segunda-feira, 28 de novembro de 2011

"Foi muita burrice o RPM ter parado", diz Paulo Ricardo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O RPM está de volta – de novo. Famoso na década de 80 por clássicos como "Loiras Geladas", "Olhar 43" e "Rádio Pirata", o grupo formado por Paulo Ricardo (voz e baixo), Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra) e P.A. (bateria) promete voltar aos holofotes com o novo álbum Elektra, lançado em 20 de novembro.

"Não fazia música há dois anos e estava com medo de passar por um certo bloqueio", explicou Paulo Ricardo, rasgando seda para o parceiro de composições Luiz Schiavon. "É lindo e inexplicável o que tenho com ele. Escrevemos umas 4 ou 5 letras na mesma noite. Foi uma burrice a gente ter parado", lamentou o vocalista.

O RPM já passou por cinco reuniões anteriormente – em 1993, 1994, 2001,2003 e 2008 – mas somente agora que o grupo retorna com material novo, após 23 anos sem lançar músicas inéditas com a formação clássica. O grupo começou a ensaiar uma volta definitiva em 2002 quando gravou CD e DVD ao vivo pela MTV, mas logo se separaram novamente. De acordo com o vocalista, o requisito principal para esta nova volta era um trabalho ímpar.

"A escolha do repertório partiu do zero. A prioridade era realizar um trabalho com músicas novas. Para isso, começamos o processo de composição em dezembro de 2010", explicou Schiavon. Em seguida, o grupo iniciou uma turnê em maio de 2011, no Credicard Hall, em São Paulo. Após cerca de 60 shows que pretendiam fazer jus às megaproduções características do grupo durante os anos 80 (contando com tela transparente em frente ao palco e projeções de luz), o RPM veio com um disco um pouco mais dançante, com forte presença de elementos eletrônicos. Parte dessa nova fase também se reflete no álbum contar com um CD extra, contendo sete remixes.

"Não estamos numa seara nova, estamos explorando com mais recursos coisas que já tínhamos, usando elementos eletrônicos com outras tecnologias", ressaltou Schiavon. Paulo Ricardo explicou que os remixes são "mais voltados para as pistas de dança e rádio".

Em entrevista ao Virgula Música, o grupo contou mais detalhes sobre o novo disco, como está correndo esta nova volta do RPM, entre outros assuntos. Leia abaixo.

 

Virgula Música - O RPM já parou e voltou algumas vezes. O que vocês acham que está diferente neste novo retorno?

Schiavon – O relacionamento pessoal, o respeito recíproco, a tolerância, a alegria de tocar junto, o amadurecimento, a evolução pessoal. Não só do plano espiritual, mas também como músicos. Isso tudo dá uma segurança, pegamos a estrada de maneira alegre. Hoje subimos no palco para nos divertir. E isso contagia o público. E não é porque estamos no começo da turnê, porque já fizemos uns sessenta shows...

Virgula Música – E já chegou em um nível que vocês não se sentiam mais animados em fazer isso? Quando foi o ápice disso?

Deluqui – Quando demos as paradas anteriores. Em alguns momentos os interesses já não eram os mesmos, e isso é o que geralmente acontece com as bandas e os casamentos. Os casamentos acabam porque as pessoas já não têm os mesmos objetivos. Quando isso aconteceu com a gente, também paramos. Isso aconteceu com os Beatles, os Stones, várias bandas.

Schiavon – Pois é isso, das últimas vezes fomos até onde deu e paramos. Tivemos várias razões, mas no geral era sempre ligado à conceituação musical: o que fazer, para onde ir, como tocar a banda para a frente. Talvez tenhamos parado por não ter uma pessoa que nos indicasse o valor que temos juntos, de como é difícil tocar e fazer sucesso como fizemos um dia. Hoje vemos que paramos com a banda por bobagem, coisa que não faríamos hoje em dia.

Paulo Ricardo - É engraçado, porque antes eu estava passando por um período sem compor, cerca de uns dois anos sem escrever nada. Daí de repente quando nos juntamos, surgiram umas 4 ou 5 letras em uma só noite. Tocar e compor com o RPM é um privilégio, foi muita burrice nossa ter parado com tudo isso por tanto tempo.

Virgula Música – O novo disco tem características bem fortes de toques eletrônicos. Como surgiu esse direcionamento?

Paulo Ricardo – Não é exatamente algo que nunca fizemos antes. Surgimos em uma época na qual o eletrônico começou a tomar conta da cena, com grupos como Kraftwerk e New Order. Além disso, fomos pioneiros no remix no Brasil, com uma versão para "Loiras Geladas". 

Schiavon – Não estamos numa seara nova, estamos explorando com mais recursos coisas que já tínhamos, usando elementos eletrônicos com outras tecnologias. Acho que temos influências muito semelhantes em relação ao que está rolando por aí hoje. O DJ atualmente é um artista que cumpre o seu papel como atração principal. O David Guetta, por exemplo, é um show completo, o cara é um rockstar. Neste trabalho misturamos a facilidade dançante do eletrônico sem descaracterizar o som da banda.

Paulo Ricardo - Isso, os remixes são mais voltados para as pistas de dança e rádio. Mas o nosso rock característico ainda está ali.

Virgula Música - Vocês já comentaram várias vezes que tiveram grande influência de rock progressivo no início. Mas quais são as influências de agora?

Deluqui – Hoje temos bem menos a coisa do progressivo. Eu praticamente não tenho escutado música de outros artistas. Pra você ter uma ideia, no meu Ipod eu tenho umas 600 músicas, e acho isso muito pouco, sou muito seletivo. Eu prefiro o silêncio. Eu escuto o Muse, mas não sou um pesquisador de música. O que eu acho super bacana do RPM é que não copiamos as bandas de fora. Fazemos o que gostamos, nos reunimos, tocamos e sai legal.

Schiavon – Especificamente sobre o progressivo, tínhamos mais influência no início da carreira. Nos distanciamos disso ao longo do tempo e hoje temos muito claro que música está muito ligada a celebração. Não é aquela coisa contemplativa como era na década de 70, como era no auge do progressivo. Nosso show é uma festa, o pessoal dança e pula. Mas isso não impede que a música tenha conteúdo; pode ser uma música boa de dançar, ter um bom arranjo, uma boa letra, ser bem construída e bem tocada. Acho que estamos bem para esse lado e assimilamos um pouco de motown, de dance, música eletrônica atual. Acho que estamos mais influenciados por isso.

Virgula Música – Uma estrofe da música "Muito Tudo diz 'é muita informação e pouco conteúdo'. Parece uma crítica, mas sobre o que isso se refere, exatamente?

Paulo Ricardo – É uma comparação aos tempos de quando começamos com o que temos agora, com a internet. Quando começamos, a informação era muito escassa. Não tínhamos internet e nem MTV, então para ouvirmos coisas novas tínhamos um verdadeiro contrabando de informações: era revista, troca de cartas. Hoje em dia, isso mudou muito, está tudo à disposição na internet. Pra gente, é uma ferramenta útil. Colocamos as faixas novas no site e as pessoas já podem ouvir. Mas nós não achamos que essa revolução tecnológica representou necessariamente um upgrade para a música na questão da criatividade. Prova disso são as bandas dos anos 80 que são consideradas clássicos (tanto nacionais quanto internacionais) e a internet facilita o acesso para a garotada. Hoje em dia com programas como o Garage Band é fácil gravar um disco em casa, mas isso não quer dizer que a qualidade tenha aumentado. Existe um pouco de uma cobrança, principalmente em cima de mim, para que tenhamos letras políticas. Já fizemos coisas assim antes, porque tínhamos recém saído de uma ditadura e aquilo na época era pertinente. Hoje em dia o foco é outro, acho muito delicado criticar um governo que já teve mais de 80% de aprovação. Hoje os questionamentos são mais internos, questões éticas de cada um. Só porque se tem muita informação não significa que tem muito conteúdo. É muita coisa, você não tem tempo de filtrar o que tem mais profundidade. Não tem condição um cara sair da faculdade e não saber escrever direito. Vocês jornalistas devem estar presenciando este triste e trágico evento; houve demissão do pessoal de mais tempo de carreira e que tinham salários mais caros para contratação de uma garotada com linguagem de internet. Então essa música toca também nesse tipo de assunto. Eu não tenho mais saco pra política, mas eu tenho que dizer que o mundo tem que ter qualidade e foco.

Virgula Música - O que vocês acham que vale a pena na música nacional agora?

Schiavon – Eu vou ser bem sincero: eu acho que esse boom tecnológico todo abriu a porteira para um monte de lixo também. Mas o mercado se auto-ajusta. De repente você vê uma surpresa como o da Maria Gadu, que é difícil, complexo, não tem nada a ver com sertanejo. É extremamente bem-elaborado e um sucesso de público. Isso me indica essa visão, me dá a sensação de que temos muita bobagem, mas que quando aparece alguma coisa de qualidade, acaba se sobressaindo e tendo um destaque natural. Acho que isso também aconteceu com o Diogo Nogueira, que não é realmente novo, mas é um grande cantor. No meio dessa bagunça da ebulição da internet, o que é ruim esfria. Mas não podemos ser preconceituosos e considerar que só música de elite é boa. Dentro do universo sertanejo tem muita coisa de qualidade também. Sem falar da música e do gênero, mas acho o Luan Santana um tremendo performer. Já vi um show dele uns três anos atrás e ele tem um domínio de palco de gente experiente. E tudo isso de uma maneira bem instintiva: ele canta com absoluta perfeição, corre pelo palco inteiro e não se cansa. Não é porque não gostamos do gênero que vamos jogar pedras.

Virgula Música – Falando em 'jogar pedras', a polêmica da vez é o Lobão versus Lollapalooza Brasil. Vocês já foram convidados pra tocar em um festival com atrações internacionais e passaram por essa situação de tocar em horários considerados desprivilegiados?

Schiavon – Esse caso do Lobão eu não tenho completa noção de como ocorreu. Mas nos grandes festivais lá da década de 60, como Ilha de Wright, Woodstock, teve gente que começou à tocar às 9 da manhã. O Jimi Hendrix tocou às 11h! Qual o problema? Tudo bem, o Lobão não quer tocar às 10 da manhã porque dorme tarde e não quer acordar cedo. Será que é isso mesmo? É difícil saber o real motivo. Talvez ele não tivesse concordado com a atração que tocaria depois dele, algo assim. Fazer um julgamento agora sobre isso seria uma coisa leviana. O Lobão é um cara inteligente pra cacete, é meu amigo, e imagino que ele tenha os motivos dele pra recusar. Mas acredito que aqui no Brasil o pessoal é muito preconceituoso com essa história da sequência das apresentações. Na época da morte do Freddie Mercury, em homenagem ao Queen, fizeram um show especial e o Rod Stewart entrou no palco às 15h. E quem foi tocar às 21h nem era tão conhecido. Acho que quem faz estes eventos está mais preocupado com a sequência de produtos, de eventos, do que se o artista merece tocar naquele horário ou não.

