segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Aerosmith espanta mau tempo e fase ruim com show memorável em São Paulo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Nem mesmo a forte chuva atrapalhou o espetáculo que o Aerosmith promoveu no palco da Arena Anhembi neste domingo, dia 30. Em sua quarta passagem pelo Brasil, a banda americana fez um apanhado geral dos hits da carreira e mostrou que ainda tem muito fôlego para realizar shows memoráveis, espantando a nuvem negra que pairou em cima do grupo nos últimos tempos de brigas internas.

Às 20h15 ouviu-se a primeira introdução da noite: "A Cavalgada das Valquírias", de Richard Wagner. Quando a sinfonia acabou, o pano preto que escondia a movimentação no palco foi ao chão, apenas para dar uma falsa surpresa ao público: a banda ainda não estava em cena. Depois de mais duas introduções (para que tanto suspense?), o grupo iniciou o show debaixo de chuva com três pérolas do início da carreira: "Draw The Line", "Same Old Song and Dance" e "Mama Kin".

Steven Tyler, a principal figura da banda, começou a apresentação com uma certa timidez, com a voz um pouco rouca. Mas para quem havia estampado as manchetes dos últimos dias com seu rosto danificado por uma queda no banheiro, estava inteiraço. O vocalista iniciou o show usando óculos escuros, mas durante "Mama Kin", Tyler jogou o acessório longe e o tal olho roxo não era tão visível. Se os fãs estavam preocupados com o desempenho do vocalista no palco, essa preocupação logo mostrou-se vã. Mesmo com 63 anos nas costas, Tyler justificou seu lugar entre os maiores frontman do rock: o cantor continuou com suas danças performáticas sem se importar com o palco molhado pela chuva.

"Janie's Got a Gun" introduziu a sequência de músicas que desembocou em um revival do momento-chave do Aerosmith: os anos 90. Mesmo o longo solo de bateria de Joey Kramer - fortemente influenciado pelo estilo de John Bonham (Led Zeppelin) – não esfriou o ritmo do show, que teve seus pontos mais altos durante os solos de guitarra de Joe Perry em "Livin' On The Edge" e "Amazing".

Depois de "What It Takes" e "Last Child", Tyler saiu de cena para que Perry assumisse os vocais em "Combination", apenas para retornar em seguida e desferir a maior 'covardia melódica' da noite: o hit meloso "I Don’t Want to Miss A Thing". O que se seguiu foi o maior momento em uníssono da platéia, e ao meu redor eu enxergava vários fãs cantando a letra aos prantos e soluçando. Nem mesmo quando Paul McCartney tocou "Give Peace A Chance" e "Hey Jude" em sua passagem por São Paulo no ano passado eu vi ocasião tão oportuna para casais e amigos se abraçarem.

Por mais que não tenha me contagiado pela energia piegas do momento, o Aerosmith desferiu em seguida o golpe de misericórdia: "Cryin'". A introdução pesada surgiu repentinamente, e logo que os acordes melosos do verso foram dedilhados, era preciso se esforçar para conter a ameaça conhecida como 'olhos lacrimejantes'.

Depois dessa forte sequência de baladas, veio um solo de baixo de Tom Hamilton. Enquanto o baixista se exibia para mostrar que sabia fazer algo além do básico que exerce nas músicas da banda, Joe Perry mostrou à câmera do telão seu dedo ensangüentado; o guitarrista parece ter se exaltado durante os últimos solos e a unha de seu dedo indicador da mão esquerda levou a pior. Mas isso não o impediu de executar o riff memorável de "Sweet Emotion", que foi recebida muito bem pelo público.

BIS

A banda deixou o palco e retornou para o primeiro bis da noite, matando a vontade da plateia que pedia a balada "Dream On". Depois de retomar sua veia mais roqueira com os clássicos "Love In An Elevator" e "Walk This Way", o Aerosmith saiu mais uma vez de cena. Mas como o público havia surpreendido Tyler com vários cartazes com os dizeres "Angel" em certa parte do show, o grupo teve de volver ao palco para saciar novamente o apetite da plateia por baladas. O vocalista fez questão de salientar que a banda não tocava a canção há cerca de cinco anos, mas a tocaram mesmo assim. Para terminar o show em alta rotação, o cantor pediu para a banda emendar "Train Kept A-Rollin'".

