quarta-feira, 13 de junho de 2012

Puscifer no Olympia Theater, em Miami


Alguma vez já foi a um concerto sem esperar muita coisa e ele acabou sendo um dos melhores shows que você já viu? Foi justamente essa sensação que tive ontem, quando resolvi checar a apresentação do Puscifer no Olympia Theater, aqui em Miami. Já fui grande admirador das principais bandas do vocalista Maynard James Keenan - Tool e A Perfect Circle -, mas nunca liguei muito para o Puscifer. Talvez porque minha primeira impressão do projeto tenha sido a satírica "Cuntry Boner", e por causa dela fiquei com a ideia de que o grupo fosse apenas uma piada em formato de banda, mais ou menos nos moldes do Sebastião Estiva. Mas assim que soube do show na cidade, ouvi os discos com calma e percebi que não era exatamente isso. Apesar de ter gostado bastante do álbum mais recente, Conditions of My Parole, não tinha criado muita expectativa para ver ao vivo. Mas meio que para 'cumprir tabela', acabei comprando o ingresso uma semana antes do show.

Como a equipe do Olympia Theater já estava barrando qualquer pessoa que chegasse com câmeras na entrada, resolvi simplesmente assistir à apresentação como telespectador e não como jornalista – coisa que eu não fazia há algum tempo. Ver o show sem a preocupação de fazer anotações, tirar fotos boas ou fazer vídeos acabou sendo a melhor coisa possível, pois acabei descobrindo que o aspecto visual do Puscifer não devia nada a espetáculos como o do Radiohead e do próprio Tool. Ao vivo, dá para perceber que este não é um projeto paralelo qualquer; o Puscifer é a faceta artística de Keenan elevada até as últimas consequências, misturando música, humor, atuação, sacadas inteligentes e referências obscuras com um apelo visual impressionante.


A apresentação começa com um mockumentary de cerca de 20 minutos sobre uma banda fictícia de punk rock country, liderada pelo alcoólatra Billy D (o próprio Maynard, de peruca, bigode, óculos e forçando sotaque do Arizona) e Hildy (a atriz Laura Milligan, também fazendo uma caipira no melhor estilo Dolly Parton). Com o fim do filme, Maynard reaparece no telão encarnando um novo personagem: o canastrão Major Dufresne. Ao final de um discurso conservador caricato, o major reitera que não seria permitido gravar ou tirar fotos da apresentação. Sim senhor...

Vestido com um sobretudo de couro preto e um chapéu branco de caubói, o vocalista surge no palco, puxando sozinho um daqueles típicos trailers americanos. Ao estacioná-lo do lado esquerdo do palco, o Keenan começou a recitar um monólogo que versava sobre sustentabilidade, arte e pensamento livre (calma, não deu tempo de ser chato). Enquanto falava, Maynard retirava algumas peças do trailer e montava sozinho o cenário no palco, usando cadeiras, mesas de piquenique e uma churrasqueira com uma chama falsa. Ele então convocou Carina Round, que apareceu com figuras de papelão em tamanho real da Princesa Leia de Star Wars e de Popcorn Sutton (um falecido contrabandista de bebidas, famoso por sempre escapar das autoridades). O toque final da preparação foi uma garrafa de vinho – provavelmente da marca Caduceus, produzido pela adega do próprio Maynard -, servido em taças que ficaram à disposição de outros membros da banda – o baixista Matt McJunkins, o guitarrista Mat Mitchell e o tecladista Josh Eustis -, convidados ao palco para formar um "círculo hippie", pelas palavras do próprio cantor.


Talvez a única semelhança do seu papel no Tool foi que Maynard também optou por não ser um frontman ao pé da letra; Keenan se limitava a ficar ao fundo, na parte escura do palco, entre Carina Round e a plataforma do baterista Jeff Freidl. Ao iniciar o show com a singela "Green Valley", Maynard e Carina formavam uma bela dupla de vocalistas, cantando harmonias e alternando danças que tinham alguma coreografia, e bem estranha. Em alguns momentos, visivelmente empolgada pela música, Carina tirava os sapatos de salto, esticava as pernas e se abaixava em um misto de movimentos sensuais e espasmódicos, sem se preocupar se seu vestido revelava mais do que deveria. Ainda assim, ela não expressava vulgaridade ao dançar músicas sugestivas como "Vagina Mine", "Dozo" e "Toma"; Carina parecia estar em pleno transe com os ritmos e nuances desenvolvidas ao redor.

O telão simples no fundo do palco provou ser uma peça importante do show, mostrando pequenas vinhetas satíricas entre os números e reforçando os climas das canções. Em "Oceans", o telão protagonizou um dos momentos mais bonitos da apresentação. Com quase todas as luzes do palco apagadas, a tela recebeu total destaque enquanto mostrava imagens sincronizadas com o andamento e efeitos eletrônicos da música. A mesma química se repetiu durante "Monsoons" e "Horizons", e em seguida o Puscifer assumiu sua faceta mais roqueira, com o semihit "Conditions of My Parole". Depois de intercalar suspense e peso com "Man Overboard", a banda chegou ao fim do show com versões matadoras de "Telling Ghosts" e "The Undertaker", deixando o público boquiaberto.


Mas a noite ainda contou com um bis. "Isso é o que fazemos ao invés de deixar o palco", disse Maynard, sentando na mesa de piquenique com o resto da banda, enquanto servia mais taças de vinho. "Somos preguiçosos demais para sair e fazer uma volta triunfal. Finjam que saímos do palco e não estamos aqui. Voltaremos quando vocês aplaudirem bastante". A plateia, lógico, respondeu à altura, e Carina Round pegou um banjo para puxar a saideira. "Tumbleweed" veio simples e acústica, acompanhada por três violões. Era isso: um show que atingiu proporções gigantescas minutos atrás chegava ao desfecho com uma despedida intimista e pé no chão.

*todas as imagens por Sayre Berman retiradas daqui. As fotos não fazem jus ao espetáculo visual do show, mas sempre tem algum ninja que consegue gravar alguma coisa com o celular. Vasculhando no youtube, achei esse vídeo de uma outra apresentação do Puscifer e coloco aqui para dar uma ideia do drama:



Setlist

The Green Valley
Tiny Monsters
Vagina Mine
Dozo
Toma
The Rapture (Fear is a Mind Killa Mix)
The Weaver
Rev 22:20
Potions
Momma Sed
Oceans
Monsoons
Horizons
Conditions of My Parole
Man Overboard
Telling Ghosts
The Undertaker

Bis:
Tumbleweed

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