Virgula Música – Com o RPM então não teria problema tocar no mesmo horário proposto ao Lobão, por exemplo?

Schiavon – Pelo horário não. Pelo contrato, talvez.

Deluqui – Nos adaptaríamos. Mas se houvesse condições injustas, também não daria.

Schiavon – Pra mim tá muito mais relacionado às condições do que pode ser feito do que pelo horário. Não vejo problema em tocar às 10h, eu costumo acordar às 7h (risos)!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

OK Go toca de graça pelas ruas de São Paulo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O OK Go é uma banda americana especialista em criar clipes bombados na internet com baixo orçamento e ideias simples. Prova disso é o vídeo de "Here It Goes Again", que mostrava Damian Kulash (vocal, guitarra), Tim Nordwind (baixo, vocais), Dan Konopka (bateria) e Andy Ross (guitarra, teclados, voz) fazendo uma coreografia em cima de esteiras de corrida, e foi visualizado por cerca de um milhão de pessoas no YouTube em somente seis dias.

De olho no potencial viral do grupo, a marca de tequila Jose Cuervo contratou os rapazes para uma ação especial, com o intuito de divulgar o novo drink Cuervo Cold. Com isso, a marca está promovendo uma série de shows gratuitos da banda pelas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro entre os dias 19 e 25 de novembro.

A ideia é distribuir o OK GO em pequenas doses, com apresentações itinerantes em um caminhão de bebidas. A ação envolve ainda a gravação no Brasil de um vídeo participativo inédito para uma das músicas novas do grupo.

O Virgula Música foi checar uma dessas apresentações relâmpago em São Paulo neste domingo (dia 20) e puxou Damian e Tim para um bate papo sobre os shows no Brasil, a relação da banda com as gravadoras e os próximos passos do OK Go. Leia abaixo a entrevista.


Virgula Música – Vocês estão fazendo vários shows em um caminhão em um único dia. Já fizeram algo assim antes?

Damian - Nunca fizemos algo exatamente assim, mas já tivemos mais de um show em um único dia...

Tim – Certa vez tivemos alguns shows no Canadá, e um dia tocamos em um lado de uma cidade, entramos em uma van que não tinha pneus próprios para neve e seguimos para tocar em Halifax no mesmo dia... Não foi algo muito seguro de se fazer.

Damian – Nenhum desses show foi em ‘terra firme’, foram todos em cima da neve. Isso foi incrível e ao mesmo tempo um pouco assustador. Depois disso eu jurei pra mim mesmo que nunca faria algo assim novamente. E agora estamos aqui (risos).

Tim – É, mas aqui no Brasil é bem mais divertido de tocar!

Damian – Sim, com certeza! Mas nós já fizemos algumas apresentações estranhas, Já tentamos tocar debaixo d’água, e funcionou. Não foi muito confortável; eu estava usando um traje no qual meu corpo todo estava mais solto que o do resto dos integrantes, era quase como um tanque. Os outros tinham snorkels. Eu achei bem legal, mas Andy odiou isso. Acho que não poderíamos fazer isso de novo, porque ele nos mataria (risos).

Tim – Nós já tocamos no alto do Museu Guggenheim Bilbao, em Nova York.

Damian – Sim, e lá tentamos tocar na altura de 30 pés acima do solo, mas só conseguimos a 26 pés. Além disso, nós fizemos um desfile de oito horas em Los Angeles com cerca de cem pessoas. Nesse dia nós tocamos todas as músicas que sabíamos!

Virgula Música – Então foi fácil para vocês subir no caminhão e fazer essa série de shows...

Damian – Claro! A parte mais difícil desse trabalho realmente é a para as pessoas que montam tudo, entram e saem daquele caminhão rapidamente. Toda a energia para os instrumentos tem que vir de geradores, e deve ser desgastante preparar tudo isso. É logisticamente muito difícil para a eles, mas para nós é bem fácil, pois é um show bem mais curto que o normal. Não temos muito espaço, mas é divertido pelo fato de captarmos energias diferentes do público de cada lugar. Tem pessoas que são pegas de surpresa andando pela rua e também fãs dedicados que vão a todos os concertos. É como se fosse uma 'caça ao tesouro' combinado com um show. Tem alguns garotos que eu já vi nas últimas três apresnetações e você se sente como se fosse amigo dessas pessoas... É uma sensação ótima!

Virgula Música – Como vocês foram convidados para fazer isso? Vocês tiveram que seguir um roteiro estabelecido ou puderam opinar nas ações?

Damian – O pessoal da Jose Cuervo entrou em contato e disse basicamente 'nós queremos fazer este tipo de campanha e de uma forma que fique divertida e diferente'. A partir daí, nós trocamos umas ideias e chegamos a este formato experimental. Para nós é melhor manter um bom relacionamento com essas companhias que trabalham de um modo mais transparente do que entrar para uma grande gravadora, na qual teríamos compromissos que não pudéssemos controlar. Se estivéssemos em uma grande gravadora, não acho que faríamos algo assim. Acho legal que possamos fazer parcerias desta forma e ainda assim fazer um show de rock com experiências culturais e artísticas, não apenas reles propaganda. E a Cuervo foi bem legal a respeito disso tudo, eles querem que as pessoas apareçam e se divirtam, assim como nós. Me parece que esse tipo de ação entende melhor isso tudo do que a indústria da música. Não regramos nosso trabalho ou nossa vida pelas paradas do rádio: nós queremos tocar nossos projetos de acordo com nossas ideias.

Virgula Música – Você quase 'matou' minha próxima pergunta: vocês alcançaram sucesso com seus vídeos divulgados pelo YouTube, sem grandes produções e com ideias simples. Como a banda enxerga estes padrões de gravadoras e da indústria da música?

Damian – Eu me sinto péssimo pelas gravadoras, porque não é como se nelas só trabalhassem pessoas más – a maioria delas não é assim – mas vamos colocar da seguinte forma: nós temos que achar soluções para apenas uma banda, e eles têm que pensar em soluções para vários grupos. Então, eles precisam de sistemas que funcionem, não importa para quais bandas, mas que funcione e vire sucesso. Nosso sistema não funcionaria com outra banda qualquer, mas dá certo por causa das coisas específicas que fazemos: vídeos, discos e coisas diferentes para nos desafiarmos. Acho que, em uma gravadora normal, não dá para você contratar bandas que agem dessa forma. E este tipo de sistema que elas usam está morrendo, tudo está ficando cada vez mais experimental novamente. Por vários anos, era como um produto. Se eu disser 'Thriller, do Michael Jackson', você se lembrará do álbum, do encarte do disco, coisas assim. Agora, se eu falar de 'Fuck You do Cee-Lo Green', do que você vai lembrar? Eu lembro do vídeo e da música. Acho que hoje em dia certas coisas estão mais ligadas à experiência das pessoas com aquilo do que por uma imagem já pré-concebida pelo artista, um pedaço de plástico. E as coisas não devem mais voltar àquele modelo. É como se as gravadoras estivessem vendendo aparelhos de fax na década errada.

Tim – Como fazem com o Justin Bieber (risos)

Damian – Sim! Nós temos nosso próprio selo e também tentaremos lançar nossas próprias bandas, nossos amigos, e talvez tenhamos exatamente o mesmo problema que as gravadoras normais enfrentam. Mas duvido que vamos fazer sistemas iguais, visto que vamos trabalhar apenas com amigos e projetos que sejam apaixonantes para nós, coisas que nos interessem de verdade.

Virgula Música – Falando em música que lhe interessa, quais popstars que vocês acham que valem a pena hoje em dia?

Tim – Sempre terá boa música pop por aí...

Damian – Eu não ouço de verdade muitas rádios pop por aí. Mas é interessante saber que o indie rock fez sucesso, com bandas pequenas crescendo em popularidade. Como o Foster the People, que virou uma banda maior para o público grande. É bom ver que coisas assim viraram o pop por causa da internet. Eu não acho que o Arcade Fire poderia ser um grande sucesso antes da internet.

Tim – Existem alguns artistas pop que trabalham com pessoas interessantes. Eu gosto do Justin Timberlake, por exemplo. Ele é demais.

Damian – Eu adoro o Justin Timberlake.

Tim - Ele já fez discos bons, a produção dele é ótima. Tem pessoas como Pharrel, e outros artistas do hip hop, como o Jay-Z e coisas assim. A produção deles é interessante e excelente.

Damian – Os discos do Jay-Z soam muito bem.

Virgula Música – Andy Ross está na banda desde 2005. O que mudou desde a saída de Andy Duncan, o guitarrista anterior?

Tim – Bom, tudo. A indústria musical mudou! (risos)

Damian – Sim, a indústria musical desmoronou. Todos os vídeos que fizemos aconteceram depois que ele saiu, e isso obviamente deu uma grande diferença. Nós somos pessoas criativas que gostam de fazer várias coisas, por isso achamos legal continuar em uma gravadora independente. E quando os vídeos começaram a chamar atenção e nos abrir a realidade de que seria possível fazer realmente o que gostássemos... isso mudou bastante. Mas não estou dizendo que isso aconteceu porque Andy Duncan saiu, isso pode ter sido uma coincidência. Não conseguimos isso somente por conta de Andy Ross. Mas existem algumas diferenças: nosso som mudou bastante e se Andy Duncan ainda estivesse conosco, provavelmente nossa sonoridade teria seguido por uma outra direção. O jeito de Andy Ross tocar é realmente único, e se ele não estivesse na banda, não teríamos feito este último disco desta forma.

Tim – Ele tem alguns solos bem especiais, ele gosta desse tipo de coisa.

Virgula Música – E depois que essa loucura de shows relâmpago terminar, quais os planos? Vocês já tem músicas novas na manga para um próximo disco?

