quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Planeta Terra - Perfil de Beck

*Matéria originalmente publicada no Yahoo! OMG.


Mais de dez anos se passaram desde que Beck Hansen veio ao Brasil para subir ao palco do Rock in Rio 2001. Desta vez, o músico chega ao país como uma das atrações do Planeta Terra 2013, que acontece no dia 9 de novembro, no Campo de Marte, em São Paulo.

Promovendo uma colagem sonora de estilos musicais, como folk, funk, soul, hip hop, rock alternativo, country e psicodelia com letras irônicas, arranjos modernos incorporando samples, baterias eletrônicas, instrumentação ao vivo e efeitos, Beck é aclamado por crítica e público como um dos mais criativos e idiossincráticos músicos da década de 1990 e 2000. Ao longo de uma carreira de mais de 20 anos, Beck lançou 11 álbuns de estúdio, além de vários singles, projetos paralelos e um livro de partituras.

Beck Hansen nasceu em 8 de julho de 1970, em Los Angeles. Com uma família de artistas - ele é filho da atriz Bibbe Hansen e do músico David Campell - o jovem Beck cresceu num ambiente que incentivava o seu interesse pelas artes e claro, por música, especialmente folk e blues. Aos 14 anos, Beck acompanhou o surgimento da cena hip hop de Los Angeles. Algum tempo depois, Beck passou a morar com seus avós no Kansas, onde seu avô era um pastor da igreja presbiteriana. Em seguida, ele passou um tempo na Europa com seu outro avô, o também artista Al Hansen. Nessa época, Beck tocava violão com influência de blues do Mississippi, com letras improvisadas.

Beck saiu da escola aos 16 anos e resolveu se mudar para Nova Iorque, já decidido a seguir na música. Naqueles tempos, surgia no East Village um movimento underground chamado anti-folk, que combinava a sonoridade folk com a estética e atitude do punk. Beck foi fortemente influenciado por esta cena, embora não tenha se firmado nela. Por volta de 1990, ele estava de volta a Los Angeles, onde passou a se apresentar em bares e festas. A esta altura, a música de Beck refletia todos os estilos a que ele havia sido exposto: do folk ao blues, de hinos presbiterianos ao hip hop de rua, além de punk com letras de improviso.

Um exemplo de sua ainda nascente carreira musical é o single controverso "MTV Makes Me Want to Smoke Crack" para a gravadora independente Bong Load Custom Records. A tiragem era limitadíssima e os objetivos, além de registrar o seu trabalho, eram puramente promocionais e não comerciais. Nessa época, Beck seguia um estilo de vida totalmente durango, vivendo em um galpão infestado de ratos e trabalhando em uma locadora de vídeo onde separava as fitas da seção de filmes pornográficos em ordem alfabética por um baixo salário.



Os dois primeiros álbuns, Golden Feelings (1993), e Stereopathetic Soulmanure (1994) foram lançados em fita cassete e com esquema de gravação caseira. Os dois trabalhos foram relançados mais tarde por uma gravadora maior, na esteira do sucesso do single "Loser", a música que iria mudar a carreira de Beck para sempre.

Produzida pelo próprio Beck e o produtor de hip-hop Karl Stephenson, em muito pouco tempo "Loser" se tornou popular nos circuitos alternativos de Los Angeles. Com isso, Beck e seu hit instantâneo passaram a ser disputados pelas grandes gravadoras. A DGC levou a melhor e no início de 1994 veio Mellow Gold, considerado seu verdadeiro álbum de estréia, contendo "Loser" como principal single. A música foi considerada pela crítica músical como um hino da chamada 'geração x'.

Ainda em 94, Beck também lançou pelo selo independente K Records o disco One Foot In The Grave, com a participação de Calvin Johnson (vocalista da banda indie Beat Happening). O álbum foi gravado antes de Mellow Gold e traz uma sonoridade folk rústica e produção lo-fi, bem diferente dos álbuns que Beck lançaria pela sua principal gravadora.