Incrível como uma banda que iniciou sua carreira na década de 70 continua com energia para fazer um show de dimensões épicas e corresponder às expectativas do público. Steven Tyler e seus comparsas já chegaram ao fundo do poço diversas vezes, mas sempre retornaram com bons discos, tomando de assalto as paradas contemporâneas e justificando sua relevância no palco. O Aerosmith serve de lição viva para Axl Rose e seu atual arremedo de Guns N Roses, que tenta provar (sem sucesso) que ainda pode fazer algo de significativo mais de 15 anos depois de seu auge.

Set list:

01 - Draw the Line
02 - Same Old Song and Dance
03 - Mama Kin
04 - Janie's Got A Gun
05 - Livin' on the Edge
(Solo de bateria)
06 - Rag Doll
07 – Amazing
08 - What It Takes
09 - Last Child
10 – Combination
11 - I Don't Want To Miss a Thing
12 - Cryin'
(Solo de baixo)
13 - Sweet Emotion

1° bis
14 - Dream On
15 - Love in an Elevator
16 - Walk This Way

2° bis
17 – Angel
18 - Train Kept A-Rollin'

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Depois de investida na política, KLB anuncia retorno com lançamento em 3D

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O KLB está de volta. O trio formado pelos irmãos Kiko (guitarra e voz), Leandro (voz e bateria) e Bruno (baixo e voz) lançou no início deste mês o single Vai. A faixa mantém a sonoridade pop romântica característica que conquistou os fãs do grupo e faz parte do novo trabalho, KLB 3D. Como o nome já sugere, o disco traz um DVD com dois clipes gravados no formato 3D.

O novo álbum terá 15 faixas – sendo 14 inéditas e uma regravação para o antigo hit A dor desse amor, que desta vez aparece em uma nova versão - com letra dividida nos idiomas inglês e espanhol. Os clipes das músicas Quando O Amanhã Chegar e A Dor Desse Amor estão disponíveis em 3D, e segundo Kiko, a produção do grupo está trabalhando em estender o formato em três dimensões aos shows. "Estamos voltando e a coisa do 3D é um diferencial legal para marcar esse retorno", afirmou o músico ao Virgula Música.

Ausentes do mundo musical desde 2009, os integrantes da banda resolveram dar uma pausa para se dedicar à política, investindo na bandeira contra a pedofilia. Os irmãos são membros da CPI da Pedofilia desde que ela foi instaurada, há quatro anos. "Sempre defendemos a questão da família, então seria natural combater algo que atinge tanta gente no Brasil".

Opa, se a questão é defender a família, então o que o KLB acha da questão da homossexualidade, considerada por muitos religiosos como uma afronta aos padrões familiares? "A homofobia é péssima, assim como qualquer tipo de discriminação. Tem que existir respeito, acho que cada um deve fazer e seguir no que acredita. Mas também acho necessário realizar um trabalho de conscientização correto, sem fazer uso de apologias", disse Kiko, em clara referência ao polêmico Kit Anti-homofobia do MEC, que foi considerado impróprio pelos parlamentares.

Em 2010, Kiko e Leandro se lançaram pelo partido DEM como candidatos a deputado pelo estado de São Paulo, mas não conseguiram se eleger. Porém, como suplente do partido, Leandro agora ocupará a vaga de deputado estadual, na Assembléia Legislativa de São Paulo, deixada por Bruno Covas (PSDB), que foi nomeado secretário de Meio Ambiente pelo governador Geraldo Alckmin.

Mesmo que a política tenha assumido o foco das atenções do grupo nos últimos tempos, Kiko diz que essa inclinação não terá influência no trabalho do grupo. "São coisas bem diferentes, o KLB é uma banda de músicas românticas. Claro que esse nosso envolvimento com a política nos proporcionou um amadurecimento pessoal, mas essa parte da política não se estende à nossa música ou letras", garante.