Damian – Estamos no meio da produção de um novo vídeo nos Estados Unidos. Começamos na semana passada, mas pausamos tudo e vamos terminar assim que retornarmos. Esperamos voltar a gravar novas canções no próximo semestre, mas não temos muita coisa escrita ainda. O jeito que compomos funciona como se tocássemos uma progressão de acordes junto com uma batida. Em seguida, improvisamos em cima e escolhemos o que dá para aproveitar. Então já temos alguns elementos, mas sem músicas completas ainda.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Sonic Youth tenta superar clima de despedida no SWU

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O grupo novaiorquino Sonic Youth subiu ao palco Consciência às 19h08, debaixo de uma chuva que pretendia estragar os ânimos da plateia. Mas dadas as circunstâncias adversas - por conta do divórcio do guitarrista Thurston Moore e a baixista Kim Gordon após quase trinta anos de relacionamento, este pode ser o último show da carreira da banda - nenhum fã quis arredar o pé do lugar.

Mesmo que um pesado clima de despedida tenha marcado a apresentação, o set list do Sonic Youth não sofreu alterações radicais em relação aos shows anteriores da turnê. Thurston e o baixista Mark Ibold surgiram sorridentes no palco, ao passo que o guitarrista Lee Ranaldo fez questão de dar um "olá" no microfone, antes de iniciarem o show com "Brave Men Run (In My Family)".

A apresentação começou em um ritmo regular, mas depois esquentou com a visceral "Death Valley 69". A tensão da música parece ter ganhado um outro significado para a plateia, pois nesta música Thurston e Kim dividem simultaneamente os vocais. O show inteiro foi permeado pelo frenesi de que este pode vir a ser o show derradeiro do grupo. Mas nada disso transparecia entre os dois rockstars no palco; seria injustiça dizer que estavam se tratando com frieza, pois os dois nunca foram de trocar afagos em público.

Apesar deste clima pouco propício, não era difícil enxergar o baterista Steve Shelley e Mark Ibold sorrindo durante a apresentação. Talvez justamente para apaziguar os ânimos dos presentes, Thurston se dirigiu à plateia após a épica "'Cross The Breeze", apresentando a banda. "Senhoras e senhores, nossa banda se chama Sonic Youth e somos de New York City. É uma honra estar de volta no Brasil, aqui juntos mais uma vez com todos os nossos lindos irmãos e irmãs brasileiras". Em seguida, o grupo tocou "Schizophrenia".

Para espectadores desavisados, um show do Sonic Youth pode ser uma verdadeira tortura sonora sem sentido, pois a banda tem predileção por esticar suas músicas com longos improvisos de puro barulho guitarrístico. Quem não gosta, foi pra arquibancada se proteger da chuva. Quem gosta, teve um prato cheio com os crescendos de "Flower", "Starfield Road" – construída totalmente em cima de cacofonias e microfonias – e a parte final de Mote, na qual o grupo promoveu uma grande viagem sonora, com Thurston maltratando sua guitarra e amplificador até largar o instrumento em cima de uma câmera da produção do SWU.

No final de "Sugar Kane", Thurston mais uma vez foi ao microfone, desta vez para agradecer ao público por ter suportado a forte chuva. "Vocês foram lindos e excepcionais, mal posso esperar para vê-los novamente", disse, dando uma pista que talvez possamos contar com novos shows do Sonic Youth no futuro.

O grupo finalizou seu set com o hino alternativo "Teenage Riot", emendando também com mais uma sessão noise que durou cerca de 5 minutos. Ao final do barulho, Thurston se sentou no degrau da bateria, cruzou as pernas e ficou admirando o público, com uma expressão enigmática - pra variar, o músico estava com seus cabelos cobrindo o rosto. Difícil tentar imaginar o que se passava na cabeça do músico, mas nas mentes dos fãs, um misto de melancolia e alegria já poderia ser considerado unânime.


Set list

01 – Brave Men Run (In My Family)
02 – Death valley 69
03 – Sacred Trickster
04 – Calming the Snake
05 – Mote
06 – ‘Cross The Breeze
07 – Schizophrenia
08 – Drunken Butterfly
09 – Starfield Road
10 – Flower
11 – Sugar Kane
12 – Teenage Riot

Stone Temple Pilots faz show em marcha lenta no palco Energia

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O Stone Temple Pilots subiu ao palco Energia do SWU Music & Arts Festival com aquele clima de 'cumprimento de tabela'. Escalados para anteceder o show do Alice in Chains, nesta segunda-feira (dia 14), Scott Weiland, Dean e Robert DeLeo e Eric Kretz apresentaram um set list recheado com hits, mas tocado em um ritmo um pouco mais lento do que as gravações originais.

Com 15 minutos de atraso, o grupo iniciou sua apresentação com duas faixas do disco de estreia, Core, de 1992: "Crackerman" e "Wicked Garden". Seguindo a linha do saudosismo que permeou esta edição do SWU, a banda focou seu repertório em uma espécie de 'zona de conforto para apresentações em grandes festivais', optando por tocar canções da época em que a banda gozava do estouro comercial, como "Vasoline", "Interstate Love Song" e "Big Empty".

Não é por menos que o ponto alto do show foi o superhit "Plush", cantado com tanta intensidade pelo público que Weiland se sensibilizou. A partir deste momento, o vocalista passou a interagir mais com a plateia, subindo nas caixas de retorno e com algumas falas ao microfone entre as músicas.

Mas para quem foi ao show do STP em dezembro do no ano passado, em São Paulo, a escolha do set list não revelou nenhuma surpresa, fora a presença certeira do hit "Big Bang Baby" - pérola pop do inspirado disco Tiny Music... Songs From The Vatican Gift Shop, de 1996. Quando a apresentação finalmente parecia engrenar em um ritmo mais rápido, foi a vez de encerrar o set, com "Sex Type Thing" e "Trippin' On a Hole In a Paper Heart". Uma pena que o grupo só tenha acordado de verdade no final.

Aos haters de plantão que não concordam que a performance de Weiland e cia. foi 'apagadinha', é só dar uma olhada no vídeo abaixo, de uma apresentação do grupo no festival Rolling Rock Town Fair, em 2001. Se eles ainda viessem com esse pique todo que mantinham há dez anos, certamente teriam feito uma apresentação memorável no SWU.




Set list

01 – Crackerman
02 – Wicked Garden
03 – Vasoline
04 – Heaven & Hot Rods
05 – Between the Lines
06 – Big Empty
07 – Silvergun Superman
08 - Plush
09 – Interstate Love Song
10 – Big Bang Baby
11 – Sex Type Thing
12 – Trippin’ On A Hole In A Paper Heart

Faith No More encerra SWU com show burlesco de Mike Patton

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Mike Patton é um entertainer por excelência. Por mais que o vocalista divida sua musicalidade esquizofrênica em vários projetos mais estranhos, é somente comandando o Faith No More que Patton consegue combinar com maestria suas traquinagens no palco com música de qualidade. Percebendo isso, a organização do SWU Music & Arts Festival colocou a banda para encerrar a edição deste ano do evento - e a escolha não poderia ser mais certeira.

O grupo subiu ao palco Energia nesta segunda-feira (dia 14) com cerca de 30 minutos de atraso, apresentados pelo poeta e educador pernambucano Cacau Gomes. Com todos os outros membros do Faith No More (Mike Bordin, Roddy Bottum, Billy Gould e Jon Hudson) vestidos de branco, Patton encarnou um verdadeiro 'preto véio' (ou Zé Pilintra, segundo comentários abalizados dos leitores), ao aparecer devidamente munido de colares, chapéu e uma bengala. Um medley de "Woodpecker From Mars" e "Delilah", de Tom Jones, deu início aos trabalhos da noite com uma certa estranheza, apenas para em seguida brindar o público com o hit urgente "From Out Of Nowhere".

Independentemente de o Faith No More ter priorizado músicas menos conhecidas em detrimento de alguns sucessos - vide a inclusão de músicas como "Cuckoo For Caca", "Caffeine" e "King For A Day" no lugar de escolhas fáceis como "A Small Victory", "Edge Of The World" e "Falling To Pieces", por exemplo -, a presença de palco do frontman tresloucado e versátil sempre fez a diferença.

Patton mostrou sua simpatia desbocada ao comentar o coro da plateia na versão em português de "Evidence" ("Do c*ralho, irmãos! P*ta que te pario!"), babou no chão durante "Midlife Crisis", sacaneou as outras atrações do festival que se limitaram a desejar "boa noite, São Paulo", remendando "não é São Paulo, é Paulínia!" e propagou o caos em forma de diversão em "The Gentle Art of Making Enemies", ao controlar uma câmera da produção do festival e em seguida pular a grade que separava o público para tomar um banho de cerveja. E em meio a tudo isso, claro, Mike Patton cantou muito.

Mas o espetáculo não ficou apenas a cargo do cantor; depois de presentear o público com o maior hit da carreira da banda, "Epic", o Faith No More recebeu no palco o Coral de Crianças de Heliópolis para tocar uma versão comovente de "Just A Man". O frontman tentou se despedir dos espectadores mandando "beijocas", mas logo teve de voltar ao palco. Para o bis, o grupo optou por tocar uma canção desconhecida (seria uma canção nova e inédita do Faith No More?), a porrada "Diggin' The Grave" e "This Guy's In Love With You", famosa na voz de Herb Alpert.

Mesmo debaixo de uma forte chuva, a plateia não foi saciada com estes três números e clamou pela volta da banda para um segundo bis. Mas ele não se concretizou, visto que uma repentina queima de fogos anunciou o fim do show e do SWU. Mas Mike Patton deixou uma forte lembrança como consolo: todas as testemunhas da performance do Faith No More foram deitar suas cabeças em seus devidos travesseiros com o mantra "P*RRA C*RALHO" ecoando em suas mentes.



Set list

01 - Woodpecker From Mars/Delilah
02 - From Out Of Nowhere
03 - Last Cup Of Sorrow
04 - Caffeine
05 - Evidence
06 - Midlife Crisis
07 - Cuckoo For Caca
08 - Easy
09 - Surprise! You're Dead
10 - Ashes To Ashes
11 - The Gentle Art Of Making Enemies
12 - King For A Day
13 - Epic
14 - Just A Man

Bis
15 - Unknown
16 - Diggin' The Grave
17 - This Guy's In Love With You

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Phil Anselmo instiga público do SWU com o peso do Down

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Phil Anselmo sabe como incendiar uma plateia. Nesta segunda-feira, dia 14, o vocalista subiu ao palco Consciência do SWU Music & Arts Festival, despejou doses cavalares de riffs matadores com o Down e fez o show mais pesado do festival até então.