O segundo disco pela DGC saiu somente em 1996. Odelay teve a produção dos Dust Brothers e conseguiu um resultado ainda mais harmonioso e explosivo da mistura bizarra do som de Mellow Gold. Odelay apresenta colagens de diferentes referências, unindo bossa nova (existe um sample de "Desafinado" de João Gilberto na faixa "Readymade") com rock, country, folk e rap. O disco produziu singles de sucesso, como "Where It's At", "Devils Haircut" e "The New Pollution", vendendo mais de 2 milhões de cópias nos Estados Unidos e alcançando o 16º lugar na parada Billboard 200.

Em 1998, veio Mutations, que não alcançou tanta popularidade quanto o anterior, mas que rendeu o Grammy de melhor álbum de música alternativa para o cantor. Mutations era um disco bem menos híbrido que os trabalhos anteriores, sendo mais concentrado na influência folk. Foi a primeira vez que Beck entrou em estúdio com uma banda de apoio, ao contrário do que acontecia antes, quando o cantor contava com participações especiais e músicos contratados.

Em 1999, chegou Midnite Vultures, um álbum de influência de soul music e letras bem humoradas. Neste registro, Beck explora mais o alcance de sua voz, recheando as canções com agudos e falsetes. Midnite Vultures também não repetiu o mesmo sucesso dos álbuns anteriores, mas rendeu uma enorme turnê mundial, que passou pelo Brasil em 2001 durante o Rock In Rio 3.

Em 2002, Beck voltou ao topo das paradas com Sea Change. O disco foi recebido com entusiasmo pela crítica, e mostra mais uma mudança de direção: melodias introspectivas, com influência do folk britânico e melancólico de Nick Drake. As faixas misturam a simplicidade de temas acústicos com belos arranjos de cordas e discretos efeitos eletrônicos. O disco rendeu os singles "Lost Cause" e "Guess I'm Doing Fine". Para a turnê de divulgação de Sea Change, Beck contou com um reforço notável: os malucos do Flaming Lips. Além de banda de abertura, o Flaming Lips tornou-se também a banda de apoio do artista.

Com Guero, lançado em 2005, o músico voltou a se aproximar do estilo musical de Odelay, mais uma vez com a produção dos Dust Brothers e com canções baseadas em samples. Jack White, (na época do badalado White Stripes) participou de uma faixa, mas o tom do disco é mesmo o caldeirão sonoro de Odelay. Trazendo faixas como "E-Pro", "Girl" e "Hell Yes", o álbum também caiu nas graças da crítica e do público.

The Information (2006) foi inspirado pelo hip hop, trazendo singles como "Think I'm in Love", "Cellphone's Dead" e "Nausea", além da 7ª posição na Billboard 200 e o título de 24º melhor álbum do ano pela revista Rolling Stone americana. Em 2008, Beck apareceu com mais uma mudança no som, focando Modern Guilt nas influências dos anos 60. O disco trazia canções como "Gamma Ray", "Chemtrails" e "Youthless" e foi classificado como o 8º melhor do ano pela Rolling Stone.

Depois de uma pausa nas atividades e turnês, Beck dedicou-se a projetos mais intimistas, como o Record Club, no qual ele e outros músicos tinham o propósito de regravar álbuns considerados clássicos em apenas um dia. Até o presente momento, o Record Club realizou versões de álbuns de Velvet Underground, Leonard Cohen, Skip Spence, INXS e Yanni.

No verão de 2013, Beck disse estar trabalhando em dois novos álbuns de estúdio: um disco acústico na veia de One Foot in the Grave e outro descrito como uma sequência para Modern Guilt. Em outubro de 2013, foi anunciado que Beck assinou um novo contrato com a Capitol Records e planeja lançar um novo álbum, chamado Morning Phase, em fevereiro de 2014.

Beck
Discografia: Golden Feelings (1993), Stereopathetic Soulmanure (1994), Mellow Gold (1994), One Foot in the Grave (1994), Odelay (1996), Mutations (1998), Midnite Vultures (1999), Sea Change (2002), Guero (2005), The Information (2006), Modern Guilt (2008).

Curiosidade:
Beck é fã assumido da música brasileira, tanto que o título do álbum Mutations seria uma referência aos Mutantes e a música "Tropicalia" uma homenagem ao movimento de mesmo nome. Em 2011, ele colaborou com Seu Jorge em uma faixa intitulada "Tropicália (Mario C 2011 Remix)" para um álbum da iniciativa beneficente Red Hot Organization.

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