"Sabemos bem como separar as coisas. Se fosse assim, nós ouvimos muitas coisas diferentes do que fazemos, como Beatles, Aerosmith, Guns 'N' Roses, Rolling Stones, hip hop moderno. Tem dia que estou ouvindo Julio Iglesias, tem dia que escuto Rage Against The Machine. E isso não influi diretamente no nosso som, que é mais pro pop romântico", explica Kiko.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Tears For Fears não supera 'baile da saudade' em São Paulo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O Tears For Fears bem que tentou com afinco, mas não conseguiu passar de um baile da saudade para o público nostálgico do Credicard Hall nesta quinta-feira (dia 6), em São Paulo. A banda de Roland Orzabal (vocal, guitarra) e Curt Smith (vocal, baixo) reproduziu suas canções com entrosamento e qualidade de som impecáveis até mesmo nas canções mais novas, mas grande parte da plateia só estava ali para ouvir hits como Shout, Head Over Heels e Sowing The Seeds Of Love.

O grupo subiu ao palco às 22h, brindando o público logo de cara com um de seus maiores clássicos: Everybody Wants To Rule The World. Impressionante como a voz de Curt Smith estava bem fiel à gravação original; qualquer desavisado poderia sugerir que a banda estava fazendo playback - mas não foi o caso. Em seguida, veio Secret World, que incluiu um pequeno trecho da letra de Let Em In, de Paul McCartney. A referência faz parte do contexto do disco mais recente do grupo, Everybody Loves a Happy Ending (2004), que segundo Orzabal, foi bastante influenciado pelo trabalho solo do ex-beatle.

Sowing The Seeds Of Love derramou mais uma boa dose de nostalgia para o público do Credicard Hall. Ao final, Orzabal declamou em português "estamos felizes de estar aqui esta noite com nossos amigos do Brasil. Estivemos aqui há 15 anos, foi fantástico. Boa noite, São Paulo".

A quase beatlemaníaca Everybody Loves a Happy Ending se mostrou como mais um grande momento do show. Apresentando a dose certa de psicodelia, a música poderia facilmente ser uma das faixas do disco Ram, de Paul McCartney. Mas ela passou quase despercebida pelo público que estava lá para ouvir somente os hits.

Ao terminar a canção, Smith foi ao microfone e pediu desculpas por não ser tão bom no português como Orzabal. O baixista se limitou apenas a mandar um "obrigado" em português e depois anunciou Mad World - outra que foi bem recebida pelo público.

Se o Tears For Fears cometeu algum tropeço em seu setlist, foi a versão desnecessária de Billie Jean, de Michael Jackson. A banda apresentou uma versão bem arrastada do clássico do Rei do Pop; começou com algumas nuances de blues, mas no geral foi um momento descartável. Seria bem melhor ter incluído alguma canção da fase em que Curt Smith se afastou do grupo, como Raoul And The Kings of Spain ou God's Mistake. Mas deste período, o grupo tocou apenas o hit Break It Down Again.

Ao longo do show, ficou subentendido que Smith não está em sua melhor forma: o backing vocal Michael Wainwright assumiu os vocais de algumas faixas, talvez para poupar a voz de Smith por conta da maratona de shows no Brasil. Mas Wainwright revelou-se como uma bela arma secreta; o cantor consegue reproduzir com perfeição os timbres de Orzabal e Smith e não deixou cair o nível da apresentação. Seu alcance vocal também mostrou-se muito bom ao interpretar a voz feminina do clássico Woman In Chains.

Em suma, o Tears For Fears pode ter feito um show que primou pouco pela espontaneidade (o repertório é praticamente igual às últimas apresentações na América Latina) mas mostrou que tem canções interessantes além dos hits manjados de quase trinta anos atrás. Porém, quando as luzes do Credicard Hall se acenderam em músicas como Head Over Heels e Shout, ficou claro que a grande maioria do público presente estava mais preocupada em se divertir cantando suas próprias interpretações das letras e dançar com as mãozinhas para o alto, no melhor (pior) estilo David Guetta.


Setlist:

01 - Everybody Wants to Rule the World
02 - Secret World
03 - Sowing the Seeds of Love
04 - Change
05 - Call Me Mellow
06 - Everybody Loves a Happy Ending
07 - Mad World
08 - Memories Fade
09 - Closest Thing to Heaven
10 - Billie Jean (Michael Jackson cover)
11 - Advice for the Young at Heart
12 - Floating Down the River
13 - Badman's Song
14 - Pale Shelter
15 - Break It Down Again
16 - Head Over Heels

Bis:
17 - Woman In Chains
18 - Shout 

domingo, 2 de outubro de 2011

System of a Down faz show sem frescuras em São Paulo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O System of A Down fez um show 'direto e reto' na Chácara do Jockey neste sábado (1°) em São Paulo. O grupo, formado por Daron Malakian (guitarra, vocais, teclados), Serj Tankian (vocais, teclados), Shavo Odadjian (baixo) e John Dolmayan (bateria), apresentou um extenso repertório comprimido em uma apresentação de cerca de 1h40 minutos.