A banda é um supergrupo que reúne grandes nomes do metal, como o próprio Anselmo (ex-Pantera), Pepper Keenan (ex-Corrosion of Conformity), Kirk Windstein e Patrick Bruders (ambos do Crowbar), além de Jimmy Bower (Eyehategod). Com currículos assim, não seria difícil o Down satisfazer fãs ávidos por um som pesado e agressivo. Mas a banda foi além do protocolo e entregou um dos shows mais intensos do SWU até então, com pérolas metálicas de alto valor como "Hail to the Leaf", "Losing All" e "Eyes of the South".

A entrega do grupo no palco era tanta que Anselmo chegou ao extremo de bater com o microfone na própria cabeça várias vezes, abrindo uma ferida em sua testa. Mais contidos, os guitarristas Pepper Keenan e Kirk Windstein optaram por gastar suas energias com solos rápidos que faziam o público pular na mesma cadência.

Perto do fim, Anselmo reparou em um espectador com um enorme logotipo do Pantera tatuado no peito. Como que para satisfazer o fã e o restante da plateia que berrava por músicas de sua ex-banda, o Down provocou o público com um pequeno trecho de "Walk", emendando em seguida a saideira, "Bury Me In Smoke".



Como gran finale, o grupo estendeu o pesado riff principal da canção, dando lugar aos integrantes do Duff McKagan's Loaded, que se apresentaram horas antes no mesmo palco e agora assistiam ao show do Down nos bastidores. Um por um, os músicos do Loaded foram assumindo os instrumentos, sem deixar a música parar.

Visivelmente balançado pela reação calorosa do público, Phil Anselmo não deixou o palco e, depois de declarar que este foi de longe o melhor show que ele já fez no Brasil, o vocalista fez questão de encerrar a apresentação de maneira inusitada. "Vamos terminar isso tudo da maneira certa", disse, antes de citar o clássico do Led Zeppelin, "Stairway to Heaven", cantarolando "...and she's buying a stairway to heaven".

Set List

01 – Temptations Wings
02 – Lifer
03 – Pillars of Eternity
04 – Rehab
05 – Hail The Leaf
06 – Underneath Everything
07 – Losing All
08 – Swan Song
09 – Eyes Of The South
10 – Stone The Crow
11 – Walk (trecho)
12 – Bury Me In Smoke

Peter Gabriel desafia público do SWU com repertório sofisticado

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Ignorando toda a confusão que sua produção esteve envolvida durante a parte da tarde, Peter Gabriel subiu ao Palco Consciência do SWU às 22h15 para um show voltado somente para "fãs iniciados". Acompanhado pela New Blood Orchestra, o cantor inglês apresentou um repertório sofisticado e destoou totalmente das outras atrações do SWU.

O show iniciou com "Heroes", dando a tônica do que viria dali em diante: arranjos executados com 'perfeição cirúrgica' por uma orquestra que, se não impressionava pelo seu som, chamava atenção pela disposição de seus vários membros no palco. A performance de Gabriel não deixava por menos; sua voz ainda impecável falou por sua diminuta presença de palco. A colocação quase estática do cantor foi várias vezes compensada por discursos pontuais em bom português.

Ao longo do show, o cantor homenageou o pai - que fará 100 anos em abril -, com "Father, Son" e contou com a colaboração da apresentadora Didi Wagner, do canal Multishow, como intérprete. A participação visava divulgar a luta contra a LRA (Lord's Resistance Army), grupo militar africano com cunho religioso, responsável pela violação de vários itens dos Direitos Humanos, como assassinato, mutilações e outras bárbaries.

Os pontos altos do repertório foram as canções "Downside Up", "Mercy Street", "Rhythm Of The Heat" - com seus crescendos emocionantes e bela interpretação vocal de Peter - e "Solsbury Hill", que foi devidamente ovacionada pela plateia que ainda resistia incólume em frente ao espetáculo.

Ao redor, muitos desistiam da difícil tarefa de acompanhar o show sem soltar alguns bocejos. Em Do outro lado da arena, varios fãs do Lynyrd Skynyrd já esperavam impacientemente pelo início do próximo show. Quando Peter Gabriel finalmente terminou seu bis com "Biko", os roqueiros enfim soltaram seus gritos de alegria.


Set list

01 - Heroes
02 - Wallflower
03 - Intruder
04 - San Jacinto
05 - Secret World
06 - Signal To Noise
07 - Downside Up
08 - Mercy Street
09 - Rhythm Of The Heat
10 - Father, Son
11 - Red Rain
12 - Solsbury Hill

Bis
13 - In Your Eyes
14 - Don't Give Up
15 - Biko

domingo, 13 de novembro de 2011

Tedeschi Trucks Band supera chuva e esquenta palco Energia no SWU

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


A confirmação da Tedeschi Trucks Band no SWU Music & Arts deste ano não rendeu muito alarde, e talvez justamente por não nutrir muita expectativa o show do grupo já pode ser considerado um dos destaques do segundo dia do festival. Mesmo debaixo de chuva, o grupo desencantou no palco e espantou o clima de azarão com performances virtuosas de seus músicos.

Relativamente desconhecidos do grande público brasileiro, a banda capitaneada pelo casal Derek Trucks e Susan Tedeschi tocou canções fortes com blues rocks pesados como "Learn How To Love" e "Don't Let Me Slide".

Justificando a fama de um dos maiores guitarristas da atualidade, Derek Trucks brilhou ao demonstrar suas habilidades com seu instrumento, esticando as músicas com vários solos envenenados com um slide no dedo. A esposa também não deixou por menos e marcou presença com solos competentes em algumas músicas. Mas a grande carta na manga de Susan é a sua interpretação vocal forte e emocionalmente rasgada, que demonstrou que mulher também pode cantar blues.

Perto do fim, o grupo investiu pesado nos improvisos, para que os demais músicos também mostrassem suas habilidades. Depois de alguns solos de trompete a la Miles Davis, a jam começou a ficar cansativa. Ao perceber isso, a banda emendou a última música e saiu do palco com mais fãs no bolso.

sábado, 12 de novembro de 2011

Snoop Dogg encerra show no SWU com pagode do Só Pra Contrariar

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Snoop Dogg subiu ao palco Energia do SWU Music & Arts Festival neste sábado, dia 12. O rapper fez o show com a maior concentração de público da noite até então, apoiado por uma trupe de seis músicos (DJ, tecladista, baterista, baixista e mais dois MCs) e três dançarinas.

Com o término do show de Damian Marley no Palco Consciência, às 20h33, os alto-falantes do Palco Energia soaram a ópera "Carmina Burana", que serviu de introdução para a entrada do rapper e seus asseclas. Sempre amparado por três dançarinas - uma negra, uma morena e uma loira -, Snoop começou sua apresentação um pouco sisudo, mas aos poucos foi se soltando, em resposta à empolgação da plateia.

Ao longo do show, o rapper também dividia o palco com um mascote, que usava uma cabeça de cachorro de pelúcia e trajava uma camiseta com os dizeres 'Nasty Dogg'. Depois de tirar os óculos, Snoop passou a interagir mais com o público, que vibrou com hits como "P.I.M.P.", "Sensual Seduction" e "Beautiful" - apesar das frequentes falhas no telão do lado direito do palco e do baixo volume do microfone principal.

Em "I Wanna Love You" (alterada para "I Wanna Fuck You"), Snoop teve o momento mais 'pimp' de sua apresentação: o rapper puxou uma cadeira, sentou-se, cantou alguns versos e assistiu a uma coreografia quente de suas dançarinas, que não perderam a chance de fazer lap dance para Snoop.

O show chegou ao fim com um momento inusitado: o DJ colocou o pagode "Minha Fantasia", do grupo Só Pra Contrariar, e Snoop pediu para o público cantar. Nem precisou insistir muito, pois o que se ouvia era um grande coro entoado com a letra da música, e alguns desavisados olhando para os lados sem entender o que estava acontecendo. "Peace, love and soul", bradou o rapper, despedindo-se.


Set list

01 - Intro - Carmina Burana
02 - I Wanna Rock
03 - P.I.M.P. (50 Cent cover)
04 - Smoke Weed Everyday
05 - Gin and Juice
06 - I Wanna Fuck You (Akon cover)
07 - Beautiful
08 - Sensual Seduction
09 - Drop It Like It's Hot
10 - Who Am I (What's My Name?)
11 - The Next Episode (Dr. Dre cover)
12 - Minha Fantasia (Só Pra Contrariar Cover)

Marcelo D2 promove festa regada a hip-hop no palco Energia

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Marcelo D2 fez um show em clima de 'cerveja com os amigos' no Palco Energia do SWU Music & Arts Festival, na tarde de sábado, dia 12. Apresentando músicas de sua carreira solo e do Planet Hemp, o rapper contou com várias participações especiais e empolgou a plateia.

Todo o público que rondava o evento perguntando onde e que horas começaria o show de D2 finalmente achou o que procurava e estava ali para ouvir o hip hop com toques de rock promovido por Marcelo e sua trupe.

O carioca subiu ao palco às 18h07 e começou seu set com "Vai Vendo". Na segunda música, "A Maldição do Samba", o espaço em frente ao Palco Energia já estava abarrotado, e dali pra frente D2 não precisou se esforçar muito para ganhar a plateia, que estava tão receptiva a ponto de cantar boa parte das letras.

O rapper mostrou sua veia mais roqueira com "A Arte do Barulho" e "Gueto", em uma versão mais pesada, com forte presença de guitarras. O hit "Desabafo" veio em seguida, com Marcelo deixando o refrão a cargo da plateia por várias vezes.

Mas o grande destaque ficou quando D2 abriu espaço para o rapper Fernandinho mostrar suas habilidades fazendo beatbox. Ao final de sua canja, Fernandinho puxou o ritmo de "Sweet Dreams (Are Made of This)" - o clássico oitentista do Eurythmics - e até "Sunday Bloody Sunday", do U2, devidamente gritada por D2.

D2 também fez uma pequena homenagem a Bezerra da Silva, emendando "Malandragem Dá Um Tempo" e "A Semente". Em seguida, presenteou seus fãs mais antigos com "Queimando Tudo" e "Mantenha o Respeito", do Planet Hemp. Depois de inúmeras referências à cannabis, Marcelo declarou "a noite é da família" e chamou seu filho Stephan para cantar "Loadeando".

