*Resenha originalmente publicada no Urbanaque.
O show de Jon Spencer Blues Explosion na última quinta-feira (28/07) em São Paulo tinha tudo para ser uma reunião de saudosistas da década de 90: o público era formado basicamente por roqueiros na casa dos trinta e poucos anos que acompanhavam os clipes do grupo pelo extinto programa Lado B, da MTV.
A emissora estava devidamente representada no local do show por dois logotipos luminosos fixados nas paredes e, como se não bastasse, volta e meia era anunciado no microfone que o evento era um oferecimento da MTV.
Além disso, não era difícil ver na platéia os ex-VJs Gastão Moreira e Fabio Massari circulando e conversando com amigos. Estes fatores poderiam criar um clima ‘baile da saudade’ que se torna cada vez mais típico em apresentações de bandas gringas em solo brasileiro. O país virou uma mina de ouro para grupos recém-reformados para apresentações quase cadavéricas e calcadas em hits para fãs que buscam recuperar o tempo perdido. Mas este não foi o caso de Jon Spencer e cia.
A banda subiu ao palco por volta das 23h30, e a apresentação contrastou totalmente com o clima almofadinha do Bourbon Street – a casa está acostumada a receber shows de artistas ‘comportados’ de jazz ou blues. Mas a atração da noite provou que a característica ‘blues’ é mais marcante somente no nome, fazendo um show de rock ‘n’ roll frenético.
Seguindo a receita do início da carreira dos Ramones – show relâmpago em um ritmo incessante para deixar os fãs atordoados –, o Jon Spencer Blues Explosion fez uma apresentação tão urgente que às vezes era difícil saber ao certo qual música estava sendo tocada. Ao final de uma canção, outra era emendada quase que instantaneamente. No final das contas, o que se pôde ver e ouvir foi uma sucessão de medleys, como se a banda tivesse imposto o desafio de tocar o maior número de músicas possível. Em certa altura do show, lembro de olhar para o relógio e verificar que havia se passado apenas 30 minutos desde o início da apresentação, mas parecia que Jon Spencer e seus comparsas já tinham tocado pelo menos 15 números.
Era impressionante a massa sonora que duas guitarras e uma bateria faziam no palco, combinadas em alguns momentos com gaitas, e um theremin colocado estrategicamente no canto direito do palco. O performático vocalista abusava de seus trejeitos – que oscilam em torno de uma mistura de Elvis, Mick Jagger e Iggy Pop empunhando uma guitarra – e o baterista Russel Simins tocava como se sua vida dependesse da intensidade de suas batidas com as baquetas. Até mesmo o guitarrista Judah Bauer, conhecido por ter uma performance mais reservada, também não ficou parado ao tocar solos que fundem garage rock com blues, funk tradicional e punk rock.
Depois de passar por porradas como “Dang!”, “Fuck Shit Up”, “Blues X Man” e “Money Rock N Roll”, a banda saiu de palco deixando um som irritante de theremin para sacanear a audição do público. Um tempo depois, a banda voltou para um bis matador, emendando “Son of Sam”, “Wail”, “She Said” e “Bellbottoms”. Ao final da apresentação, só restava à plateia pegar uma cerveja no bar antes de voltar para casa com um sorriso no rosto e um zumbido no ouvido.
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