Quase uma semana atrás, a popstar Katy Perry apresentou seu som no mesmo local, com uma super produção que contava com fogos de artifício, inúmeras trocas de figurino, carícias em um jovem de 17 anos e cenário de pirulitos e algodão doce. Mas quando chegou a vez do SoaD neste sábado, a banda mostrou que um show não precisa de pirotecnias ou "boa noite, Brasil" em português macarrônico - procedimento considerado padrão na música contemporânea - para agradar seu público.

O máximo de produção na apresentação eram três telões: dois aos lados do palco e um enorme ao fundo, no qual passavam algumas imagens sem muitas mudanças. Não se sabe se o show do SoaD no Rock in Rio neste domingo contará com uma estrutura maior, mas em São Paulo ficou claro que o grupo se preocupa mais em justificar a performance com base em seu setlist.

E que setlist: foram 28 músicas pinceladas dos cinco discos da banda, tocadas sem pausa para bis, com algumas emendadas em um ritmo frenético. O início, com Prison Song - na qual o grupo surgiu com o palco coberto por um enorme pano com o logotipo do SoaD -, foi seguida por B.Y.O.B. (um dos momentos 'todos cantam' do show), Revenga, Needles e Deer Dance.

Apesar do grupo ser conhecido pelas visões políticas e sociais das letras de suas canções, em São Paulo o SoaD preferiu não fazer um longo discurso. Serj Tankian limitou-se apenas a comentários um pouco confusos enquanto Malakian dedilhava notas na guitarra, carregadas de efeitos. Segundo ele, fazemos parte de um século que 'mata muita gente' com guerras e que 'apoia a comunidade indígena do Brasil contra o predomínio dos desenvolvimentos desnecessários que estão sendo feitos'. Seriam sobre as obras do País para a Copa do Mundo e Olimpíadas como prioridades à frente de outras medidas mais urgentes?

No mais, o vocalista se preocupou em cantar, tocar violão em Question!, teclados e guitarra nas músicas em que Daron Malakian assumia os vocais principais. Tanto a postura de palco quanto o visual de Tankian contrastam com o de seus companheiros: o frontman fazia trejeitos com os braços no ar e trajava uma camisa de botões branca, ao contrário de seus companheiros, que se igualavam às centenas de camisetas pretas na plateia. Se no rock pesado é mandatório fazer cara de malvado, Tankian quebra esse paradigma no palco, parecendo mais um tiozinho amigável com um cavanhaque estranho.

O público - 25 mil pessoas, de acordo com a assessoria do evento - agitou mais durante os hits Hypnotyze, Chop Suey!, Aerials, Toxicity e no final, com Sugar, que foi emendada numa barulheira apoteótica para marcar a despedida do grupo. A plateia ainda esperou um tempo para ver se aconteceria um bis, mas ele não veio. Por mais que o SoaD tenha tocado tantas músicas, o ritmo nonstop do show deixou muitos fãs querendo mais. E se a banda resolver oficializar a volta com um disco de composições inéditas, ficou mais do que provado que ainda possui um público para prestigiá-lo.

Setlist do show:

01 – Prison Song
02 – Soldier Side - Intro / B.Y.O.B.
03 – Revenga
04 – Needles
05 – Deer Dance
06 – Radio/Video
07 – Hypnotyze
08 – Question!
09 – Suggestions
10 – Psycho
11 – Chop Suey!
12 – Lonely Day
13 – Bounce
14 – Lost In Hollywood
15 – Kill Rock ‘N’ Roll
16 – Forest
17 – Science
18 – Mind
19 – Innervision
20 – Holy Mountains
21 – Aerials
22 – Vicinity of Obscenity
23 – Tentative
24 – Cigaro
25 – Suite-Pee
26 – War?
27 – Toxicity
28 - Sugar