A partir daí, a apresentação virou algo semelhante a uma mesa de bar, com D2 recebendo convidados como Helinho, do grupo Ponto de Equilíbrio, Renato Venom e Emicida para dividir os vocais. Antes do final do show, com "Qualé?", D2 propôs um brinde de cerveja com seus amigos em cima do palco.


Set list

01 - Vai Vendo
02 - A Maldição do Samba
03 - À Procura da Batida Perfeita
04 - A Arte do Barulho
05 - Gueto
06 - Desabafo
07 - 1967
08 - Eu Tive Um Sonho
09 - Pode ACreditar
10 - Oquecêqué
11 - Profissão MC
12 - Stab
13 - Contexto
14 - Queimando Tudo
15 - Mantenha o Respeito
16 - Loadeando
17 - Eu Já Sabia
18 - C.B. Sangue Bom
19 - Qualé?

Emicida abre SWU com show-coletânea no palco Consciência

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O rapper Emicida iniciou as atividades do primeiro dia do SWU Music & Arts Festival, neste sábado, dia 12. Munido apenas de dois microfones e da companhia do DJ Nyack, Emicida convocou para a frente do palco o pequeno público que ainda chegava ao evento e mostrou sua destreza característica com rimas instantâneas.

O ponto alto da apresentação do rapper foi um medley com várias referências ao hip-hop brasileiro das décadas de 80 e 90. Agregando trechos de representantes do rap como Xis ("Us Mano e as Mina"), Rappin' Hood ("Sou Negão") e Sabotage ("Rap é Compromisso"), Emicida embalou o público, formado em grande parte por desavisados que chegavam e questionavam "em qual palco o Marcelo D2 vai tocar?".

Durante o medley, foi no mínimo peculiar ver dezenas de pessoas acompanhando com as mãos para o alto a grande sacada de mestre do DJ Nyack, que emendou com maestria a base de "Fim de Semana no Parque", dos Racionais MCs. "Logo mais, quero ver todos em paz / um dois três carros na calçada / feliz e agitada toda playboyzada / as garagens abertas eles lavam os carros / desperdiçam a água, eles fazem a festa / vários estilos vagabundas, motocicletas / coroa rico boca aberta, isca predileta / de verde florescente queimada sorridente / a mesma vaca loura circulando como sempre", metralhava a letra, que provavelmente passou despercebida pela plateia.

A apresentação, que contou com o hit "Rua Augusta", também rendeu uma homenagem à cantora Jovelina Pérola Negra, uma das grandes damas do samba. O show terminou repentinamente, às 15h41, com Emicida e DJ Nyack saindo do palco ovacionados debaixo do forte calor de Paulínia.

Set list

01 - Intro Dom Salvador (Sangue Suor e Raça)
02 - Só Mais Uma Noite (Com Fioti)
03 - Rua Augusta
04 - Licença Aqui
05 - E.M.I.C.I.D.A.
06 - Eu Só Quero é Ser Feliz
07 - A Capela
08 - De Onde Cê Vem?!
09 - Medley
10 - Corpo Fechado
11 - Tic Tac
12 - Bem Vindos a VR
13 - Fim de Semana no Parque
14 - Sou Negão
15 - Us Mano, As Mina
16 - Fogo Na Bomba (De Menos Crime)
17 - Rap é Compromisso
18 - Jovelina 2.0
19 - I Love Quebrada
20 - Viva
21 - Freestyle
22 - Triunfo

domingo, 6 de novembro de 2011

Beady Eye faz show irregular e testa paciência do público no Planeta Terra Festival

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Às 23h45, o Sonora Main Stage já estava abarrotado de viúvas do Oasis. Quando Liam Gallagher e seus comparsas deram as caras, a reação da plateia deu a entender que o Beady Eye não precisaria se esforçar muito para corresponder às expectativas do público presente. Mas não foi bem assim...

Como a banda tem apenas um disco (Different Gear, Still Speeding, lançado em 2010), não seria difícil prever o repertório do show do Beady Eye. E foi justamente com a faixa de abertura do álbum que começou tudo: "Four Letter Word" veio de maneira pesada, mostrando quase o mesmo frescor que o Oasis tinha nos velhos tempos. Emendando a enérgica "Beatles And Stones", a banda não deixou o ritmo cair, mesmo que a voz de Liam tenha se mostrado um pouco fora de tom nos primeiros números.

Não faltou o primeiro single do grupo, "Bring the Light", que mostrou algo que o Oasis nunca explorou: um rock sacolejante calcado em um piano frenético. O grupo só foi dar uma esfriada quando encaixou duas baladas seguidas: "Kill For A Dream" e "The Beat Goes On", belas pérolas com toques de psicodelia a la Beatles e Pink Floyd - o teclado hipnótico da primeira faixa remete descaradamente ao mesmo timbre utilizado pela banda inglesa em "Chapter 24".

Só que justamente depois deste momento mais calmo, a apresentação do Beady Eye ficou irregular. O grupo até tentou voltar às canções mais pesadas, com "Man Of Misery", mas ao emendar as intermináveis "Morning Son" e "Wigwam", o show descambou para uma chatice sem sentido. As duas músicas não passam de composições medianas esticadas além do limite do suportável, e suas durações exageradas acabaram dispersando a atenção do público crescente, que ainda se mantinha ali para assegurar bons lugares para assistir aos Strokes. É, Liam, parece que um certo Noel ainda faz falta...


Set list

01 - Four Letter Word
02 - Beatles and Stones
03 - Millionaire
04 - Three Ring Circus
05 - The Roller
06 - Bring the Light
07 - Standing on the Edge of the Noise
08 - Kill for a Dream
09 - The Beat Goes On
10 - Man of Misery
11 - The Morning Son
12 - Wigwam 

Groove Armada encerra Planeta Terra Festival com DJ set ornado por show de luzes

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O duo Groove Armada foi encarregado de encerrar a edição deste ano do Planeta Terra Festival. Ao começar sua apresentação no Claro Indie Stage com um certo atraso, os DJs Andy Cato e Tom Findlay acabaram esticando a presença do público, que foi incendiado pelo show dos Strokes no palco principal e ainda queria dançar um pouco mais.

Imersos em muita fumaça, jogos de luzes e lasers, a dupla executou um DJ set dançante que também era completado por três telões que mostravam cores, formas e animações que mudavam conforme o ritmo da música.

Logo após a performance no Claro Indie Stage, o Groove Armada seguiu para um after-party oficial do Planeta Terra Festival na D.Edge em São Paulo. Além deles, apresentam-se ainda Renato Ratier Lubalei e Anderson Noise.


Set List

01 - In the Valley
02 - Paper Romance
03 - Get Down
04 - Superstylin
05 - Pleasure Victim
06 - Rj's Theme
07 - Get Up
08 - Battle for Middle You
09 - Reading Out
10 - V2U
11 - Stockholm Marathon
12 - Crarx Anne

sábado, 5 de novembro de 2011

White Lies faz show com cheiro de naftalina no Planeta Terra Festival

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O White Lies subiu ao Sonora Main Stage para começar seu show às 19h, com o sol ainda se pondo, graças às maravilhas do horário de verão. Logo nos primeiros minutos era possível entender e prever a tônica que se estenderia ao longo da apresentação: um pastiche de sons característicos de bandas dos anos 80, usando o Joy Division como referência principal.

Com seus integrantes trajando branco e preto, o grupo fez uma apresentação correta, sem grandes interações com o público. Na maior parte do tempo, o vocalista e guitarrista Harry McVeigh (que com certeza ganharia a primeira colocação em um concurso de sósias de Brandon Flowers, frontman do Killers) manteve uma postura 'à prova de erros' ante o público do Planeta Terra, que respondeu à atitude do frontman na mesma moeda. Porém, somente os fãs à frente do palco pareciam estar realmente envolvidos no show.

Mantendo a política de "vamos fazer tudo certinho", o grupo provocou alguns suspiros ao tocar "Power & Glory" e terminou o show com seu maior semi-hit, "Bigger Than Us" - única música a arrancar alguma reação mais forte do resto do público que passeava despreocupado por perto do palco principal do Planeta Terra Festival.

Set List

Farewell to the Underground
Strangers
To Lose My Life
Holy Ghost
E.S.T.
Is Love
Price of Love
A Place to Hide
Death
Unfinished Business
Power & Glory
Bigger Than Us

Selvagens À Procura de Lei e The Name iniciam shows do Claro Indie Stage

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O grupo cearense Selvagens À Procura de Lei foi o vencedor do concurso Hit BB - que selecionava uma banda independente para tocar no Claro Indie Stage do Planeta Terra Festival – e teve a ingrata missão de iniciar as atividades no evento.

O grupo apresenta um entrosamento e arranjos certeiros, mas chama mais atenção pela relativa pouca idade (entre 20 e 22 anos) do que pela música; o vocalista e guitarrista Gabriel Aragão tem 22 anos, mas aparenta ter menos, dada sua baixa estatura. Musicalmente, o grupo não apresenta nenhuma novidade: a sonoridade do Selvagens é aquele rock característico que tomou de assalto todas as bandas pós-estouro de Strokes e Los Hermanos.

O único momento no qual o grupo fugiu um pouco deste estigma foi quando um 'mascote' subiu ao palco usando um capacete de escafandro dourado para fazer gracinhas para a plateia diminuta. Como os Selvagens logicamente ainda não eram tão conhecidos pelo público, a banda contou com o apoio de amigos e familiares na plateia, com direito a uma faixa homenageando a banda. Ao fim do set previsto, o fã-clube pediu um bis e a banda tocou mais uma canção. Mesmo assim, a apresentação não durou mais do que 30 minutos.

Em seguida, foi a vez do The Name. A banda sorocabana, formada por Andy (voz/guitarra), Molinari (baixo/voz) e Bruno Alves (bateria/voz), faz um rock marcado pelo pós-punk dançante que virou mania indie com representantes gringos como Bloc Party e Franz Ferdinand. Mas o diferencial do grupo está na percussão; além do frenético batera Bruno manter um ritmo constante ao passo que alterna batidas em sua bateria tradicional e um aparato eletrônico localizado ao seu lado, a banda também encontra tempo para descer a mão em um 'momento timbalada' durante a canção "It's Up To Us", quando Andy e Molinari trocam as cordas pelas baquetas.

Tudo bem que o grupo conta com a ajuda de bases pré-gravadas de teclado e bateria em alguns momentos, mas em canções como "Let The Things Go" e "Come Out Tonight", é no mínimo admirável constatar que apenas três caras fazem aquele barulho todo em cima do palco. Pegando a ressaca do público que saiu do show de Criolo no palco principal, o The Name visivelmente agradou os presentes e com certeza fez novos fãs.

