. E eu sempre tentei trazer isso para o meu trabalho, puxar isso para o Brasil e ser uma das representantes disso.

Você faz o Ídolos junto com o Rick Bonadio, que também já produziu seu trabalho. Como é a relação de vocês? Você não se sente intimidada pela presença dele, visto que ele já foi seu 'mentor'?

Que nada! O Rick me 'salva' de tudo, eu amo o Rick. A gente se dá muito bem, somos muito amigos. É muito bom estar convivendo com ele. A melhor coisa do programa é estar perto dele de novo!

Seus discos são lançados pelo selo LGK Music, que foi fundado por você e seu pai, Líber Gadelha. Qual sua participação no selo? Você participa da seleção de bandas ou artistas para lançamento de discos?

Minha participação no selo é que eu sou filha do meu pai (risos). A gente começou porque quando eu saí da gravadora, outras queriam me contratar e eu ia conversar junto com ele, pois eu queria ele produzindo. Daí as gravadoras vieram e falavam "quero te contratar mas não como cantora de MPB". Queriam me empurrar outras coisas, mas falei "então um beijo, tchau". Com isso, pensamos: "quer saber, vamos abrir o nosso selo?", daí surgiu a LGK. Eu ainda não participo da seleção das bandas, mas eu e meu pai trocamos muitas ideias e acabamos ensinando e aprendendo juntos. Atualmente faço só o meu trabalho lá, mas um dia quero poder tomar conta do selo sim!