SET LIST

SELVAGENS À PROCURA DE LEI

01 - Amigos Libertinos
02 - Casona
03 - Meninos Elétricos
04 - Surpresas
05 - Doce/Amargo
06 - Mucambo Cafundo
07 - Reis de São Paulo


THE NAME

01 - Can You Dance, Boy
02 - Can't Take No More
03 - Blueberry Kiss
04 - Older
05 - Do Anything
06 - Tenant
07 - It's Up To Us
08 - Come Out Tonite
09 - Time For Fun
10 - Let The Things Go
11 - You Want It Back Now

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Aerosmith espanta mau tempo e fase ruim com show memorável em São Paulo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


Nem mesmo a forte chuva atrapalhou o espetáculo que o Aerosmith promoveu no palco da Arena Anhembi neste domingo, dia 30. Em sua quarta passagem pelo Brasil, a banda americana fez um apanhado geral dos hits da carreira e mostrou que ainda tem muito fôlego para realizar shows memoráveis, espantando a nuvem negra que pairou em cima do grupo nos últimos tempos de brigas internas.

Às 20h15 ouviu-se a primeira introdução da noite: "A Cavalgada das Valquírias", de Richard Wagner. Quando a sinfonia acabou, o pano preto que escondia a movimentação no palco foi ao chão, apenas para dar uma falsa surpresa ao público: a banda ainda não estava em cena. Depois de mais duas introduções (para que tanto suspense?), o grupo iniciou o show debaixo de chuva com três pérolas do início da carreira: "Draw The Line", "Same Old Song and Dance" e "Mama Kin".

Steven Tyler, a principal figura da banda, começou a apresentação com uma certa timidez, com a voz um pouco rouca. Mas para quem havia estampado as manchetes dos últimos dias com seu rosto danificado por uma queda no banheiro, estava inteiraço. O vocalista iniciou o show usando óculos escuros, mas durante "Mama Kin", Tyler jogou o acessório longe e o tal olho roxo não era tão visível. Se os fãs estavam preocupados com o desempenho do vocalista no palco, essa preocupação logo mostrou-se vã. Mesmo com 63 anos nas costas, Tyler justificou seu lugar entre os maiores frontman do rock: o cantor continuou com suas danças performáticas sem se importar com o palco molhado pela chuva.

"Janie's Got a Gun" introduziu a sequência de músicas que desembocou em um revival do momento-chave do Aerosmith: os anos 90. Mesmo o longo solo de bateria de Joey Kramer - fortemente influenciado pelo estilo de John Bonham (Led Zeppelin) – não esfriou o ritmo do show, que teve seus pontos mais altos durante os solos de guitarra de Joe Perry em "Livin' On The Edge" e "Amazing".

Depois de "What It Takes" e "Last Child", Tyler saiu de cena para que Perry assumisse os vocais em "Combination", apenas para retornar em seguida e desferir a maior 'covardia melódica' da noite: o hit meloso "I Don’t Want to Miss A Thing". O que se seguiu foi o maior momento em uníssono da platéia, e ao meu redor eu enxergava vários fãs cantando a letra aos prantos e soluçando. Nem mesmo quando Paul McCartney tocou "Give Peace A Chance" e "Hey Jude" em sua passagem por São Paulo no ano passado eu vi ocasião tão oportuna para casais e amigos se abraçarem.

Por mais que não tenha me contagiado pela energia piegas do momento, o Aerosmith desferiu em seguida o golpe de misericórdia: "Cryin'". A introdução pesada surgiu repentinamente, e logo que os acordes melosos do verso foram dedilhados, era preciso se esforçar para conter a ameaça conhecida como 'olhos lacrimejantes'.

Depois dessa forte sequência de baladas, veio um solo de baixo de Tom Hamilton. Enquanto o baixista se exibia para mostrar que sabia fazer algo além do básico que exerce nas músicas da banda, Joe Perry mostrou à câmera do telão seu dedo ensangüentado; o guitarrista parece ter se exaltado durante os últimos solos e a unha de seu dedo indicador da mão esquerda levou a pior. Mas isso não o impediu de executar o riff memorável de "Sweet Emotion", que foi recebida muito bem pelo público.

BIS

A banda deixou o palco e retornou para o primeiro bis da noite, matando a vontade da plateia que pedia a balada "Dream On". Depois de retomar sua veia mais roqueira com os clássicos "Love In An Elevator" e "Walk This Way", o Aerosmith saiu mais uma vez de cena. Mas como o público havia surpreendido Tyler com vários cartazes com os dizeres "Angel" em certa parte do show, o grupo teve de volver ao palco para saciar novamente o apetite da plateia por baladas. O vocalista fez questão de salientar que a banda não tocava a canção há cerca de cinco anos, mas a tocaram mesmo assim. Para terminar o show em alta rotação, o cantor pediu para a banda emendar "Train Kept A-Rollin'".

Incrível como uma banda que iniciou sua carreira na década de 70 continua com energia para fazer um show de dimensões épicas e corresponder às expectativas do público. Steven Tyler e seus comparsas já chegaram ao fundo do poço diversas vezes, mas sempre retornaram com bons discos, tomando de assalto as paradas contemporâneas e justificando sua relevância no palco. O Aerosmith serve de lição viva para Axl Rose e seu atual arremedo de Guns N Roses, que tenta provar (sem sucesso) que ainda pode fazer algo de significativo mais de 15 anos depois de seu auge.

Set list:

01 - Draw the Line
02 - Same Old Song and Dance
03 - Mama Kin
04 - Janie's Got A Gun
05 - Livin' on the Edge
(Solo de bateria)
06 - Rag Doll
07 – Amazing
08 - What It Takes
09 - Last Child
10 – Combination
11 - I Don't Want To Miss a Thing
12 - Cryin'
(Solo de baixo)
13 - Sweet Emotion

1° bis
14 - Dream On
15 - Love in an Elevator
16 - Walk This Way

2° bis
17 – Angel
18 - Train Kept A-Rollin'

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Depois de investida na política, KLB anuncia retorno com lançamento em 3D

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O KLB está de volta. O trio formado pelos irmãos Kiko (guitarra e voz), Leandro (voz e bateria) e Bruno (baixo e voz) lançou no início deste mês o single Vai. A faixa mantém a sonoridade pop romântica característica que conquistou os fãs do grupo e faz parte do novo trabalho, KLB 3D. Como o nome já sugere, o disco traz um DVD com dois clipes gravados no formato 3D.

O novo álbum terá 15 faixas – sendo 14 inéditas e uma regravação para o antigo hit A dor desse amor, que desta vez aparece em uma nova versão - com letra dividida nos idiomas inglês e espanhol. Os clipes das músicas Quando O Amanhã Chegar e A Dor Desse Amor estão disponíveis em 3D, e segundo Kiko, a produção do grupo está trabalhando em estender o formato em três dimensões aos shows. "Estamos voltando e a coisa do 3D é um diferencial legal para marcar esse retorno", afirmou o músico ao Virgula Música.

Ausentes do mundo musical desde 2009, os integrantes da banda resolveram dar uma pausa para se dedicar à política, investindo na bandeira contra a pedofilia. Os irmãos são membros da CPI da Pedofilia desde que ela foi instaurada, há quatro anos. "Sempre defendemos a questão da família, então seria natural combater algo que atinge tanta gente no Brasil".

Opa, se a questão é defender a família, então o que o KLB acha da questão da homossexualidade, considerada por muitos religiosos como uma afronta aos padrões familiares? "A homofobia é péssima, assim como qualquer tipo de discriminação. Tem que existir respeito, acho que cada um deve fazer e seguir no que acredita. Mas também acho necessário realizar um trabalho de conscientização correto, sem fazer uso de apologias", disse Kiko, em clara referência ao polêmico Kit Anti-homofobia do MEC, que foi considerado impróprio pelos parlamentares.

Em 2010, Kiko e Leandro se lançaram pelo partido DEM como candidatos a deputado pelo estado de São Paulo, mas não conseguiram se eleger. Porém, como suplente do partido, Leandro agora ocupará a vaga de deputado estadual, na Assembléia Legislativa de São Paulo, deixada por Bruno Covas (PSDB), que foi nomeado secretário de Meio Ambiente pelo governador Geraldo Alckmin.

Mesmo que a política tenha assumido o foco das atenções do grupo nos últimos tempos, Kiko diz que essa inclinação não terá influência no trabalho do grupo. "São coisas bem diferentes, o KLB é uma banda de músicas românticas. Claro que esse nosso envolvimento com a política nos proporcionou um amadurecimento pessoal, mas essa parte da política não se estende à nossa música ou letras", garante.

"Sabemos bem como separar as coisas. Se fosse assim, nós ouvimos muitas coisas diferentes do que fazemos, como Beatles, Aerosmith, Guns 'N' Roses, Rolling Stones, hip hop moderno. Tem dia que estou ouvindo Julio Iglesias, tem dia que escuto Rage Against The Machine. E isso não influi diretamente no nosso som, que é mais pro pop romântico", explica Kiko.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Tears For Fears não supera 'baile da saudade' em São Paulo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O Tears For Fears bem que tentou com afinco, mas não conseguiu passar de um baile da saudade para o público nostálgico do Credicard Hall nesta quinta-feira (dia 6), em São Paulo. A banda de Roland Orzabal (vocal, guitarra) e Curt Smith (vocal, baixo) reproduziu suas canções com entrosamento e qualidade de som impecáveis até mesmo nas canções mais novas, mas grande parte da plateia só estava ali para ouvir hits como Shout, Head Over Heels e Sowing The Seeds Of Love.

O grupo subiu ao palco às 22h, brindando o público logo de cara com um de seus maiores clássicos: Everybody Wants To Rule The World. Impressionante como a voz de Curt Smith estava bem fiel à gravação original; qualquer desavisado poderia sugerir que a banda estava fazendo playback - mas não foi o caso. Em seguida, veio Secret World, que incluiu um pequeno trecho da letra de Let Em In, de Paul McCartney. A referência faz parte do contexto do disco mais recente do grupo, Everybody Loves a Happy Ending (2004), que segundo Orzabal, foi bastante influenciado pelo trabalho solo do ex-beatle.

Sowing The Seeds Of Love derramou mais uma boa dose de nostalgia para o público do Credicard Hall. Ao final, Orzabal declamou em português "estamos felizes de estar aqui esta noite com nossos amigos do Brasil. Estivemos aqui há 15 anos, foi fantástico. Boa noite, São Paulo".

A quase beatlemaníaca Everybody Loves a Happy Ending se mostrou como mais um grande momento do show. Apresentando a dose certa de psicodelia, a música poderia facilmente ser uma das faixas do disco Ram, de Paul McCartney. Mas ela passou quase despercebida pelo público que estava lá para ouvir somente os hits.

Ao terminar a canção, Smith foi ao microfone e pediu desculpas por não ser tão bom no português como Orzabal. O baixista se limitou apenas a mandar um "obrigado" em português e depois anunciou Mad World - outra que foi bem recebida pelo público.

Se o Tears For Fears cometeu algum tropeço em seu setlist, foi a versão desnecessária de Billie Jean, de Michael Jackson. A banda apresentou uma versão bem arrastada do clássico do Rei do Pop; começou com algumas nuances de blues, mas no geral foi um momento descartável. Seria bem melhor ter incluído alguma canção da fase em que Curt Smith se afastou do grupo, como Raoul And The Kings of Spain ou God's Mistake. Mas deste período, o grupo tocou apenas o hit Break It Down Again.

Ao longo do show, ficou subentendido que Smith não está em sua melhor forma: o backing vocal Michael Wainwright assumiu os vocais de algumas faixas, talvez para poupar a voz de Smith por conta da maratona de shows no Brasil. Mas Wainwright revelou-se como uma bela arma secreta; o cantor consegue reproduzir com perfeição os timbres de Orzabal e Smith e não deixou cair o nível da apresentação. Seu alcance vocal também mostrou-se muito bom ao interpretar a voz feminina do clássico Woman In Chains.

Em suma, o Tears For Fears pode ter feito um show que primou pouco pela espontaneidade (o repertório é praticamente igual às últimas apresentações na América Latina) mas mostrou que tem canções interessantes além dos hits manjados de quase trinta anos atrás. Porém, quando as luzes do Credicard Hall se acenderam em músicas como Head Over Heels e Shout, ficou claro que a grande maioria do público presente estava mais preocupada em se divertir cantando suas próprias interpretações das letras e dançar com as mãozinhas para o alto, no melhor (pior) estilo David Guetta.


Setlist:

01 - Everybody Wants to Rule the World
02 - Secret World
03 - Sowing the Seeds of Love
04 - Change
05 - Call Me Mellow
06 - Everybody Loves a Happy Ending
07 - Mad World
08 - Memories Fade
09 - Closest Thing to Heaven
10 - Billie Jean (Michael Jackson cover)
11 - Advice for the Young at Heart
12 - Floating Down the River
13 - Badman's Song
14 - Pale Shelter
15 - Break It Down Again
16 - Head Over Heels

Bis:
17 - Woman In Chains
18 - Shout 

domingo, 2 de outubro de 2011

System of a Down faz show sem frescuras em São Paulo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O System of A Down fez um show 'direto e reto' na Chácara do Jockey neste sábado (1°) em São Paulo. O grupo, formado por Daron Malakian (guitarra, vocais, teclados), Serj Tankian (vocais, teclados), Shavo Odadjian (baixo) e John Dolmayan (bateria), apresentou um extenso repertório comprimido em uma apresentação de cerca de 1h40 minutos.

Quase uma semana atrás, a popstar Katy Perry apresentou seu som no mesmo local, com uma super produção que contava com fogos de artifício, inúmeras trocas de figurino, carícias em um jovem de 17 anos e cenário de pirulitos e algodão doce. Mas quando chegou a vez do SoaD neste sábado, a banda mostrou que um show não precisa de pirotecnias ou "boa noite, Brasil" em português macarrônico - procedimento considerado padrão na música contemporânea - para agradar seu público.

O máximo de produção na apresentação eram três telões: dois aos lados do palco e um enorme ao fundo, no qual passavam algumas imagens sem muitas mudanças. Não se sabe se o show do SoaD no Rock in Rio neste domingo contará com uma estrutura maior, mas em São Paulo ficou claro que o grupo se preocupa mais em justificar a performance com base em seu setlist.

E que setlist: foram 28 músicas pinceladas dos cinco discos da banda, tocadas sem pausa para bis, com algumas emendadas em um ritmo frenético. O início, com Prison Song - na qual o grupo surgiu com o palco coberto por um enorme pano com o logotipo do SoaD -, foi seguida por B.Y.O.B. (um dos momentos 'todos cantam' do show), Revenga, Needles e Deer Dance.

Apesar do grupo ser conhecido pelas visões políticas e sociais das letras de suas canções, em São Paulo o SoaD preferiu não fazer um longo discurso. Serj Tankian limitou-se apenas a comentários um pouco confusos enquanto Malakian dedilhava notas na guitarra, carregadas de efeitos. Segundo ele, fazemos parte de um século que 'mata muita gente' com guerras e que 'apoia a comunidade indígena do Brasil contra o predomínio dos desenvolvimentos desnecessários que estão sendo feitos'. Seriam sobre as obras do País para a Copa do Mundo e Olimpíadas como prioridades à frente de outras medidas mais urgentes?

No mais, o vocalista se preocupou em cantar, tocar violão em Question!, teclados e guitarra nas músicas em que Daron Malakian assumia os vocais principais. Tanto a postura de palco quanto o visual de Tankian contrastam com o de seus companheiros: o frontman fazia trejeitos com os braços no ar e trajava uma camisa de botões branca, ao contrário de seus companheiros, que se igualavam às centenas de camisetas pretas na plateia. Se no rock pesado é mandatório fazer cara de malvado, Tankian quebra esse paradigma no palco, parecendo mais um tiozinho amigável com um cavanhaque estranho.

O público - 25 mil pessoas, de acordo com a assessoria do evento - agitou mais durante os hits Hypnotyze, Chop Suey!, Aerials, Toxicity e no final, com Sugar, que foi emendada numa barulheira apoteótica para marcar a despedida do grupo. A plateia ainda esperou um tempo para ver se aconteceria um bis, mas ele não veio. Por mais que o SoaD tenha tocado tantas músicas, o ritmo nonstop do show deixou muitos fãs querendo mais. E se a banda resolver oficializar a volta com um disco de composições inéditas, ficou mais do que provado que ainda possui um público para prestigiá-lo.

Setlist do show:

01 – Prison Song
02 – Soldier Side - Intro / B.Y.O.B.
03 – Revenga
04 – Needles
05 – Deer Dance
06 – Radio/Video
07 – Hypnotyze
08 – Question!
09 – Suggestions
10 – Psycho
11 – Chop Suey!
12 – Lonely Day
13 – Bounce
14 – Lost In Hollywood
15 – Kill Rock ‘N’ Roll
16 – Forest
17 – Science
18 – Mind
19 – Innervision
20 – Holy Mountains
21 – Aerials
22 – Vicinity of Obscenity
23 – Tentative
24 – Cigaro
25 – Suite-Pee
26 – War?
27 – Toxicity
28 - Sugar

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Rappa volta aos palcos depois de pausa de dois anos e ensaia disco novo

*Matéria originalmente publicada no Portal Vírgula.


O Rappa anunciou a volta aos palcos, depois de um recesso de quase dois anos. O grupo, formado por Marcelo Falcão (voz), Xandão Menezes (guitarra), Lauro Farias (baixo) e Marcelo Lobato (teclados e baterias), está ensaiando para uma turnê de sete shows entre outubro e fevereiro de 2012. A banda pretende excursionar com o show do disco Rappa - Ao Vivo, que lançou no ano passado, e as apresentações servirão de aquecimento para a gravação do próximo álbum, que deve sair somente em 2012.

Falcão e companhia anunciaram a pausa em dezembro de 2009, alegando que não interromperiam os trabalhos com a música e que a pausa seria para o corpo, não para a mente. Neste período, os membros do grupo tocaram seus projetos paralelos: Falcão com os Loucomotivos, Lobato com o ÁfrikaGumbe, Xandão com o Caroçu e Lauro com os Mens.

Meio que para compensar a ausência no cenário da música brasileira, O Rappa lançou em junho do ano passado o DVD O Rappa - Ao Vivo, gravado na Rocinha, no Rio de Janeiro, no dia 23 de agosto de 2009. O registro, que saiu também em formato CD, tem 25 músicas de toda a carreira da banda, incluindo canções do primeiro disco de 1994 até o álbum Sete Vezes, que saiu em 2008.

Em entrevista ao Virgula Música, a banda explica melhor o que rolou de verdade para que fosse planejada essa parada na carreira da banda, como estão os preparativos para o próximo disco e mais. Leia abaixo.

Virgula Música - Vocês anunciaram a pausa nas atividades há quase dois anos. Qual foi o motivo dessa parada?

Falcão: A ideia era que estávamos fazendo a turnê do Sete Vezes e quando já estávamos para completar um ano na estrada, resolvemos fazer o DVD do show na Favela da Rocinha. Mas depois disso, já estávamos cansados. Com todos os discos conseguimos aceitar legal a pressão de cair na estrada. Só que o acúmulo de todas essas experiências juntas acabaria dando uma colisão, um cansaço, um momento de fragilidade. Nossa relação com o empresário na época não estava muito legal e isso desgastou os quatro membros do grupo, tanto que mudamos de representante. Uma vez que fosse feito o DVD da Rocinha, ele ficaria ali para nos representar enquanto déssemos essa parada para respirar. E em 2010, estávamos cheios de coisas para resolver, então nada mais justo do que parar de acelerar. Eu dei um toque no pessoal. "Galera, faltam quatro meses para terminar o ano, vamos marcar show até dia 30 de dezembro e depois cada um vai cuidar da sua parada pessoal e dar um alívio na cara de cada um". Por mais que eu tivesse sonhado a vida toda fazer shows, os últimos estavam bem cansativos e desgastantes. Mas acho que tudo conspirava para que fosse legal essa pausa, esse descanso.

Virgula Música - De onde surgiu a ideia de fazer o DVD na Favela da Rocinha?

Falcão: Teve todo um esquema com a prefeitura pra poder ir pra lá. O lugar era um depósito de ônibus antigo que agora se transformou em duas pistas para a comunidade. Daí a comunidade pediu esse show e agendamos e fizemos. Estávamos exaustos, mas tiramos forças de onde não tinha e fizemos um belo DVD, deixamos esse registro para avisar a essa comunidade que eles seriam conhecidos no mundo. Serviu também para esse pessoal que ainda tem esse 'medo do Rio de Janeiro' ter a oportunidade de ir dentro da Rocinha de uma maneira diferente, com o Rappa junto. Hoje tenho dois lugares maravilhosos para curtir no Rio, que é a Lapa – que está uma multidão fervente de quarta a sábado – e a Rocinha. Só que a Lapa é plana, então poucos tem coragem de curar a ressaca na ladeira da Rocinha (risos).

Virgula Música - Durante essa parada, você também intensificou suas ligações com São Paulo, certo?

Falcão: São Paulo era um lugar a ser conquistado, isso aconteceu e eu sou muito grato por isso. Hoje em dia eu moro em São Paulo e Rio. Quando o calor do Rio tá me enjoando, pergunto se está frio em São Paulo e venho pra cá (risos).

Virgula Música - O que você fez durante esses seis meses que O Rappa deu esse descanso?

Falcão: Fiquei um tempo no estúdio fazendo umas coisas, estou com uma enxurrada de músicas. O Laurinho [Lauro, baixista] ouviu. Tô com um caminhão de material. Estou muito feliz de ter me permitido fazer isso. Sou um cara meio 'síndrome de Jô Soares', só vou dormir às 5 da manhã, não tem jeito. E eu fiz minha vida bem produtiva no estúdio, tô com bastante coisa. Essa retomada é um presente a quem nos aguardou com tanto respeito e amor. Mas ao mesmo tempo teve gente que não tinha muita noção que tínhamos parado. Às vezes me encontravam em vôo entre Rio e São Paulo e perguntavam "onde foi o show ontem?" e eu respondia "não, não teve show ontem não" (risos). Eu até brinco um pouco com o pessoal que foi algo meio de premonição, porque eu acho que se a gente insistisse um pouco mais naquele final de turnê, com aquela pressão de querer saber ser melhor na internet e não saber como e essa história de empresário nos fez bem e mal. Tudo que tenho na vida eu devo ao Rappa, mas tenho meus projetos paralelos. Tenho um disco solo quase pronto, mas na minha cabeça eu penso como o Herbert Vianna falava do Paralamas do Sucesso: posso fazer meu disco solo, mas nunca vou sair do Paralamas. Acho isso bem bacana. Então a ideia é a gente fazer um disco novo, arrebentar com ele e depois eu fazer a minha parada. Fiz músicas pensando no Rappa e fiz coisas para mim também.

Virgula Música - E como você fez essa triagem para o trabalho d'O Rappa e o solo?

Falcão: Ah cara, acho que tem alguma coisa dentro do meu coração que surge e diz "isso aqui eu quero mostrar para todo mundo e isso aqui eu ainda tenho que dar uma melhorada". É o meu próprio senso crítico. Mas eu tenho uns 9 monstros dos quais estou muito orgulhoso de fazer. Eu aproveitei para viver muita coisa, já fui pra Cuba, fui ver festivais em Amsterdã, fui pra Inglaterra, Portugal... Fiquei viajando esse ano todo tocando com o Locomotiva, Bino, Liminha e BNegão, conhecendo e mostrando muita coisa para outras pessoas fora d'O Rappa. Nesse esquema cheguei a mostrar algumas coisas que gravei para outras pessoas, como o Liminha, mas sem falar que fui eu que fiz e recebi elogios. Pessoal perguntava o que era e eu só falava: "ah isso aí é uma música de uma banda muito doida" (risos). E pensava: que legal, imagina mostrar isso para os outros três d'O Rappa depois. Daí, vou brincando assim porque acho que vai dando um termômetro mais verdadeiro.

Virgula Música - E o material pr'O Rappa, em que pé está? Vocês já tem uma lista de músicas definida para um novo disco?

Falcão: Tem coisas que tenho só letras, outras tenho músicas, e outras música e letra. O Lobato está com bastante coisa e eu também, então sei que precisamos de um tempo para ouvir tudo. Acho que esse caminho de parar foi bom, porque tem uma porrada de coisas que eu começava a fazer na segunda e na terça mas na quarta tinha que viajar pra fazer show. Com a parada, fiquei de janeiro a março viajando e fui me enchendo de informação e coisas maneiras e comecei a abrir a torneira da criatividade. Acho legal a gente ter feito isso para poder ter essa postura de não imaginar como o disco vai ser, apesar de já termos uma espinha dorsal do trabalho, ela é só um pedaço do que os outros vão mostrar. Isso dá garantia pra gente.

Xandão: Temos apenas embriões mas que com certeza vamos usar. Mesmo que sejam de baixa qualidade de gravação.

Falcão: Tem coisas que estão gravadas comigo que eu quero que seja aquela sujeira ali. Se der uma limpezinha eu já vou falar "porra, não era isso" (risos).

Xandão: Mas nesses 18 anos cada um conseguiu ter o seu estudiozinho para gravar. Talvez até nos próximos discos a gente traga o disco já pronto pra gravadora. Pela história da época que viemos, era muito difícil gravar em casa e ter bons recursos. Hoje em dia é muito fácil. A qualidade é uma coisa muito relativa; eu digo isso como produtor. Agora a gente percebe muitas pessoas procurando aquele sonzinho feio, que era uma coisa que a gente já fazia tempos atrás, mas porque não tinha equipamento. Pra gente sempre foi uma refência que chamamos de cariri, de sarará, as coisas de baixa tecnologia e baixa qualidade. Isso sempre foi uma marca nossa. Tenho quase certeza que quando chegarmos no estúdio vai ser aquela coisa do "tem um chiado", mas é isso que é bom. "Isso é feio". Não, é bom! (risos). O que importa é a nossa verdade.

Virgula Música – A banda então não tem uma data específica para entrar em estúdio? A gravadora não pressiona por um novo disco?

Xandão: Não, temos nosso ritmo e a gravadora sabe que temos uma melhor ideia de trabalhar isso tudo. Não é só simplesmente agendar estúdio e começar a gravar. Queremos primeiro fazer esses shows, talvez até podemos tocar uma coisa ou outra do material novo. Só não queremos nos sentir repetindo o que a gente já fez no estúdio.

Falcão: Quando você não ousa, não arrisca muito. Eu acho que em todo disco sempre buscamos colocar uma coisa diferente do anterior. Mas de uma forma que o disco tenha uma unidade, mesmo que precise demorar um tempo mais pra fazer pra ele ficar bom. Essa é uma tranquilidade que temos com a gravadora, porque no passado tivemos pressão sobre isso, do tipo “data tal tem que ter o disco” e falamos “não, não vai ter”, tem que fazer show e fazer disco. Aí ficávamos over, com aquela coisa de gravação, show, beber, viajar... Com o tempo você percebe que se você não se preservar, não vai rolar.

Virgula Música - Nesses dois anos em que O Rappa deu uma estacionada, mudou muita coisa no panorama da música nacional, principalmente por conta da internet. Como vocês enxergam tudo isso?

Falcão: O que o pop rock era, mudou. O que era o pop rock há quatro ou cinco anos é o que é o sertanejo agora. A força que a galera do rock tinha é mais ou menos o que o sertanejo é hoje. O que eu vejo no pop rock mundial é que quando falta criatividade, busca-se ficar mais próximo do que está dando certo lá fora. Quando isso não é verdadeiro, não adianta imitar o Rappa, o Charlie Brown Jr, o Paralamas, que o cara vai ser reconhecido ali mas logo depois vai ser comparado. A galera tiraria mais vantagem se ousasse mais, e isso que vai dar longevidade ao pop rock ou a qualquer outro estilo musical. Se o cara se apegou a uma história, hoje ele deve estar meio preocupado, tipo "o que eu vou fazer?". Ficar só naquela de rock'n'roll puro, reggae puro, eletrônico puro, vai colidir com o gosto do pessoal que procura coisas diferentes. Vai ter aquele público que vai perceber que ali tem um chocalho a mais, um cowbell, um rock com eletrônico.

Virgula Música - O que está inspirando O Rappa na parte de letras?

Falcão: O Brasil me deixa muito inspirado. Ainda temos aquela história do 'somos o melhor país do mundo'. Somos mesmo. Em outros países temos essa coisa das bombas, das guerras, etc. Aqui temos isso em alguns lugares, mas em uma escala interna. Falam bastante do Rio de Janeiro, que dá motivo, mas também temos isso em São Paulo, em Recife. Criam situações que fazem com que eu queira passar uma mensagem para uma galera que talvez não tenha discernimento nessa questão. Mas também temos um outro tipo de guerra que é a que vai sedando a gente. Os 400 caras sentados no senado estão ali minando a nossa força. Temos que acreditar que os que virão depois serão melhores, que nem todos que estão ali são ruins. Vivemos em um país onde matam uma juíza, cara. E isso não podemos permitir, então parte do que fazemos com ações sociais vem de uma tentativa de mudar o que está errado e alertar os outros, mas sem levantar uma bandeira.

Virgula Música - Vocês tem esse cunho social nas letras. Como vocês acham que vai ser a receptividade a isso nessa nova era de redes sociais, na qual tem mais informação do que conscientização?

Falcão: Nós queremos fazer de uma forma que desperte as opiniões das pessoas que escutam o nosso som. A ideia é justamente essa, explorar esse mecanismo que a rede tem de colocar ali na mão, nos dedos das pessoas pra escrever sobre aquilo e promover o debate.

Xandão: E isso não serve só para o debate social; agora serve pra música. Imagina, é até melhor porque você pode escrever exatamente pro teu público. Não é aquela coisa de você lançar uma música e o teu disco ser resenhado por um crítico de uns 60 anos que nunca viveu aquilo que você está escrevendo e vem falar mal.

Falcão: Eu acho que tem é que aparecer mais gente com coragem para criticar esse tipo de coisa que fazem com o nosso País.

Virgula Música - Não seria um tipo de ativismo? Ou vocês estão querendo fazer a sua parte?

Xandão: Não, passa muito longe de ativismo. É simplesmente você perceber essas coisas que estão acontecendo e botar isso pra fora. Você vê aí governo censurando imprensa como aconteceu na época da ditadura, e o mais estranho é que isso acontece por um governo que se dizia de esquerda. Pra você ver a que ponto as coisas estão...

Falcão: Quando aparecem críticas ao governo, mesmo aquelas que são de sacanagem e bem-humoradas, eu me vejo ali. Eu enxergo uma pontinha do que eu queria falar pra essas pessoas que botam o País pra baixo. Então eu acho isso muito importante, valorizo até essas ‘pontadinhas’ humorísticas. A pessoa não deixa de fazer sua parte.